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Ibovespa tem leve realização de lucros após longa série ganhadora

O primeiro ajuste negativo deste julho foi discreto, com o índice em baixa de 0,16%, a 129 110,38 pontos no fechamento da sessão

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17 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Ibovespa tem leve realização de lucros após longa série ganhadora
As ações dos maiores bancos foram bem na sessão, com destaque para Santander (Unit +1,55%, na máxima do dia no encerramento)

O Ibovespa chegou a zerar as perdas do dia no meio da tarde, mas não conseguiu virar para o positivo, após rara sequência de 11 altas que colocou os ganhos acumulados na primeira quinzena do mês em 4,37%.

O primeiro ajuste negativo deste julho foi discreto, com o índice em baixa de 0,16%, a 129 110,38 pontos no fechamento da sessão, em que oscilou dos 128 760,81 (mínima) até os 129.520,99, na máxima. Ainda moderado, o giro ficou em R$ 17,9 bilhões. No mês, o Ibovespa sobe agora 4,20%, limitando a perda do ano a 3,78%.

Com o minério de ferro em baixa de quase 1% em Dalian (China) e de 1,55% em Cingapura, Vale, que anuncia o relatório de produção do segundo trimestre após a sessão desta terça-feira, encerrou no negativo (ON -1,05%), em dia de retração para outro peso-pesado do índice, Petrobras (ON -0,51%, PN -0,26%).

Por outro lado, as ações dos maiores bancos foram bem na sessão, com destaque para Santander (Unit +1,55%, na máxima do dia no encerramento) e Bradesco ON (+0,70%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Gerdau (+2,15%, também na máxima do dia), ISA CTEEP (+2,09%) e SLC Agrícola (+2,06%), com Pão de Açúcar (-7,94%), Magazine Luiza (-4,88%) e Cogna (-4,15%) na fila oposta.

No cenário doméstico, o mercado segue tomando nota dos desdobramentos em torno da condução fiscal, com muitas indefinições ainda aguardando resposta – como a compensação da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia. No meio da tarde, o Ibovespa chegou a zerar as perdas da sessão, durante fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pouco depois de trechos da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Record terem sido antecipados pelo site R7.

Pouco antes das palavras de Haddad, Lula da Silva disse que ainda precisa ser convencido sobre a necessidade de cortar gastos, e reiterou que a única coisa fora de controle na economia brasileira ainda é a taxa de juros – retomando assim, ainda que moderadamente, um discurso crítico ao Banco Central que havia lançado, recentemente, o dólar a R$ 5,70.

Apesar do dólar em baixa de 0,28%, a R$ 5,4294, e com a curva de juros também em retração nesta terça-feira, o Ibovespa fez uma pausa após longa sequência ganhadora, em extensão rara de ser vista. Até ontem, foram 11 sessões de alta consecutiva para o índice da B3, igualando série vista na passagem de 2017 para 2018 – no milênio, séries semelhantes foram vistas também em agosto de 2003 e entre julho e o começo de agosto de 2010.

Dólar

O dólar apresentou queda moderada na sessão desta terça-feira, 16, mas se sustentou acima da linha de R$ 5,40. O real se beneficiou hoje do recuo firme das taxas dos Treasuries, na esteira da consolidação das apostas em corte de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro, e da valorização de divisas emergentes pares, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

Operadores afirmam que a cautela com a condução das contas públicas impede uma queda mais pronunciada da moeda americana. Não por acaso, o dólar operou pontualmente em terreno positivo no início da tarde, superando o nível de R$ 5,46, em meio à divulgação de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à TV Record, colocando em dúvida a necessidade de corte de gastos.

Com mínima a R$ 5,4063 e máxima a R$ 5,4630, o dólar à vista encerrou em baixa de 0,28%, cotado a R$ 5,4294. Na semana, a moeda está praticamente estável (-0,03%). No mês, apresenta queda de 2,84%. Apesar de apreciação consistente em julho, o real ainda tem desempenho inferior a de seus principais pares entre divisas emergentes, como os pesos mexicano, chileno e colombiano. Analistas afirmam que o quadro fiscal doméstico limita o fôlego da moeda brasileira.

Investidores trabalham na expectativa em torno da magnitude do bloqueio ou contingenciamento que será divulgado no relatório bimestral de receitas e despesas no próximo dia 22. Há ainda dúvidas sobre o acordo entre governo e Senado em relação às medidas de compensação da desoneração da folha de pagamentos. Com o mercado de câmbio já fechado, saiu a notícia de que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vai pedir ao Supremo Tribunal Federal que a desoneração seja prorrogada até 30 de agosto.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – rondava a estabilidade no fim da tarde, na casa dos 104,200 pontos, após trabalhar em leve alta ao longo do dia. Já as taxas dos Treasuries caíram em bloco, com o retorno da T-note de 10 anos na casa de 4,16%. Dados mais fortes que o esperado das vendas no varejo nos EUA em junho não esfriaram as apostas em corte de juros pelo Fed em setembro e redução total de 75 pontos-base em 2024.

Juros

Os juros futuros recuaram nesta terça-feira, influenciados pela consolidação das apostas na queda do juro nos EUA em setembro que, por sua vez, jogou para baixo os rendimentos dos Treasuries, favorecendo também um alívio no câmbio. A queda das taxas foi mais firme pela manhã, perdendo fôlego à tarde após declarações do presidente Lula sobre a necessidade de corte de gastos.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,575%, de 10,589% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 cedia a 11,09% (de 11,17%). O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,35%, de 11,43% ontem, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,71%, de 11,76%.

A agenda local esvaziada já deslocava o foco para o exterior logo cedo. Nos EUA, a estabilidade das vendas do varejo em junho contrariou o consenso de queda de 0,2%, reduzindo as apostas num orçamento de redução de até 75 pontos-base nos juros neste ano, mas manteve intacta a percepção de que o ciclo do ciclo será em setembro.

“Depois do CPI e da fala de Powell ontem, a expectativa é de que o Fed já telegrafe no encontro deste mês a intenção de reduzir em setembro”, aponta o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal. Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que os dados do segundo trimestre ampliaram a confiança de que a inflação caminha de volta à meta de 2%, embora tenha evitado sinalizar sobre o timing para queda de juros.

O yield da T-Note de 10 anos se afastou ainda mais da marca de 4,20%, rodando nos 4,16% no fim da tarde, o que ajudou a trazer o dólar para mais perto dos R$ 5,40. A melhora do câmbio ajuda a aliviar a curva, na medida em que pode tirar pressão da inflação de curto prazo, especialmente nos bens industrializados.