Economia
Aperto monetário

Ibovespa vai na contramão de NY e sobe 0,72%, aos 118,6 mil pontos

Na semana, o índice Ibovespa ensaiou passar ao positivo, mas ainda cede 0,05% no intervalo, com a perda de força no fim da tarde.

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20 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Ibovespa vai na contramão de NY e sobe 0,72%, aos 118,6 mil pontos
Após série de três perdas, o Ibovespa resistiu até certo ponto à piora de sentimento em Nova York

Após série de três perdas, o Ibovespa resistiu até certo ponto à piora de sentimento em Nova York com o comunicado sobre a decisão de juros do Federal Reserve, no meio da tarde, mas não o suficiente para conservar, em fechamento, a marca de 119 mil, vista em boa parte da sessão.

Ainda assim, encerrou o dia em alta de 0,72%, a 118.695,32 pontos, entre mínima de 117.846,51 e máxima de 119 615,70 na sessão, com giro a R$ 20,1 bilhões, fraco, antes do Copom. Na semana, o índice ensaiou passar ao positivo, mas ainda cede 0,05% no intervalo, com a perda de força no fim da tarde. No mês, ganha 2,55% e, no ano, sobe 8,17%.

Em Nova York, por outro lado, prevaleceu sinal negativo no fechamento desta quarta-feira, com Nasdaq e S&P 500 em baixa, respectivamente, de 1,53% e de 0,94%. Ao fim, o Dow Jones não resistiu à piora dos outros dois índices, em leve baixa de 0,22% no encerramento do dia, após ter se desgarrado mais cedo, como o Ibovespa.

Na B3, desde a manhã, as ações de maior peso e liquidez operaram no positivo, como Itaú (PN +1,69%) e demais grandes bancos (Unit do Santander +1,10%, BB ON +0,89%, Bradesco PN +0,41%), assim como as dos carros-chefes das commodities, com Vale (ON) chegando a acentuar ganho acima de 1% à tarde, embora limitado a 0,67% no fechamento. O dia foi moderadamente positivo também para Petrobras (ON +0,13%, PN +0,23%), apesar do sinal negativo do petróleo na sessão.

Na ponta do Ibovespa, destaque para o salto de 11,68% para as ações da Azul, com a elevação da recomendação do Goldman Sachs para a companhia aérea, de neutra para compra. A sessão também foi positiva para a outra aérea, Gol, em alta de 6,09% no fechamento, entre CVC (+7,62%) e Alpargatas (+4,74%) na quarta-feira. No lado oposto, Pão de Açúcar (-5,93%), Braskem (-4,12%) e PetroReconcavo (-2,38%).

Assim, o Ibovespa, que operava com ganho na casa de 1,3% antes do Fed, reagiu pouco à relativa deterioração de Nova York a partir do meio da tarde, com os sinais emitidos pelo BC americano. Entre os principais fatores para a piora de confiança dos investidores lá fora, os dirigentes do Federal Reserve elevaram as projeções para a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 2024 e 2025, no gráfico de pontos (“dot plot”), em relação aos patamares indicados no documento anterior, de junho.

Por outro lado, dentre os 19 dirigentes presentes na reunião desta semana do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve, 13 esperam que os juros básicos cheguem ao fim de 2024 em um nível menor que o atual, de 5,25% a 5,50%, faixa que foi mantida pelo comitê na reunião concluída nesta tarde.

Após a decisão, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou que os efeitos totais da política monetária restritiva, adotada pelo BC americano desde março de 2022, ainda serão sentidos. “Continuamos fortemente comprometidos em atingir a meta de inflação de 2%”, reiterou Powell, na entrevista coletiva.

Após romper o piso psicológico de R$ 4,85 pela manhã e trabalhar ao longo da tarde em queda moderada, o dólar à vista ganhou fôlego na última hora de negócios e encerrou a sessão de quarta-feira, 19, em alta de 0,15%, cotado a R$ 4,8802 – nível muito próximo da máxima do dia, a R$ 4,8807, registrada nos últimos minutos do pregão. Esse movimento se deu em meio a ganhos da moeda americana no exterior, em especial em relação a divisas fortes, e a novas máximas das taxas dos Treasuries de 2 anos, enquanto investidores digeriam declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.

Para o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, o tom do comunicado foi duro. Ele chama a atenção para o fato de os integrantes do Fed passarem a prever inflação mais alta, maior crescimento econômico e menor taxa de desemprego. “No fundo, as projeções mostram que o trabalho dele está mais difícil. Powell reforçou que o Fed está data dependent e até deixou a porta aberta nova alta. Mas a mensagem principal é de juro em nível elevado por mais tempo”, afirma Jolig, para quem a reação inicial positiva do mercado causou estranheza.

O Citi avalia que o Fed “enviou uma mensagem hawkish sem ambiguidades”. O banco destaca, em comentário a clientes, que o BC dos EUA continua a prever uma elevação de 25 pontos-base ainda para este ano, que para o Citi deve ocorrer em novembro. A mudança no gráfico de pontos é sinal de que o Fed planeja “manter juros mais elevados por mais tempo”, acredita o Citi.