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Ministro de Israel insiste que Lula deve pedir desculpas aos judeus por fala sobre Holocausto

Katz disse nas redes sociais que a comparação de Lula é uma vergonha para o Brasil e um cusparada no rosto dos judeus brasileiros.

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21 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Ministro de Israel insiste que Lula deve pedir desculpas aos judeus por fala sobre Holocausto
O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, cobrou na terça-feira, 20, um pedido de desculpas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por comparar a guerra em Gaza ao Holocausto. A declaração abriu uma crise diplomática, mas o petista não dá sinais de que pretende se retratar.

Katz disse nas redes sociais que a comparação de Lula é uma vergonha para o Brasil e um cusparada no rosto dos judeus brasileiros. O ministro afirmou ainda que não é tarde para aprender história e pedir desculpas e reforçou que o presidente brasileiro continuará sendo persona non-grata em Israel até que se retrate.

“É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez?” questionou Katz, detalhar o extermínio de judeus pela Alemanha Nazista na 2ª Guerra. “Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel”, lembrou.

Ainda nas palavras do ministro, Israel agora entrou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente.

“Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares”, disse em referência ao ataque terrorista do Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e desencadeou a guerra em Gaza. Do lado palestino, o conflito já deixou mais de 29 mil mortos, segundo o ministério da Saúde local, que é controlado pelo Hamas.

Desde os atentados de 7 de outubro, o presidente repudiou os ataques do Hamas e condenou a resposta israelense, que chamou, mais de uma vez, de genocídio. Agora, no entanto, cruzou o que Tel-Aviv chamou de linha vermelha ao comparar o conflito com o Holocausto.

“O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula em entrevista no domingo, 18, em Adis Abeba, Etiópia. Para Lula, o conflito “não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”, afirmou. “Não é uma guerra, é um genocídio”, completou o presidente brasileiro.

A comparação da atuação militar de Israel ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram exterminados pelos nazistas, é considerada um tipo de antissemitismo, por tentar equiparar as vítimas a seus algozes.

Israel reagiu de imediato, declarou Lula como ‘persona non-grata’ e convocou o embaixador de Brasília em Tel-Aviv, Frederico Meyer para uma reprimenda pública no Memorial do Holocausto. A quebra do protocolo irritou o governo brasileiro, que chamou o próprio embaixador de volta – o que, na linguagem diplomática, é considerado uma medida excepcional de descontentamento. E que, segundo analistas, pode anteceder o rompimento de relações.

Mesmo diante da crise, o petista não dá sinais de recuo. O assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, Celso Amorim, disse que não há chances de um pedido de desculpas. “Existe zero possibilidade de o presidente Lula pedir desculpas. Ele não fez nada de errado. Só citou fatos históricos”, afirmou Amorim, acrescentando que “nenhum povo tem o monopólio do sofrimento”.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negou que o atrito entre o governo brasileiro e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, atrapalhe as relações comerciais entre as duas nações “Temos uma cooperação sólida”, disse.

“Em nenhum momento estava na pauta qualquer rompimento de relações, pelo contrário, nós temos relações sólidas do Brasil com Israel que ultrapassam, inclusive, Netanyahu. Netanyahu é passageiro”, disse. O ministro também voltou a criticar o primeiro-ministro israelense em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Se tem alguém isolado no mundo hoje é o Netanyahu, não o presidente Lula, se tem alguém isolado nas suas posições, nas suas práticas, é o Netanyahu, não o presidente Lula”.

Padilha afirmou ainda que a declaração do presidente é “um grito de protesto” contra a violência que acontece na região. Ele pontuou que as críticas de Lula não foram ao povo judeu, mas o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Para o ministro, “o grande fato diplomático” do dia é a posição dos Estados Unidos, que apresentaram na segunda para o Conselho de Segurança Organização das Nações Unidas (ONU) uma proposta de cessar-fogo entre Palestina e Israel, e não o “espetáculo” de Netanyahu.

“O grande fato político diplomático do dia não é o espetáculo diplomático que tentou fazer o chefe de governo atual Netanyahu”, disse o ministro. Ao comentar sobre o cessar fogo proposto pelos EUA, Padilha chamou o posicionamento de histórico e “quase inédito”.

“Até os Estados Unidos, que sempre foram um aliado histórico de Israel, que vetou a proposta de resolução apresentada pelo governo brasileiro no Conselho de Segurança […] até os Estados Unidos reconheceram que não é possível admitir a continuidade da operação militar pelo primeiro ministro Netanyahu”, disse. “Torço para a posição dos EUA acabe com obstáculos na ONU para cessar-fogo de Israel”, completou.