Suellen Escariz
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Pelo mundo

Portugal é para todos?

É possível observar que nos últimos anos houve exponencial alta de brasileiros a viver em Portugal. As condições e motivos são diversos

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08 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Portugal é para todos?
Aeroporto de Porto, em Portugal

Um tema cada vez mais debatido está relacionado ao grande fluxo migratório de brasileiros para Portugal. É certo que ao longo dos séculos esse fluxo sempre ocorreu, em alguns momentos mais forte em um sentido do que em outro e vice-versa.

É possível observar, entretanto, que nos últimos anos, houve um exponencial aumento de brasileiros a viver em Portugal. As condições, motivos e realidades sociais são as mais diversas.

Há aqueles que, aposentados no Brasil, decidem emigrar para garantir uma vida mais sossegada, há aqueles que com a liberdade do trabalho digital e a possibilidade de estar em qualquer lugar do mundo, adotam Portugal como país.

Há muitos que, iludidos com vídeos na internet, economizam tudo que podem e investem toda uma vida para a mudança que pode ser muito arriscada e frustrante.

O desemprego ou emprego precário, aluguéis caros e a inflação de 30% da cesta básica em um ano, atrelados à burocracia criam o cenário para um novo fenômeno: brasileiros que pedem ajuda para voltar de Portugal.

A verdade é que muitos brasileiros acreditam que a realidade de Portugal será igual a do Brasil, só que com mais segurança e optam pela mudança sem considerar diferentes aspectos culturais e até mesmo estruturais de Portugal.

Portugal é um país de tradição, dos navegadores, é um povo que em sua grande maioria emigra para buscar melhores oportunidades. E talvez por saber que muitos portugueses são recebidos em outros países, acreditam que tenham uma espécie de dever moral de receber todos que queiram viver em solo português.

Ocorre que, na prática, o exponencial aumento no número de habitantes começa a criar problemas e desafios para os quais o país não está preparado.

A prestação de serviços públicos não estava estruturalmente preparada para receber tantos requerimentos e atendimentos, a quantidade de moradias também não é a mais adequada para o aumento repentino de moradores, o que tem gerado um aumento exorbitante dos preços de aluguéis, pela alta procura e a baixa oferta.

A forma de trabalhar de alguns estabelecimentos comerciais e o próprio desenvolvimento económico também não seguia o caminho para a realidade em que se encontram.

Portugal coloca-se de portas abertas, mas para aqueles que pretendem entrar, ficam as perguntas: estão mesmo preparados para viver uma realidade diferente? Para entender e respeitar a cultura local? Para embarcar em novas perspectivas e visão de mundo?
O respeito é um atributo primordial para quem busca fazer de Portugal seu novo lar. A compreensão e a adequação a essa nova realidade vai pautar o caminho de sucesso nessa jornada.


Suellen Escariz – Advogada e Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra – Instagram