Victor Nunes
Victor Nunes
Investimentos

Avaliando a taxa de retorno de projetos de investimento (ii)

O método de cálculo da (TIRM) especifica que os fluxos de caixa negativos devem ser trazidos a valor presente, enquanto os fluxos de caixa positivos devem ser levados para o valor futuro, sendo a TIRM a taxa de juros que igualaria estes totalizadores no período.

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03 de abril de 2023
Avaliando a taxa de retorno de projetos de investimento (ii)
Foto: Divulgação

No artigo anterior, foi apresentada a metodologia de avaliação de projetos de investimento denominada “taxa interna de retorno” (TIR), definida como a taxa de desconto que igualaria o Valor Presente Líquido (VPL) de determinado projeto a zero, ou, em outras palavras, a TIR seria a taxa de juros que faria com que o VPL de um projeto de investimento estivesse em equilíbrio, entre o valor presente dos fluxos de caixa positivos em comparação ao valor presente dos fluxos de caixa negativos, resultando, portanto, no citado valor zero do VPL, sendo certo que a expressão “líquido”, caracterizador do VPL, está em referência, exatamente, ao fato de que o “valor presente líquido” se apresentaria como o saldo líquido entre todos os fluxos positivos, deduzidos de todos os fluxos negativos.

Em conclusão, uma vez que se tenha determinada a taxa interna de retorno de um projeto, será possível adotar a seguinte matriz de decisão: (1) se a TIR for maior do que a taxa de mercado (taxa alternativa), então o projeto será financeiramente viável; (2) se a TIR for menor do que a taxa de mercado (taxa alternativa), então o projeto será financeiramente inviável; e (3) se a taxa interna de retorno for igual à taxa de mercado (taxa alternativa), então será financeiramente indiferente investir ou deixar de investir no projeto.

Adicionalmente, também é possível destacar a metodologia de avaliação de projetos de investimento denominada “taxa interna de retorno modificada” (TIRM), que, diferentemente da TIR, levará em consideração o custo de capital do projeto e a taxa de reinvestimento. Desta forma, a TIRM consegue estar, em tese, mais próxima da realidade financeira do investimento analisado.

O método de cálculo da (TIRM) especifica que os fluxos de caixa negativos devem ser trazidos a valor presente, enquanto os fluxos de caixa positivos devem ser levados para o valor futuro, sendo a TIRM a taxa de juros que igualaria estes totalizadores no período.

Os fluxos de caixa negativos (decorrentes dos períodos de investimentos realizados e dos períodos no quais a projeção indique que os recebimentos de caixa serão inferiores aos desembolsos) devem ser descontado pela taxa de juros que represente o efetivo custo de capital do projeto, também denominada como taxa mínima de atratividade (TMA) ou custo médio ponderado de capital (CMPC).

Em oposição, os fluxos de caixa positivos (decorrentes nos períodos no quais a projeção indique que os recebimentos de caixa serão superiores aos desembolsos) devem ser valorizados pela taxa de juros que represente a efetiva taxa de reinvestimento que o projeto pode obter, usualmente, no mercado financeiro.

Note que a TIRM levará em consideração, para os fluxos de caixa negativos, o custo de capital do projeto, o que não ocorre no caso da metodologia da TIR, que desconsidera este custo na análise do projeto. Além disso, a TIR considera que os fluxos de caixa positivos gerados pelo projeto são reinvestidos pela própria TIR. Isto, muitas vezes, não compreende a realidade. No caso da TIRM, será possível considerar a taxa de reinvestimento – normalmente, uma taxa inferior ao CMPC e à TIRM.

Suponha que uma família deseje fazer um investimento num projeto de abertura e exploração de um comércio, utilizando a garagem da casa como loja, o que significaria a necessidade de obras de adaptação do local, além de outros desembolsos diversos.

Após detalhado estudo, a família concluiu que os investimentos atuais necessários somam R$ 10.000,00 e que o fluxo de caixa projetado, considerados recebimentos e desembolsos futuros, indicam os seguintes ganhos anuais: no primeiro ano, R$ 2.000,00; no segundo ano, R$ 1.000,00; no terceiro ano, R$ 5.000,00; no quarto ano, R$ 4.000,00; e no quinto e último ano, R$ 3.000,00. Para realizar este projeto, será necessário retirar os R$ 10.000,00 do investimento inicial de uma aplicação financeira que rende 10,00% ao ano (custo de capital).

Durante os anos do projeto, será possível reinvestir os fluxos positivos a uma de juros de 6% ao ano. Neste caso, o valor presente do fluxo de caixa negativo, verificado na data base (data atual), será idêntico ao valor do fluxo, ou seja, será igual a R$ 10.000,00.

Com relação aos demais fluxos do projeto, todos positivos, deverão ser levados para o valor futuro, neste exemplo, para o valor futuro no quinto ano, ou seja, o valor futuro do fluxo de caixa do quinto ano, no valor de R$ 3.000,00, seria igual a R$ 3.000,00 [3.000.00 x (6,00/100+1) elevado a (5-5)]; o valor futuro do fluxo de caixa do quarto ano, no valor de R$ 4.000,00, seria igual a R$ 4.240,00 [4.000.00 x (6,00/100+1) elevado a (5-4)]; o valor futuro do fluxo de caixa do terceiro ano, no valor de R$ 5.000,00, seria igual a R$ 5.618,00 [5.000.00 x (6,00/100+1) elevado a (5-3)]; o valor futuro do fluxo de caixa do segundo ano, no valor de R$ 1.000,00, seria igual a R$ 1.191,02 [1.000.00 x (6,00/100+1) elevado a (5-2)]; e o valor futuro do fluxo de caixa do primeiro ano, no valor de R$ 2.000,00, seria igual a R$ 2.524,95 [2.000.00 x (6,00/100+1) elevado a (5-1)].

Assim sendo, o valor presente dos fluxos de caixa negativos seria igual a R$ 10.000,00 e o valor futuro, no quinto ano, dos fluxos de caixa positivos seria igual a R$ 16.573,97 [3.000,00 + 4.240,00 + 5.618,00 + 1.191,02 + 2.524,95]. Logo, a TIRM deve igualar o valor presente de R$ 10.000,00 ao valor futuro de R$ 16.573,97 (no quinto ano), ou seja, a TIRM seria igual a aproximadamente 10,63% ao ano [(16.573,97 / 10.000,00 elevado a (1/5)) x 100 -100].

Uma vez que se tenha determinada a taxa interna de retorno modificada de um projeto, será possível adotar a seguinte matriz de decisão: (1) se a TIRM for maior do que a taxa de mercado (taxa alternativa), então o projeto será financeiramente viável; (2) se a TIRM for menor do que a taxa de mercado (taxa alternativa), então o projeto será financeiramente inviável; e (3) se a taxa interna de retorno modificada for igual à taxa de mercado (taxa alternativa), então será financeiramente indiferente investir ou deixar de investir no projeto.