O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu, pediu a cooperação dos países do G20 no combate à fome, enquanto as metas de erradicação seguem fora de alcance.
Qu Dongyu propôs aos ministros de Agricultura das 20 maiores economias do mundo o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza. “O mundo precisa de mais cooperação dentro do G20 e fora dele. O Brasil é um bom lugar para obtermos todo o consenso de compromisso”, disse o diretor-geral da FAO, durante as reuniões ministeriais do grupo de trabalho de Agricultura do G20 Brasil. Qu Dongyu lembrou que 733 milhões de pessoas no mundo passam fome, o que significa que o mundo ainda está longe de alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (Fome Zero).
Qu Dongyu cumprimentou o governo brasileiro por colocar a segurança alimentar no centro da discussão da cúpula e pediu que os demais líderes se inspirem nos esforços do Brasil para redução da fome. “A aliança global será a chave para levar o conhecimento, a experiência e mostrar exemplos bem-sucedidos da região para onde é mais necessário”, afirmou o diretor-geral da FAO. Ele citou que as elevadas dívidas públicas limitam a capacidade de determinados governos de intervir na insegurança alimentar.
Para o diretor-geral da FAO, as mudanças climáticas também impulsionam a fome, causando “crises alimentares de uma magnitude não vista há muitos anos”. “2023 foi o ano mais quente já registrado. Muitos países são afetados pela seca recorrente ou inundações, esgotando seus recursos naturais.
Esperamos que a variabilidade climática continue aumentando e isso vai afetar os países mais vulneráveis do mundo”, observou, destacando que os países mais pobres e os pequenos agricultores são os mais expostos às mudanças climáticas.
“Os agricultores familiares desempenham um papel essencial na garantia da segurança alimentar global. Agricultores familiares representam mais de 90% dos agricultores do mundo, ocupam 70% a 80% das terras agrícolas do mundo e produzem mais de 80% dos alimentos em termos de valor”, observou Qu Dongyu.
O diretor-geral da FAO destacou progresso notável da América Latina e do Caribe na redução da fome, mas ressaltou preocupação com o aumento da fome na África e sua estabilidade na Ásia. “Não podemos deixá-los na mão”, disse Qu Dongyu.
“Precisamos intensificar a assistência alimentar enquanto desenvolvemos e implementamos estratégias que protejam o meio ambiente e gerem rendas justas para os agricultores. Transformar nossos sistemas agroalimentares para torná-los mais eficientes, mais inclusivos, mais resilientes e mais sustentáveis exige um compromisso político mais forte, uma agenda social e contribuições abrangentes, que fortaleçam o papel dos agricultores familiares, pequenos produtores, povos indígenas e comunidades tradicionais”, afirmou.
Durante reuniões ministeriais do grupo de trabalho de Agricultura do G20 Brasil, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, minimizou eventuais riscos de inflação de alimentos em virtude de o plantio da safra de soja 2024/25 não ter sido iniciado ainda. “Estamos ainda dentro do período hábil de plantio, saindo do vazio sanitário. Não há nenhum atraso e o período de chuva está dentro do calendário ideal, com previsão de chuvas em outubro”, disse.
Segundo o ministro, até o momento não há prejuízos decorrentes do cultivo não iniciado da soja. “Há um alarde sendo construído. Ainda é extemporâneo dizer que há algum risco de inflação de alimentos por conta desse período, porque não tem atraso ainda”, acrescentou o ministro. Segundo ele, deve haver preocupação se o País entrar em outubro e novembro sem chuvas regulares.
“As previsões meteorológicas são de chuvas boas em outubro e novembro, com chuvas até em abundância em fevereiro e março, o que indica que devemos ter uma safra regular”, observou Favaro.
De acordo com o ministro, a pasta avalia no momento pressão inflacionária apenas originária do arroz. “O arroz carece de uma política específica para a expansão da sua produção e lançaremos medidas de estímulo aos produtores cultivarem arroz em outras regiões. Não vejo neste momento, além do arroz, alguma pressão inflacionária que possa vir dos grãos”, avaliou.