Economia
Demanda recua

Produção industrial caiu 0,2% em fevereiro

Em relação a fevereiro de 2022, a produção industrial caiu 2,4%. As estimativas variavam de um recuo de 3,3% a alta de 2,8%.

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19 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Produção industrial caiu 0,2% em fevereiro
No acumulado do ano, que tem como base de comparação ao mesmo período do ano anterior, a produção industrial teve uma queda de 1,1%.

A produção industrial caiu 0,2% em fevereiro ante janeiro, na série com ajuste sazonal, divulgou na quarta-feira, 19, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio em linha com a mediana (de -0,2%) das expectativas dos analistas do mercado financeiro, que esperavam desde uma queda de 0,6% a alta de 0,8%.

Em relação a fevereiro de 2022, a produção caiu 2,4%. Nessa comparação, sem ajuste, as estimativas variavam de um recuo de 3,3% a alta de 2,8%, com mediana negativa de 2,0%.
No acumulado do ano, que tem como base de comparação ao mesmo período do ano anterior, a indústria teve uma queda de 1,1%.  Em 12 meses, a produção acumula recuo de 0,2%.

A indústria brasileira chegou a fevereiro operando 2,6% aquém do patamar de fevereiro de 2020: apenas 7 das 25 atividades investigadas estão operando em nível superior ao pré-crise sanitária.

Em fevereiro de 2023, os níveis mais elevados em relação ao patamar de fevereiro de 2020 foram os registrados pelas atividades de outros equipamentos de transporte (16,0%), produtos do fumo (14,8%), máquinas e equipamentos (7,8%) e alimentícios (5,1%). Também se mantinham acima do pré-pandemia farmoquímicos e farmacêuticos (3,4%), extrativas (3,2%) e celulose e papel (0,1%).

No extremo oposto, os segmentos mais distantes do patamar de pré-pandemia são móveis (-23,3%), artigos de vestuário e acessórios (-20,4%), máquinas e materiais elétricos (-19,2%) e couro e calçados (-17,2%).

Entre as categorias de uso, a produção de bens de capital está 4,4% acima do nível de fevereiro de 2020, e a fabricação de bens intermediários está 1,2% acima do pré-covid. “Essa magnitude (de bens de capital) vem perdendo intensidade mês a mês em relação ao patamar pré-pandemia”, apontou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

Os bens duráveis estão 18,6% abaixo do pré-pandemia, e os bens semiduráveis e não duráveis estão 6,4% aquém do patamar de fevereiro de 2020.

O setor industrial manteve em fevereiro de 2023 o comportamento negativo que mostrou nos dois meses anteriores. As dificuldades enfrentadas pela indústria estão ligadas à demanda doméstica, mas também a problemas de acesso a insumos e matérias-primas, apontou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do IBGE.

A indústria mostra menor ritmo neste início de ano, mas o resultado negativo não está espalhado entre as atividades investigadas, ponderou Macedo. “Nos três meses que essa produção industrial mostrou queda, teve predomínio de atividades no campo positivo”, ressaltou Macedo.

O patamar de produção prossegue em nível semelhante ao de janeiro de 2009. “O setor industrial está girando em torno do mesmo patamar nos últimos meses”, resumiu.

Em fevereiro ante janeiro, houve perdas em 9 dos 25 ramos pesquisados. As principais influências negativas partiram das quedas em produtos alimentícios (-1,1%), produtos químicos (-1,8%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,5%). Na direção oposta, entre as 16 atividades em crescimento, as indústrias extrativas (4,6%) exerceram o principal impacto em fevereiro de 2023, após a expansão de 3,4% assinalada no mês anterior.

As explicações para os segmentos em queda passam por fatores conjunturais, mas também pontuais, disse Macedo. A taxa de juros em patamar elevado agrava o endividamento das famílias e encarece o crédito, prejudicando a demanda doméstica, aponta o pesquisador. A inflação e o contingente ainda elevado de pessoas desempregadas também desestimulam o consumo das famílias.

“Sob o ponto de vista da oferta, a questão da falta de acesso a determinados insumos e matérias-primas também afeta a produção desses segmentos”, completou Macedo.

Entre os fatores mais pontuais atuando sobre a indústria em fevereiro estão as férias coletivas e paralisações em montadoras, que prejudicaram o desempenho da fabricação de automóveis. Outro exemplo foi o embargo às exportações de carne bovina brasileira após detecção de um caso de mal da vaca louca ter afetado a produção de itens alimentícios, setor que responde por cerca de 15% da produção industrial brasileira.

“A questão das exportações em função do mal da vaca louca tem impacto no setor alimentício, mas não é fundamental para o total da indústria”, ponderou Macedo. “O setor de alimentos não recua tão somente pela carne bovina, outros produtos também afetam.”

Além da produção de carne bovina, também houve impacto negativo em fevereiro da menor fabricação de carnes de aves, carnes de suínos, derivados da soja e sucos de frutas, especialmente de laranja. “Por outro lado, a parte relacionada ao açúcar faz o movimento inverso, ela atenua essa perda que outros itens mostraram”, apontou Macedo.