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Congelamento de gastos

Macri diz que governo Fernández foi o pior da história

Durante fórum promovido na capital paulista pela XP, o ex-presidente Mauricio Macri considerou que nenhum outro governo gerou tanta pobreza na Argentina.

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11 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Macri diz que governo Fernández foi o pior da história

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri disse na segunda-feira, 11, que o governo de Alberto Fernández, que passou no domingo (10) o cargo ao atual presidente Javier Milei, foi o “pior da história” do país. Durante fórum promovido na capital paulista pela XP, Macri considerou que nenhum outro governo gerou tanta pobreza na Argentina. Ele também apontou avanço do narcotráfico nos quatro anos de Fernández na Casa Rosada.

Ao citar as medidas a serem tomadas por Milei nos primeiros 100 dias de governo, Macri disse que o congelamento de gastos públicos é a mais importante porque a Argentina precisa recuperar a credibilidade fiscal para voltar a atrair investimentos. “Cortar gastos na Argentina não é questão de ser ou não possível, é necessidade.”

Segundo o ex-presidente argentino, o país sofre de um problema “gravíssimo” de compulsão de gastos, cujo resultado são déficits fiscais que agravam a deterioração do risco país. “Se o risco país não cair, não vamos receber investimentos. Sem investimentos, não há emprego”, declarou Macri.

Após observar que a Argentina não tem divisas para pagar importações de US$ 30 bilhões, Macri descreveu Luis Caputo, o novo ministro da Economia do país, como um homem que trabalha como “quem está desarmando uma bomba”. “Não existe no mundo uma bomba como esta, mas ele Milei designou uma equipe econômica que tem experiência”, emendou Macri, lembrando que o atual presidente colocou no comando da política econômica nomes que estiveram em seu governo.

Na avaliação de Macri, Caputo tem entendimento das regras de mercado e sabe que a Argentina não pode se financiar sozinha. Se ele não resolver o problema das restrições cambiais, que limitam o acesso a dólares, a Argentina não voltará a atrair investimentos, comentou.

Apesar dos ataques feitos durante a campanha eleitoral pelo agora presidente da Argentina, Javier Milei, Macri acredita que o novo governo será pragmático e manterá relações com o Brasil.

Durante a campanha, Milei indicou que romperia com o Mercosul e não teria relações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “corrupto” e “comunista furioso”. Na segunda-feira, 11, durante fórum da XP em São Paulo, Macri considerou que Milei sabe que o comércio com o Brasil é muito importante e a tendência é de as tensões com Lula diminuírem “A Argentina, no estado de pobreza que está, precisa ter relações boas com todos”, apostou Macri.

O ex-presidente entende que a Argentina deve agora mudar o eixo das relações exteriores para Estados Unidos e Israel, porém sem romper com seus principais parceiros comerciais: Brasil e China.

Por várias vezes durante o fórum, Macri defendeu que as medidas de reequilíbrio fiscal, em especial o congelamento de gastos, sejam prioridade do novo governo, de modo que a Argentina possa reforçar suas reservas e dar novos passos – entre eles, a unificação monetária com o Brasil, o que, avaliou, favoreceria primeiro a Argentina. A ideia de uma moeda comum, observou o ex-presidente, pode avançar se Milei tiver êxito no ajuste fiscal.

Ele assegurou que Milei, a quem apoiou nas eleições, não vai imprimir pesos e gerar mais inflação. Colocando-se contra a dolarização proposta por Milei na campanha, Macri apontou diferenças de produtividade entre Argentina e Estados Unidos ao criticar a ideia.

Ele também destacou as riquezas minerais que podem fazer com que a Argentina tenha uma produção de gás superior à da Rússia em dez anos. No entanto, assinalou Macri, a Argentina precisa adotar medidas de reequilíbrio fiscal para voltar a atrair investimentos e resolver o seu problema de restrições de dólares

Apesar de não endossar a proposta de dolarização, Macri considerou que as ideias de Milei, a quem classificou como um político “totalmente outsider”, são claras. O desafio, ponderou, será implementá-las a partir de agora. Nos próximos 90 dias, pontuou Macri, a oposição deve deixar claro como vai se posicionar frente à agenda do novo presidente. Ele descartou, porém, protestos por período prolongado contra Milei.

Depois de criar expectativas sobre o anúncio de suas primeiras medidas econômicas como presidente da Argentina, Javier Milei adiou para terça-feira, 12, os anúncios. Em uma primeira coletiva na Casa Rosada, o porta-voz da presidência avisou que as medidas serão dadas pelo próprio ministro da Economia, Luis Caputo, empossado no domingo, 10.

Na sexta-feira, 8, o jornal argentino Clarín havia adiantado que Milei e Caputo fariam os primeiros anúncios já nas primeiras horas desta segunda-feira, 11, com uma série de medidas que não precisariam de um respaldo do Congresso. Esta manhã, porém, Manuel Adorni, designado porta-voz da presidência, informou que as mudanças serão confirmadas na terça, sem um horário definido.

Os mercados argentinos esperavam com ansiedade as primeiras medidas e ainda não está claro como reagirão ao adiamento anunciado nesta manhã.

“É uma decisão do presidente mudar a raiz de uma questão sinistra, dar-lhe uma definição dura, do que está acontecendo na Argentina de um setor de privilégios versus muita gente que está passando por maus bocados devido a uma liderança que durante décadas não se importou, foi incapaz de resolver os problemas”, disse, afirmando que a Argentina vive “um estado de emergência” por causa da inflação.

No domingo, durante seu primeiro discurso ao público nas escadarias do Congresso, Milei falou de uma “política de choque” para mudar o rumo econômico do país e falou que não há tempo para gradualismos. Seu ministro, porém, é menos afeito a medidas bruscas. Até o momento, as possíveis medidas que deve tomar o novo governo foram divulgadas apenas pela imprensa argentina, citando fontes anônimas.

Milei conduziu na Casa Rosada a sua primeira reunião de gabinete nesta manhã. No domingo, em seu primeiro decreto, o novo presidente cortou pela metade o número de ministérios, de 18 do governo anterior para 9 agora.