Fernanda Valadares
Fernanda Valadares
Planejamento Familiar

E quanto custa falar sobre morte?

Muitos casais quando se divorciam não sabem o básico, não sabem dos seus direitos e acabam que, muitas vezes, esperam muito mais do que de fato têm direito, ou saem da relação com muito menos do que deveriam.

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09 de maio de 2023
E quanto custa falar sobre morte?
Foto: Divulgação


Aqui trataremos do alto custo emocional de se falar sobre divórcio e falecimento x o alto custo dos problemas com partilha e problemas sucessórios x do alto custo emocional de se fazer um planejamento familiar.

Para muitos, falar sobre divórcio quando está se casando pode beirar um contrassenso. Avaliamos o risco desse evento acontecer como sendo baixíssimo e, por isso, o risco de falar sobre ele não compensaria o alto custo emocional envolvido. No entanto, pela prática, apesar de ninguém se casar com prazo de validade para terminar, sabemos que o fim do casamento por divórcio é uma possibilidade e não raro acontece.

E a pergunta é: valeria a pena tratar dos termos e regras de uma possível separação quando está tudo bem entre o casal? Haveria vantagens em prevenir possíveis futuros problemas caso esses venham a acontecer? Por exemplo, valeria a pena falar sobre partilha de bens quando não se pensa em dividir bens? E a experiência diz que sim, vale a pena tratar de questões que ainda não ocorreram, mas que por diversos fatores existem chances de acontecer.

Muitos casais quando se divorciam não sabem o básico, não sabem dos seus direitos e acabam que, muitas vezes, esperam muito mais do que de fato têm direito, ou saem da relação com muito menos do que deveriam. O mínimo ao se fazer um planejamento familiar seria dar clareza das consequências de cada regime escolhido e de cada pacto antenupcial assinado.

No entanto, o assunto fica um pouco mais delicado quando o planejamento familiar trata de falecimento. Apesar de diferente do tema divórcio, que pode ou não ocorrer, quando falamos de morte não devemos tratá-la como um evento incerto. Pelo contrário, apesar de doloroso, é uma das poucas certezas que temos. Todos iremos falecer e a dúvida só reside no quando. Portanto, a morte é um evento certo, apesar de muitos quererem ignorá-la.

E voltamos novamente ao questionamento: valeria a pena tratar dos termos e regras sucessórios quando ainda estamos vivos? Existe vantagens para os herdeiros na prevenção de futuros problemas no caso da transferência de bens do falecido? Por exemplo, valeria a pena falar sobre partilha de bens entre os herdeiros, curador para filhos menores, legado para uma pessoa querida, formas de sobrevivência financeira dos herdeiros em caso de falta do provedor econômico familiar?

E a experiência também traz a resposta como sendo sim, que vale a pena tratar previamente do tema sucessão com a família para evitar briga entre os herdeiros, evitar a falta de organização financeira futura, reduzir o tempo de recebimento da herança e, principalmente, reduzir a burocracia em um momento de dor da família.

Temos ainda, como experiência, que apesar de ser um assunto difícil de ser iniciado, na maioria dos casos, depois de concluído, o que parecia ser alto o custo se torna pequeno diante da paz emocional que o planejamento traz para a família.

Portanto, queremos concluir dizendo que o melhor momento de se pensar sobre planejamento sucessório é quando ainda o problema não existe. Apesar de soar contraditório, de nos parecer que estamos buscando por problemas quando tudo está resolvido, a ideia é oposta. Falar sobre planejamento sucessório é, principalmente, minimizar ou até mesmo excluir problemas futuros que sabidamente irão acontecer.

A ideia, portanto, aqui era trazer uma reflexão sobre o alto custo emocional envolvido em tratar do planejamento patrimonial sucessório no presente em contrapartida aos benefícios futuros da decisão. É ter em mente que deixar de escolher é também escolher! Deixar de enfrentar um possível risco emocional agora é escolher não tratar de temas que podem ocorrer ou que necessariamente irão ocorrer e que certamente terão desfechos diferentes se previamente conversados.