Victor Nunes
Mercado Financeiro

Segurança e riscos dos investimentos em Renda Fixa

Conforme dito nos artigos das quatro últimas semanas, o rendimento contratado para um título de Renda Fixa depende de algumas condições.

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15 de fevereiro de 2023
Vinicius Palermo
Segurança e riscos dos investimentos em Renda Fixa
Várias condições impactam no rendimento da Renda Fixa.

Conforme especificado nos artigos das quatro últimas semanas, o rendimento contratado para um título de renda fixa depende de condições que variam de papel para papel, de prazo para prazo e de emissor para emissor, dentre outras variáveis, que também podem impactar as taxas de juros do mercado, sendo que, usualmente, os investimentos em renda fixa ofertam remunerações baseadas em alguns indicadores de referência, caracterizando as operações de renda fixa pós-fixadas, com destaque para: (1) a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia); (2) a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro); e (3) a variação do IPCA, que é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, apurado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; assim como, em complemento, os investimentos em renda fixa podem ofertar remunerações prefixadas, tais como, por exemplo, remuneração de 10% ao ano, 12% ao ano ou 14% ao ano.

De fato, existe uma ampla variedade de alternativas de investimento em renda fixa, tanto com relação às formas de remuneração, quanto com relação aos títulos disponíveis no mercado, sendo que o segmento pode ser considerado a mais relevante categoria de investimento, uma vez que reúne diversos produtos diferentes, com destaque para os seguintes principais tipos de investimento em renda fixa, destacados nos dois artigos mais recentes: (1) Títulos Públicos; (2) Caderneta de Poupança; (3) CDBs (Certificados de Depósitos Bancários); (4) debêntures; (5) LCIs (Letras de Crédito Imobiliário); (6) LCAs – Letras de Crédito do Agronegócio; (7) LIGs (Letras Imobiliária Garantida); (8) CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários); e (9) CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).

Embora sejam aplicações mais previsíveis do que as de renda variável, os investimentos em renda fixa não são livres de riscos. O mais evidente deles é o risco de crédito, que envolve a possibilidade de perdas causadas pela incapacidade financeira da empresa emissora do título em honrar os compromissos de pagamento de juros ou de amortização ou resgate do principal nas datas previamente contratadas. De fato, todas as aplicações de renda fixa estão sujeitas, em maior ou em menor grau, ao risco de crédito, cabendo destacar, por oportuno, que é possível mitigar este risco escolhendo, por exemplo, papéis emitidos por empresas com um “rating” – nota de risco de crédito atribuída por agências especializadas – elevado.

Neste contexto, um emissor de um título de crédito classificado com um “rating” “AAA” (também conhecido como “triple A”) apresenta, em tese, um risco menor do que outro emissor de um título de crédito classificado com um “rating” “AA” ou “A”, e estes, ainda, por sua vez, apresentam um risco menor do que um emissor de um título de crédito classificado com um “rating” “B”. Em adição, também são considerados mais seguros os títulos de renda fixa que possuam proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

Outro risco, também presente nos investimentos de renda fixa, é o denominado risco de mercado – ou seja, o risco de que as condições do mercado afetem o valor dos papéis. Este risco é mais alto nos ativos com taxas de remuneração prefixadas e ocorre na situação em que o investidor quer ou precisa resgatar os recursos financeiros investidos antes do vencimento.

Neste caso, será necessário vender os papéis pelo valor atual de negociação, no mercado – sendo que esta cotação de momento pode ser mais alta ou mais baixa do que a cotação que foi registrada na época do investimento. Isto pode acontecer porque o rendimento acertado previamente, quando foi realizado o investimento, será efetivamente apurado apenas no caso de a aplicação ser mantida até a data do vencimento, também anteriormente especificada.

Imagine, por exemplo, que a taxa básica de juros tenha subido no período, para um patamar acima do praticado na época em que o investimento foi contratado. Quando isto acontece, os títulos antigos tendem a perder valor – quem, afinal, vai se interessar por um papel que oferece uma taxa de juros mais baixa do que a vigente? Um impacto semelhante ocorre com os títulos de renda fixa prefixados quando a taxa de inflação aumenta. No ajuste, eles perdem valor, já que o retorno real – ao descontar o efeito da alta dos preços da economia – se torna menos interessante.

Investimentos de renda fixa podem estar sujeitos, ainda, ao risco de liquidez, que é o grau de dificuldade para converter uma aplicação em dinheiro vivo. Uma debênture que seja pouco negociada no mercado, por exemplo, tem um risco de liquidez maior do que o de um título público negociado no Tesouro Direto, que normalmente pode ser transacionado com relativa facilidade. O risco de liquidez é uma forma de avaliar em quanto tempo, e sob quais condições, um investidor poderá resgatar ou transferir determinado título ou investimento.

Quanto mais alto é o risco, maior será a chance de perder dinheiro, caso se precise negociar rapidamente. A liquidez, por si só, indica de que forma o investidor consegue transformar um ativo em dinheiro. O resgate de um título público negociado no Tesouro Direto e a venda de uma casa, por exemplo, possuem condições de liquidez completamente diferentes. No primeiro caso, o investidor recebe o dinheiro em até um dia útil, enquanto, no segundo caso, pode levar meses, talvez até anos, para que o investidor possa receber os recursos financeiros de uma alienação de um imóvel.

Existem algumas possíveis classificações sobre a liquidez, que são conhecidas no momento de escolher um determinado investimento. Existem investimentos com liquidez em “D+0” (ou “D0”), caracterizados por uma liquidez imediata, ou seja, os recursos financeiros são recebidos assim que a negociação de venda é concluída. É o caso de alguns CDBs e fundos de investimento; existem outros investimentos com liquidez em “D+1” (ou “D1”), caracterizados por uma liquidez diária, em que o investidor recebe no primeiro dia útil seguinte ao pedido de resgate ou da venda; existem investimentos com liquidez em “D+30” (ou “D30”), caracterizados por uma liquidez em 30 dias corridos; e existem, dentre outros inúmeros casos, investimentos com liquidez no vencimento, caso de diversos investimentos, tais como, por exemplo, CDBs e Letras de Crédito.

Além dos três riscos especificados neste artigo (o risco de crédito, o risco de mercado e o risco de liquidez) existem muitos outros tipos de risco que são aplicáveis aos investimentos do segmento de renda fixa, sendo altamente recomendável que o investidor realize uma criteriosa análise antes de decidir pela realização de uma aplicação no mercado financeiro, qualquer que seja o segmento escolhido.