Na abertura do debate geral da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o secretário-geral António Guterres apresentou uma avaliação rigorosa dos desafios globais atuais, enfatizando a necessidade urgente de cooperação global para lidar com o aumento da impunidade, o aprofundamento das desigualdades e a escalada das incertezas.
Na terça-feira, Guterres descreveu o atual cenário como um “turbilhão”, caracterizado por divisões geopolíticas, conflitos contínuos e as ameaças iminentes das mudanças climáticas e da agitação tecnológica. Para ele, o estado do mundo é “insustentável”, mas os desafios são solucionáveis.
Para o secretário-geral, “o nível de impunidade no mundo é politicamente indefensável e moralmente intolerável”. Ele condenou as violações flagrantes da lei internacional e dos direitos humanos que têm se tornado cada vez mais comuns.
O chefe da ONU enfatizou que “as violações e os abusos ameaçam a própria base do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”, apontando que países violam acordos e “se sentem no direito de escapar sem consequências”.
Ele disse que é mais importante do que nunca “reafirmar a Carta, respeitar o direito internacional, apoiar e implementar as decisões dos tribunais internacionais e reforçar os direitos humanos”.
Guterres lembra que a guerra na Ucrânia continua a se intensificar, alerta para a situação no Oriente Médio, com a escalada no Líbano e o aumento de vítimas entre os civis e trabalhadores humanitários, citando os mais de 200 funcionários da Agência da ONU para Refugiados Palestinos que foram mortos desde 7 de outubro.
Ao abordar a questão da desigualdade, ele destacou que a diferença de riqueza aumentou significativamente desde a pandemia, com os indivíduos mais ricos acumulando fortunas sem precedentes enquanto os mais pobres do mundo sofrem.
Ele pediu reformas sistêmicas nas instituições financeiras globais para apoiar os países em desenvolvimento e enfatizou a necessidade de igualdade de gênero, destacando o impacto desproporcional da discriminação sobre mulheres e meninas.
Segundo o secretário-geral, apenas 10% dos líderes que vão discursar nos próximos dias são mulheres.
Guterres alertou que a mudança climática sem controle representa uma ameaça existencial, reforçando que as nações devem adotar planos de ação climática ambiciosos que se alinhem ao Acordo de Paris, limitando o aumento da temperatura global em 1,5ºC.
Ele enfatizou que a transição para a energia renovável deve ser justa e inclusiva, afirmando que os países desenvolvidos devem liderar o caminho do financiamento e do apoio às nações em desenvolvimento.
O secretário-geral também abordou os rápidos avanços da inteligência artificial, alertando que, sem uma estrutura global colaborativa, a tecnologia poderia exacerbar as divisões e desigualdades existentes.
No encerramento, Guterres expressou esperança em um futuro mais sustentável, incentivando as nações a trabalharem juntas para criar um mundo com menos impunidade, mais justiça e mais oportunidades para todos.
“As pessoas do mundo estão olhando para nós”, concluiu, pedindo aos líderes que ajam de forma decisiva para o bem comum.
Reforçando o olhar para as soluções, o presidente da 79ª sessão da Assembleia Geral, Philemon Yang, ele apontou que os participantes “não são mero espectadores das crises ou impotentes para agir”.
Ele fez um chamado pela ação dos líderes presentes, “pessoas com a autoridade e a responsabilidade de moldar o curso de nosso futuro compartilhado”, apontando que os eventos da semana são críticos para questões como resistência antimicrobiana, subida do nível do mar e eliminação de armas nucleares.
Em meio à escalada no Oriente Médio, Yang também fez um apelo por cessar-fogo em Gaza, soltura dos reféns e cumprimento da lei internacional para assegurar a dignidade de palestinos e israelenses.