Economia
Exportações

Produção de veículos subiu 0,5% em setembro

Na comparação com agosto, um mês com três dias úteis a mais, a produção recuou 8%, em resultado também comprometido pelo desempenho ruim das exportações.

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06 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Produção de veículos subiu 0,5% em setembro
Frente a setembro de 2022, as vendas de veículos subiram 1,9% no mês passado

As montadoras produziram 208,9 mil veículos no mês passado, volume que representa uma pequena alta de 0,5% sobre o total produzido no mesmo período de 2022. Na comparação com agosto, um mês com três dias úteis a mais, a produção recuou 8%, em resultado também comprometido pelo desempenho ruim das exportações.

Os números são do balanço divulgado na sexta-feira, 6, pela Anfavea, a associação que representa a indústria de veículos, e englobam carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

O resultado leva a produção acumulada desde o início do ano para 1,75 milhão de unidades, praticamente uma repetição, com leve queda de 0,3%, do total de veículos montados nos nove primeiros meses de 2022.

O mercado mostrou reação no ritmo de vendas, ainda que longe de voltar ao patamar de antes da pandemia como desejava a indústria após o fim da crise de abastecimento de componentes eletrônicos, responsável por paralisar por diversas vezes as fábricas de automóveis nos últimos dois anos.

Frente a setembro de 2022, as vendas de veículos subiram 1,9% no mês passado, para 197,7 mil unidades. Já na comparação com agosto, setembro mostrou queda de 4,8%.

A variação na margem só ficou negativa, porém, em razão do calendário com três dias úteis a menos de setembro. A média de cada dia de venda do mês passado, de 9,9 mil veículos, só ficou atrás neste ano da registrada em julho, quando o mercado, no embalo dos descontos patrocinados pelo governo, fez 10,7 mil unidades a cada dia de venda.

Os licenciamentos de veículos mostram agora crescimento de 8,5% desde o início do ano, somando 1,63 milhão de veículos de janeiro a setembro.

O balanço da Anfavea mostra ainda queda de 3,9% das exportações, no comparativo de setembro com igual mês de 2022. Os embarques, de 27,4 mil veículos no mês passado, caíram 20,6% contra agosto
Desde o primeiro dia de 2023, 322,9 mil veículos foram exportados, tendo México, Argentina, Chile e Colômbia como os principais destinos. O volume representa uma queda de 11,2% frente aos nove primeiros meses do ano passado.

Segundo o levantamento da Anfavea, 440 vagas de trabalho foram abertas em setembro nas montadoras, que agora empregam 100,6 mil pessoas.

A Anfavea revisou as projeções ao desempenho do setor neste ano, passando a prever agora uma estagnação – alta de apenas 0,1% – na produção de veículos. A previsão anterior, feita no início do ano, era de crescimento de 2,2%.

Se o novo prognóstico for confirmado nos três últimos balanços mensais do ano, 2023 fechará com 2,37 milhões de veículos montados, na soma de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

A revisão reflete os desempenhos antagônicos das exportações, que frustram a indústria, e do consumo interno de veículos, que supera as expectativas iniciais. Na esteira da queda de 11,2% acumulada desde o início do ano, piorou, de 2,9% para 12,7%, a expectativa de redução dos embarques de veículos em 2023.
Segundo a Anfavea, o ano caminha para terminar com 420 mil veículos exportados, 47 mil a menos do que os 467 mil projetados anteriormente.

A redução ao redor de 30% das entregas aos mercados da Colômbia e do Chile, em paralelo à desaceleração recente das vendas para a Argentina, dadas as incertezas associadas às eleições que acontecem neste mês no país, explica o desempenho ruim das exportações neste ano.

Já a projeção de crescimento das vendas de veículos no Brasil subiu de 3% para 6%, com 2,23 milhões de unidades previstas para este ano. O presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, ponderou, no entanto, que dois terços (67%) do aumento da previsão (62 mil veículos) vêm do avanço de veículos importados no mercado local.

O executivo disse que a entidade vem conversando com o governo para que exista um equilíbrio entre o crescimento da indústria nacional e das importações. A direção da Anfavea manifestou preocupação com o desempenho negativo das exportações de veículos e pediu que o governo busque acordos bilaterais para melhorar a competitividade dos produtos brasileiros em mercados vizinhos.

Enquanto as vendas no Brasil mostraram em setembro a segunda melhor média diária do ano, atrás apenas de julho, quando o mercado foi turbinado pelos descontos patrocinados pelo governo, as exportações, de 27,4 mil veículos, tiveram o pior resultado mensal desde setembro de 2021.

Lima Leite disse que a situação preocupa o setor por ter reflexos na produção. “Se o setor tivesse mantido a constância das exportações, como a gente vinha colocando no ano passado, e batendo recorde de exportações, certamente teria sido um alívio para as nossas fábricas e geração de empregos”, declarou o executivo para, na sequência, apontar o desempenho ruim das vendas ao exterior como o maior desafio hoje da indústria automotiva.

Ao contrário da entrevista coletiva de resultados concedida no mês passado, Leite evitou fazer menções à “ameaça chinesa”, porém voltou a citar o avanço na região de automóveis produzidos em outros países, que tem levado a uma perda de participação dos carros brasileiros em mercados vizinhos.

O presidente da Anfavea cobrou acordos bilaterais para a eliminação de restrições à entrada de automóveis brasileiros, citando entre elas as cotas de importação na Colômbia.

“Precisamos ter uma visão, do governo e também do setor, para ampliar esses acordos com outros países para que o Brasil mantenha uma forte presença e competitividade dentro do seu quintal”, declarou Leite, referindo-se aos mercados vizinhos.

Além de mais um recuo das exportações para o Chile, como vem acontecendo desde o início do ano, a desaceleração das vendas para a Argentina, em virtude de incertezas associadas às eleições deste mês no país, explica a queda de 3,9% no comparativo interanual, e de 20,6% frente a agosto, das exportações totais de veículos em setembro.

A manutenção do ritmo de vendas no Brasil, avaliou o presidente da Anfavea, afastou “um pouco” o receio quanto a uma retração do mercado após o fim dos descontos patrocinados pelo governo. Segundo a entidade, ainda existe também uma demanda reprimida por parte das locadoras. Porém, Leite pontuou que o crescimento acima do previsto do consumo brasileiro de veículos vem sendo em maior parte, dois terços, absorvido por carros importados.