Suellen Escariz
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Pelo mundo

Verdade ou Mentira?

A típica brincadeira de festa junina “é verdade…é mentira…” tem se tornado algo corriqueiro no dia a dia das pessoas, sem que a maioria perceba.

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14 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Verdade ou Mentira?
A desconfiança instalada faz com que as pessoas duvidem até do que é real.

A típica brincadeira de festa junina “é verdade…é mentira…” tem se tornado algo corriqueiro no dia a dia das pessoas, sem que a maioria perceba. O boom de informações ao minuto proporcionado pelo avanço tecnológico tanto ampliou a quantidade de conhecimento disponível e facilmente acessível como também proporcionou o aumento e a facilidade de propagação de informações falsas.

Aos mais atentos, passa a ser difícil acreditar até no que se vê, afinal, agora não são só os textos que trazem inverdades, mas também as imagens em si. O avanço da inteligência artificial faz-se sentir nos vídeos adulterados, cada vez com maior qualidade, e que certamente pegam muitos distraídos.

As consequências ainda são pouco conhecidas, mas como hábito a pergunta “é verdade ou é mentira?” já é feita a cada nova notícia/mensagem/vídeo. A desconfiança instalada faz com que as pessoas duvidem até do que é real. E de maneira geral, os próprios relacionamentos interpessoais têm sido baseados em constantes desconfianças e falta de transparência.

Parece que existem princípios implícitos de que “ninguém tem tempo para ouvir o problema do outro”; “ninguém se importa com a dor do outro” e ao mesmo tempo “se eu expuser minha dor, ninguém vai gostar de mim”; “não posso demonstrar as minhas fraquezas porque ninguém vai me ajudar”.

Talvez seja o resultado de uma sociedade cada vez mais egoísta, onde cada indivíduo só tem tempo para se preocupar consigo mesmo, porque é conveniente não estar disponível para apoiar o seu próximo. E todas essas circunstâncias acabam interligadas, a tecnologia avança, a quantidade de informações e conhecimentos que cada pessoa precisa dar conta (ou simplesmente decide que deve dar conta) aumenta a ponto de não haver espaço para os outros.

As redes sociais que são frutos desses avanços também imprimem a ideia de que ninguém tem problemas e que cada um pode espelhar aquilo que lhe convém, escondendo as dores e defeitos e estampando apenas o que considera perfeição.

Mas na verdade, as pessoas ainda são reais, enfrentam as suas emoções, suas dores e felicidades. Não são perfeitas como a internet faz pressupor, nem autossuficientes como todos insistem em querer acreditar.

Até em conversas simples do cotidiano, a mente está sempre se questionando se o que ouve é realmente verdade ou não. E tamanha desconfiança e instabilidade geram grandes prejuízos psicológicos que repercutem de maneira geral na sociedade.

Uma solução possível é a verdade. Se todos decidissem ser mais verdadeiros, haveria maior empatia. Escolher a verdade é sempre o melhor caminho, ainda que para muitos não seja o mais fácil. Vale a pena.


Suellen Escariz – Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra, servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região – Instagram