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Hamas e Jihad Islâmica pedem interrupção total dos combates em Gaza para libertação de reféns

A insistência na libertação de prisioneiros em grande escala e no fim dos combates em Gaza colocou o grupo em desacordo com a proposta em várias fases

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02 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Hamas e Jihad Islâmica pedem interrupção total dos combates em Gaza para libertação de reféns
O líder político do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh

O líder político do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, pediu na sexta-feira, 2, após dias de negociações, uma interrupção total dos combates na Faixa de Gaza em troca da libertação de reféns, e afirmou que a Jihad Islâmica Palestina, que também opera no enclave, exige o mesmo.

“Reafirmamos a posição das facções de resistência de que qualquer negociação deve levar ao fim total da agressão, à retirada do exército de ocupação da Faixa de Gaza e ao retorno dos deslocados às suas residências”, informou o líder do Hamas em comunicado via Telegram.

Haniyeh, que afirmou ter tido uma conversa telefônica com o secretário da Jihad Islâmica Palestina, Ziad Nakhaleh, no contexto das negociações para um cessar-fogo no enclave palestino, também destacou a necessidade de reconstruir a Faixa e garantir um acordo “sério” de troca de reféns por prisioneiros palestinos.

Também na sexta-feira, Osama Hamdan, um alto funcionário do grupo Hamas, declarou que o  grupo terrorista segue comprometido com as suas exigências iniciais de um cessar-fogo permanente. Ele acrescentou que o grupo busca a libertação de milhares de prisioneiros palestinos detidos por atos relacionados ao conflito com Israel, incluindo aqueles condenados à prisão perpétua. Entre eles, Marwan Barghouti, um líder popular da revolta palestina.

A insistência na libertação de prisioneiros em grande escala e no fim dos combates em Gaza colocou o grupo em desacordo com a proposta em várias fases que o Egito, Israel, Catar e os Estados Unidos apresentaram esta semana. A proposta não inclui um cessar-fogo permanente. “Não há como isso ser aceitável para a resistência”, disse Hamdan à televisão libanesa LBC na sexta-feira, referindo-se às sucessivas pausas propostas nos combates.

A proposta de liberação em várias fases inclui um cessar-fogo inicial de seis a oito semanas durante o qual o Hamas libertaria reféns idosos, mulheres e crianças em troca de centenas de palestinos presos por Israel. Israel ainda permitiria que o número de caminhões de ajuda que entram em Gaza aumentasse para 300 por dia (contra algumas dezenas hoje em dia) e permitiria que os habitantes de Gaza deslocados voltassem gradualmente às suas casas no norte.

Em meio às expectativas pela aprovação do cessar-fogo, Israel declarou na sexta-feira, 2, que a possível pausa na guerra contra o grupo terrorista Hamas não se aplicará às hostilidades com o grupo Hezbollah do Líbano.

“Se o Hezbollah pensa que quando houver um cessar-fogo no sul ele irá parar o fogo e nós pararemos, está cometendo um grande erro”, disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, durante uma visita a uma base militar no norte de Israel.

“Digo aqui explicitamente: até chegarmos a uma situação em que seja possível restaurar a segurança dos residentes do norte, não vamos parar. Quando chegarmos a isso através de um acordo diplomático ou de meios militares, poderemos ficar calmos”, declarou Gallant.

Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, o Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, tem trocado ataques transfronteiriços diários com Israel, os quais têm aumentado gradualmente. Israel também realizou assassinatos seletivos de figuras do Hezbollah e do Hamas no Líbano.

Mais de 200 pessoas, a maioria combatentes do Hezbollah – mas também mais de 20 civis – foram mortas no lado libanês e 18 no lado israelense. Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas de ambos os lados. Não há perspectivas imediatas de seu retorno.

Os líderes políticos e militares israelenses já alertaram o Hezbollah de que a guerra é cada vez mais provável, a menos que eles se retirem da fronteira. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, não ameaçou iniciar uma guerra, mas alertou para uma luta “sem barreiras” se Israel iniciar um conflito.

O Exército israelense avançará sua ofensiva militar na Faixa de Gaza até Rafah, próximo à fronteira com o Egito. A cidade, no sul do enclave, tornou-se abrigo de civis palestinos que se deslocaram para desde o início da guerra, e a ONU descreveu a situação na região como uma “panela de pressão de desespero”.

“A Brigada Khan Younis da organização Hamas foi dissolvida, completaremos a missão lá e seguiremos para Rafah. A grande pressão que as nossas forças exercem sobre os alvos do Hamas aproxima-nos do retorno dos raptados, mais do que qualquer outra coisa que possamos fazer”, escreveu Gallant em uma publicação no X, na quinta-feira, 1, acrescentando que Israel “continuará até o fim”.

Como reação, a ONU alertou na sexta-feira, 2, que a cidade está se tornando uma “panela de pressão de desespero” à medida que milhares de pessoas fogem de Khan Younis e de outras partes do sul de Gaza para a cidade, conforme a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas avança.

Jens Laerke, porta-voz do Escritório das ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), também disse que a situação em Rafah “não parece bem” em meio a preocupações de que a cidade seja o novo foco da campanha de Israel. “Rafah é uma panela de pressão de desespero e tememos pelo que vem a seguir”, disse ele em uma reunião da ONU em Genebra, na sexta-feira.

“É como se toda semana pensássemos, você sabe, não pode ficar pior. Bem, vai entender. Fica pior. É muito importante para nós e para o Ocha deixar hoje registrada a nossa profunda preocupação com o que está acontecendo em Khan Yunis e Rafah, na parte sul da faixa, porque realmente não parece bom”, acrescentou Laerke.

Falando de Jerusalém, Rik Peeperkorn, representante da Organização Mundial da Saúde nas áreas palestinas ocupadas, disse que a agência de saúde da ONU estima que pelo menos 8 mil habitantes de Gaza deveriam ser enviados ao exterior para cuidados médicos. Destes, cerca 6 mil necessitam de cuidados para ferimentos de guerra – como tratamento de queimaduras ou cirurgia reconstrutiva – enquanto o restante necessita de cuidados médicos para condições como cancro ou outras doenças, disse Peeperkorn.

Desde o início da guerra, em 7 de outubro, um total de 243 pessoas foram encaminhadas para o exterior, disse ele, acrescentando: “Isso é uma ninharia… é muito pouco”. Ele continuou: “Rafah costumava ser uma cidade de 200 mil habitantes – uma cidade um pouco pacata… e agora abriga mais de metade da população de Gaza. Então, lembre-se, para onde essas pessoas deveriam ir? Talvez a questão devesse ser: isso não deveria acontecer. E Rafah não deveria ser atacada.”