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Investimentos chineses no Brasil recuperaram fôlego em 2023

Após uma queda acentuada em 2022 (78%), os investimentos chineses no Brasil chegaram a US$ 1,73 bilhão em 2023

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03 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Investimentos chineses no Brasil recuperaram fôlego em 2023
O aumento dos aportes chineses no País ocorreu apesar da queda de 17% nos investimentos estrangeiros de forma geral no Brasil.

Após uma queda acentuada em 2022 (78%), os investimentos chineses no Brasil chegaram a US$ 1,73 bilhão em 2023, um crescimento de 33% em relação ao ano anterior. O cálculo foi feito pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC) e está detalhado no Relatório “Investimentos Chineses no Brasil – Novas Tendências em Energias Verdes e Parcerias Sustentáveis 2023”.

Conforme o documento, o aumento dos aportes chineses no País ocorreu apesar da queda de 17% nos investimentos estrangeiros de forma geral no Brasil. Mesmo com a retomada, o valor segue em nível historicamente baixo, sendo o segundo menor desde 2009. No ano passado, o número de projetos de empreendimentos chineses no Brasil ficou em 29, o terceiro maior desde 2007 – mas inferior ao de 2022.

O que ajuda a explicar os volumes mais amenos nos últimos anos, de acordo com o diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, é o fator cambial, com a desvalorização do real. “Se a desvalorização ocorre sem muita volatilidade, de forma relativamente estável, pode até ser algo positivo porque se torna um fator de atração de investimento e que ajuda o Brasil a se tornar um hub de atração de capitais para a América Latina.” O documento aponta que a média do valor do real de 2020 a 2023 foi de R$ 5,18, quase o triplo da média verificada em 2010, ano em que os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 13 bilhões.

O levantamento revela que, em 2017, entre os 10 principais destinos de empreendimentos chineses, apenas três eram países em desenvolvimento. O cenário foi totalmente distinto em 2023, quando os emergentes ocuparam nove das 10 posições, com a Indonésia na liderança e o Brasil em nono lugar. O estoque de investimentos do gigante asiático no mundo segue concentrado nos Estados Unidos.

O Brasil continua sendo o principal receptor de investimentos chineses na América Latina em termos de estoque – tendo absorvido 39% do total aportado desde 2003 -, mas sua liderança tem sido contestada nos últimos anos. Entre 2018 e 2023, o fluxo dos investimentos chineses na região vem sendo direcionado de forma mais intensa a outros países – em especial Chile, Peru e México -, onde as empresas chinesas têm investido em grandes projetos de infraestrutura, manufaturas de alto padrão e mineração – sobretudo na extração de lítio e outros minerais críticos.

“No México, estão fazendo uma coisa muito interessante, buscando produzir localmente no país, para poder exportar para os Estados Unidos sem as tarifas que passaram a ser cobradas para os produtos chineses”, salientou o diretor.

O Brasil já recebeu mais recursos no passado também, conforme Cariello, porque houve uma fase em que os investimentos eram em projetos mais intensivos de capital, como linhas de transmissão, ferrovias e portos, por exemplo. Agora, tratam-se de empreendimentos menores e com necessidades de investimentos menos pesadas.

País mais poluidor do mundo, a China vem buscando formas de se tornar emissor líquido neutro em 2060. Para Cariello, isso explica por que os investimentos do país no Brasil na área verde são o grande destaque: a área de eletricidade liderou a atração de capital produtivo chinês no Brasil em 2023, com participação de 39%, seguido por setor automotivo (33%), com carros híbridos ou 100% elétricos. Dos 29 projetos em andamento por aqui em 2023, 19 faziam parte do setor de eletricidade – ou 66% do total.

“O Brasil já tem uma matriz energética limpa, a mais limpa do G20, então a gente já tem aqui um grande potencial de atração dos investimentos que estão sendo repetidos agora”, avaliou o diretor. “Ou seja, é um movimento que parte também da China, de uma política doméstica, que tem um reflexo na política externa do país, e a gente já tem aqui uma parceria bem consolidada nessa área”, continuou, acrescentando que essa tendência deve continuar nos próximos anos.

A intensificação dos investimentos chineses em “novas infraestruturas” abre uma janela de oportunidade para o Brasil, de acordo com o relatório da CEBC, especialmente em setores ligados à transição energética, onde já há presença consolidada de empresas chinesas no país, com iniciativas em hidrelétricas, energias solar e eólica, baterias elétricas, painéis fotovoltaicos, carros eletrificados, dentre outros. “Somente em 2023, de todos os projetos chineses em território nacional, 72% foram direcionados a energias verdes e segmentos relacionados – o maior porcentual registrado em termos históricos”, trouxe o documento.

Em relação à área geográfica, a região Sudeste absorveu 68% dos projetos chineses no País, seguida pelo Nordeste (16%), Centro-Oeste (13%) e Sul (3%). O Estado de São Paulo segue na liderança na avaliação por unidade federativa, com fatia de 39% – ainda que tenha perdido seis pontos porcentuais em relação a 2022. Na direção inversa, Minas Gerais ganhou participação de oito pontos porcentuais, ao mesmo tempo que a fatia de Goiás aumentou 2 pontos porcentuais.

A pesquisa revelou também que a maior parte dos investimentos chineses ingressou no Brasil em 2023 por meio de iniciativas greenfield – novos negócios ou novas rodadas de investimentos em projetos iniciados em anos anteriores. Essa modalidade respondeu por 83% do número de empreendimentos e 90% do valor aportado.