Economia
Reclamações

Lula defende Haddad e diz que o chamam de ‘taxador’ porque trabalha para taxar os mais ricos

A alcunha começou a ser compartilhada por adversários do governo federal, após a aprovação da “taxa das blusinhas” e a regulamentação da reforma tributária.

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15 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Lula defende Haddad e diz que o chamam de ‘taxador’ porque trabalha para taxar os mais ricos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da sessão de abertura do fórum Um Projeto de Brasil, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu os memes que circularam nas redes sociais no último mês que deram ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o apelido de “Taxad”. A alcunha começou a ser compartilhada por adversários do governo federal, após a aprovação da “taxa das blusinhas” e a regulamentação da reforma tributária.

“Quando chamam o Haddad de taxador, é porque estamos trabalhando a política para fazer taxação dos mais ricos”, disse o presidente da República, em entrevista à Rádio T, do Paraná, na quinta-feira, 15.
Em dezembro do ano passado, Lula sancionou a lei que trata da tributação da renda obtida por meio dos fundos de investimentos exclusivos e aplicações em offshores.

O texto foi fruto da aprovação de projeto de conversão de Medida Provisória (MP) no Congresso. A votação final da proposta ocorreu no Senado no fim de novembro, depois de passar pela Câmara e sofrer alterações de mérito em relação à MP original, enviada pelo governo federal.

Segundo Lula, porém, “quem reclama de imposto, é rico”. “Eles não gostam de pagar imposto”, comentou. “As pessoas encontram sempre um jeito de não pagar imposto de renda. Só quem não encontra é quem trabalha e vive de salário”, afirmou.

Para rebater as críticas em relação a seu ministro, Lula citou o texto da reforma tributária, como a inclusão das carnes na cesta básica com imposto zero. “Eu quero que as pessoas possam ir ao supermercado e sair com carrinho cheio das coisas mais saudáveis que eles puderem comprar, e isso significa que você tem que aumentar o salário das pessoas”, comentou.

O presidente enalteceu os feitos de governos petistas no agronegócio e disse que nenhuma gestão federal fez tanto pelo setor como quando o Brasil esteve sob comandado do PT. Lula, porém, disse não ficar pensando se o agronegócio gosta dele, mas que investe no setor por ser seu dever como chefe do Executivo federal.

“Quando você governa, você não faz política esperando agradecimento. As pessoas do agro que não gostam de mim, não gostam do PT, dos Sem-Terra, da CUT, de muitas coisas”, comentou. “Desde meu primeiro mandato, passando pelo mandato da Dilma e minha volta agora em 2023, pode desafiar qualquer fazendeiro, qualquer ministro da agricultura que já trabalhou no governo, para saber se algum momento da história do país, um governo colocou tanto dinheiro na agricultura como nós”, retrucou as críticas.

Lula, contudo, negou que os investimentos tenham como objetivo agradar o setor. “Eu faço porque o Brasil precisa disso, porque a agricultura é importante para o Brasil. Não fico pensando se o cara gosta de mim, eu faço porque tenho que fazer.”

O presidente disse que uma empresa pública como a Itaipu Binacional precisa usar parte do seu dinheiro para melhorar a qualidade de vida da população. Segundo ele, o diretor-geral da Itaipu Binacional, Enio Verri, tem muita vontade de fazer política social com a empresa.

“Quando temos uma empresa pública, mesmo sendo binacional, que tem volume de rentabilidade, é preciso que você utilize uma parte desse dinheiro dando ao povo melhor qualidade de vida”, disse Lula.
Na fala, o presidente destacou a importância de se ajudar cooperativas e pequenos e médios produtores.
O chefe do Executivo elogiou Verri e sua gestão à frente da empresa, que completou um ano em março. “Enio tem sido uma surpresa extraordinária, tem muita competência, lealdade, discernimento e muita vontade de fazer política social”, comentou Lula.

Em sua avaliação, o que o diretor-geral brasileiro está fazendo com a empresa “é uma coisa extraordinária”. “Inclusive contribuindo para que a gente possa fazer as coisas a nível nacional. Porque se passou a ideia de que a Itaipu não podia fazer essas coisas. Itaipu pode fazer muita coisa pelo Brasil”, retrucou.

O presidente afirmou que precisa indicar o novo presidente do Banco Central, em substituição a Roberto Campos Neto, “agora” para que a substituição do cargo ocorra no final do ano. Integrantes da ala política do governo estruturam um acordo para que a indicação do novo presidente da instituição monetária seja feita em agosto, no mais tardar setembro, para anteceder as eleições municipais de outubro.

“Estou trocando o presidente do Banco Central. Tenho que indicar o presidente do Banco Central agora, porque será substituído no final do ano”, comentou.

O plano traçado para antecipar o nome do Banco Central para agosto, além do objetivo de esvaziar o poder de Campos Neto, alvo recorrente de críticas de Lula, diminuindo a tensão entre a instituição e o governo federal, tem também um cálculo econômico A divulgação do nome antes do fim do mandato de Campos Neto pode evitar surpresas e impactos negativos à economia brasileira.

Lula comentou o cenário econômico brasileiro e disse que, apesar de a taxa de juros, a Selic, estar num patamar elevado, “a economia toda não é tocada por essa taxa”. Em sua avaliação, os médios empresários são os que pagam mais caro pelo nível do índice.

“Primeiro precisamos trazer a taxa de juros do Brasil para um patamar razoável, que o mundo inteiro compreenda. Segundo, é preciso que a gente crie condições de facilitar que o dinheiro circule na mão de todo mundo”, comentou Lula.

O presidente comentou que a economia brasileira também está pressionada atualmente por causa da taxa de juros dos Estados Unidos e pelo valor do dólar. “Achamos que se os americanos começarem a baixar a taxa de juros deles agora em setembro, isso também vai fazer com que isso crie mais facilidade para baixar a Selic no Brasil”, avaliou.