Economia
Dólar cai

Ibovespa registra valorização de 20% e ultrapassa os 117 mil pontos

O mercado acionário brasileiro vem ganhando força nas últimas semanas, à medida que diminuíram incertezas no cenário local e externo.

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09 de junho de 2023
Ibovespa registra valorização de 20% e ultrapassa os 117 mil pontos
Foto: Reuters

O Ibovespa computou fortes ganhos na sessão de sexta-feira, 9, a sexta seguida de elevação e a que marcou a entrada do índice em território de “bull market” (mercado de alta). Foi também a sétima subida semanal consecutiva da Bolsa (+3,96%), igualando-se à sequência registrada em dezembro de 2020. Perspectivas de redução em breve da Selic, aposta em pausa no aperto monetário do Federal Reserve e expectativa por estímulos na China apoiaram a nova rodada de compra de ações. Ao fim da sessão, o índice estava em 117.019,48 pontos (+1,33%), mais alta marca de fechamento desde 4 de novembro.

Logo nos primeiros minutos da sessão, o Ibovespa atingiu o “bull market”, ou seja, a valorização de 20% do seu mais recente piso os 96.996,84 pontos, vistos em 23 de março – dia seguinte à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em que o Banco Central endureceu o tom em relação à desancoragem das expectativas e foi alvo de críticas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O mercado acionário brasileiro vem ganhando força nas últimas semanas, à medida que diminuíram incertezas no cenário local e externo. O pessimismo com as primeiras medidas do governo Lula 3 e a retórica do Planalto contra o Banco Central deu lugar à desinflação mais forte do que a projetada, ao andamento célere do arcabouço fiscal no Congresso e à aposta de corte já em agosto da Selic. Lá fora, a crise bancária foi arrefecida com medidas do Fed ao mesmo tempo que a aposta em pouso suave da economia dos Estados Unidos (soft landing) cresceu.

Na quarta-feira da próxima semana, o BC dos EUA decide juros e, após dados de auxílio-desemprego na quinta-feira, a chance de uma pausa nas altas é calculada na curva dos Fed Funds em 70%, segundo o CME Group. Na quinta-feira, é a vez de o Banco Central Europeu subir juros. E na madrugada de sexta-feira, o Japão deve deixar inalterada a sua política monetária ultrafrouxa.

Também para a próxima semana, cresceu o otimismo do mercado financeiro sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Cerca de 55,56% dos respondentes avaliam que a próxima semana será de alta para o Ibovespa, ante 44,44% na pesquisa anterior. Os que esperam estabilidade são 22,22% e os que acreditam em queda, também 22,22%. Na pesquisa anterior, a expectativa de baixa tinha 11,11% do total e a de variação neutra, 44,44%.

Em termos de liquidez, o Ibovespa teve giro de R$ 29,1 bilhões, acima dos R$ 25 bilhões de média no ano até quarta-feira, 7. A maior alta do índice foi da Gol (+7,28%) e a maior queda, do Iguatemi (-2,17%). Dos 86 papéis que compõem o indicador acionário, 60 subiram.

O dólar à vista encerrou a sessão de sexta-feira, 9, em queda de 0,97%, cotado a R$ 4,8763 – abaixo de R$ 4,90 pela primeira vez desde 15 de maio e no menor valor de fechamento desde 7 de junho de 2022. Operadores relataram entrada de fluxo comercial e financeiro, tanto para ações domésticas quanto para a renda fixa A moeda recuou em cinco dos últimos seis pregões e, com baixa de 1,54% na semana, já acumula desvalorização de 3,88% em junho.

O real se beneficiou da onda de apetite ao risco no exterior em meio à perspectiva de interrupção da alta de juros nos EUA no encontro de política monetária Federal Reserve (Fed, o BC americano) na semana que vem e de adoção de estímulos pelo governo chinês.

Divisas emergentes e de países exportadores de commodities subiram em bloco, embora dois pares do real (peso chileno e colombiano) tenham destoado. Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta, com ganhos frente ao iene e ao euro, em um ajuste após a queda de quinta, quando voltou a ser negociado abaixo da linha dos 104,000 pontos.

O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que, de maneira geral, as divisas de mercados emergentes se valorizaram nos últimos dois dias em razão de uma combinação de indicadores americanos e chineses. O real, que vinha sofrendo mais que seus pares, apresentou, na volta aos negócios, o melhor desempenho entre as moedas emergentes mais relevantes.

“O mercado precifica que Fed manterá taxa de juros inalterada na próxima semana e que a China pode promover mais easing (afrouxamento)”, afirma Oliveira, que mantém previsão de que a taxa de câmbio local oscile entre R$ 4,85 e R$ 4,95 nos próximos meses, voltando a se “estabilizar em R$ 5,00 no fim do ano”.

O economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, observa que, apesar da surpresa com o aumento de juros pelos bancos centrais do Canadá e da Austrália nesta semana, a perspectiva ainda é de que Fed não anuncie nova elevação da taxa básica americana.

“Os dados de novos pedidos de seguro desemprego vieram fortes ontem, quando foi feriado no Brasil. Isso endossa a possibilidade de o Fed fazer uma pausa no aumento de juros na semana que vem, o que ajuda moedas como o real”, afirma Galhardo, para quem a tendência ainda é de queda do dólar no mercado doméstico.

Os juros futuros tiveram forte queda, em especial nos contratos intermediários, que nas mínimas da sessão chegaram a recuar mais de 20 pontos-base. Num dia de agenda e noticiário locais esvaziados, o movimento foi determinado pelo aumento do apetite ao risco no exterior, onde a percepção de que o espaço para aperto de juros em nível global está se fechando alimentou o fluxo para ativos emergentes.

A liquidez, contudo, foi abaixo do padrão. De todo modo, a ponta curta já embute probabilidade marginal de que o Copom inaugure o ciclo de corte da Selic em agosto com uma dose de 50 pontos-base. No acumulado da semana, as taxas desabaram de forma generalizada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 13,02%, menor nível de fechamento desde 22/3/2023 (13,00%), de 13,092% no ajuste de quarta-feira, chegando a tocar 13,00% na mínima. A do DI para janeiro de 2025 terminou a 11,07%, no menor nível desde 7/2/2022 (11,02%), de 11,25% no último ajuste.

A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 10,50% (de 10,64% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,84% (de 10,94%). Na semana, a ponta curta teve alívio em torno de 20 pontos e a intermediária, de 40 pontos. As taxas longas cederam cerca de 25 pontos.