Suellen Escariz
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Pelo mundo

Relações intrafamiliares

O número de divórcios no Brasil atingiu recorde de 386,8 mil em 2021, mostram as Estatísticas do Registro Civil 2021, um aumento de 16,8% em comparação ao ano anterior.

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11 de janeiro de 2024
Vinicius Palermo
Relações intrafamiliares
As estatísticas mostram o aumento no número de casamentos.

Os festejos de fim de ano já passaram, o novo ano já começou. E dos relatos e observações sobre este período, ganha ainda mais força uma conclusão, talvez subjetiva, mas que alguns dados sociais podem contribuir para garantir sua veracidade, de que as famílias (e as pessoas, naturalmente) estão cada vez mais afastadas e há cada vez mais conflitos intrafamiliares.

O número de divórcios no Brasil atingiu recorde de 386,8 mil em 2021, mostram as Estatísticas do Registro Civil 2021, um aumento de 16,8% em comparação ao ano anterior. Por outro lado, as estatísticas também mostram o aumento no número de casamentos. O Brasil contabilizou mais de 932 mil casamentos civis em 2021, o que representa um aumento de 23% em relação a 2020.

E não apenas as relações matrimoniais, mas as demais relações familiares também evidenciam muitas quebras de relacionamento entre irmãos, entre pais e filhos, dentre outras circunstâncias. A filosofia explica que a família pós-moderna é impactada pela lógica do consumo e pelo egocentrismo humano na busca pela própria felicidade.

E são necessários poucos minutos de reflexão para concluir que egocentrismo e felicidade não cabem na mesma frase, salvo se em posições antagônicas. A sociedade caminha com grande (e falsa) convicção de que pode evitar sofrimentos, pode evitar assuntos que não tem interesse, e que também pode evitar pessoas que não dizem aquilo que se quer ouvir. Mas não. Uma vida normal e saudável inclui adversidades e obstáculos a serem superados, entretanto, não inclui distanciamento social permanente, nem falta de convivência interpessoal, especialmente no âmbito familiar.

A família, como base da sociedade, é o ambiente onde nascem as primeiras experiências interpessoais e sociais de um indivíduo, e é natural que eventos traumáticos neste contexto criem uma predisposição a não confiar em outras pessoas e a querer desenvolver uma vida pautada nessa aparente “proteção” que o distanciamento supostamente oferece.

A verdade é que algumas pessoas realmente não são empáticas, tem sempre aquela tia que vai perguntar pelos “namoradinhos”, tem sempre “aquele primo que já descobriu petróleo no quintal antes dos 30 anos”, mas também existem aqueles que incentivam os sonhos, que conseguem se colocar no lugar do outro e oferecer um ombro amigo sem julgamentos. E vale a pena enfrentar o risco, vale a pena manter um diálogo para alcançar o entendimento e até mesmo para aprender e ensinar (para aqueles que estão dispostos a isso).

O distanciamento familiar muitas vezes é causado por algo que foi dito e que gerou mágoa em alguém, mas não se pode pressupor que a outra pessoa o fez por má intenção, e até mesmo se houve má intenção, essa pessoa pode precisar de ajuda. Aquele que expõe segredos alheios evidencia a necessidade de atenção e aceitação; uma pessoa que aponta a “falta de forma” de outra, na verdade, quer se sentir valorizada pela própria forma; são paradoxos que não justificam as atitudes, mas garantem um olhar mais empático, mesmo quando o sofrimento é nosso.

Evidentemente existem casos extremos, onde crimes são cometidos e as pessoas realmente não devem manter contato pela própria integridade física, emocional e patrimonial, mas também existem aqueles casos que mal-entendidos se acumulam e causam um distanciamento que não é saudável para ninguém.

E essa reflexão não serve para justificar erros, mas sim para concluir que todos estão suscetíveis a cometê-los, e quando isso acontece é bom ter quem ajude a consertar. Com mais compreensão e empatia, com menos presunções e desentendimentos, com mais amor e consciência, com menos orgulho e emoção.

No âmbito de uma sociedade líquida, na qual é mais fácil “jogar fora” do que consertar, em muitos casos, um pouco de humildade, boa vontade e amor podem garantir que ninguém tem razão, mas que a família deve prevalecer em paz, corrigindo os erros e aumentando a empatia. Um ambiente familiar saudável é uma base pela qual vale a pena trabalhar e viver.


Suellen Escariz – Advogada e Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra – Instagram