Economia

Ibovespa cai 0,25% com agenda e giro ainda fracos

Com agenda esvaziada aqui e no exterior, o giro da Ibovespa ficou em R$ 21,7 bilhões na sessão desta quarta-feira.

Compartilhe:
20 de julho de 2023
Vinicius Palermo
Ibovespa cai 0,25% com agenda e giro ainda fracos
Nesta quarta-feira na B3, dentre as ações de maior peso e liquidez, Petrobras (ON +0,56%, PN +0,94%) deu algum amparo ao Ibovespa

O Ibovespa testou leve alta perto das 16h, mas, com giro financeiro ainda fraco, não encontrou fôlego para cortar a acomodação que tem prevalecido em julho, após o sprint do mês anterior. No fechamento desta quarta-feira, à espera de vetores que orientem os negócios – especialmente a decisão sobre a taxa de juros dos Estados Unidos, na próxima semana -, o índice da B3 mostrava perda de 0,25%, aos 117.552,07 pontos, entre mínima de 116.659,55 e máxima de 118.011,46 pontos (+0,14%), saindo de abertura aos 117 841,92.

Com agenda esvaziada aqui e no exterior, o giro ficou em R$ 21,7 bilhões na sessão, um pouco acima do visto desde a última segunda-feira. Na semana, o Ibovespa passa no fechamento de hoje do positivo ao negativo (-0,13%), colocando as perdas do mês a 0,45%. No ano, o índice avança 7,12%.

“O mercado de dólar caiu um pouquinho hoje, mas ainda trabalhando em torno da casa de R$ 4,80 que corresponde à atual situação macroeconômica. A Bolsa, por sua vez, foi aos 116 mil pontos do Ibovespa, na mínima, que ainda é uma grande barreira – aos 116, 117 mil -, patamar para o qual o índice tem retroagido há quase um ano, com realização acima desse nível ainda no momento”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Ele acrescenta que, na ausência de outros catalisadores de peso, o mercado observa certa acomodação à espera da muito aguardada decisão do Federal Reserve sobre juros, na próxima quarta-feira. “Os números desta semana sobre a atividade americana, com dados de varejo e emprego abaixo do esperado, mostram que o ‘efeito juros’ está entrando na economia, mas é preciso esperar um pouco para entender como o Fed está lidando com isso”, diz.

O economista aponta que o mercado se mantém dividido em relação ao que pode acontecer com os juros nos Estados Unidos, considerando que os balanços corporativos do segundo trimestre, divulgados até o momento, têm mostrado solidez, com resultados em geral acima das expectativas.

Nesta quarta-feira na B3, dentre as ações de maior peso e liquidez, Petrobras (ON +0,56%, PN +0,94%) deu algum amparo ao Ibovespa, na contramão do leve ajuste negativo nos preços da commodity na sessão. Na ponta do índice, destaque para WEG (+5,48%), Cielo (+2,58%), 3R Petroleum (+2,24%) e Prio (+2,22%), com Alpargatas (-7,66%), Pão de Açúcar (-4,62%), Méliuz (-4,27%) e Locaweb (-4,07%) no lado oposto.

“Os resultados trimestrais da WEG deram impulso às ações da empresa, em sessão que contou também com outro destaque corporativo, os dados de produção e vendas da Vale, da noite anterior”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. Nesta quarta-feira, as ações da mineradora fecharam em leve baixa de 0,27%.

Segundo a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert, o relatório de produção e vendas da Vale, ontem, mostrou certa recuperação de resultados operacionais, e estabilidade na produção. Mas, quanto ao minério de ferro, principal produto da empresa, a analista aponta que a demanda na China continua fraca, o que mantém patamar desafiador para a comercialização da commodity. “Reduzimos nossas projeções de vendas para o ano, uma vez que a demanda na China deve limitar a recuperação do volume vendido no segundo semestre de 2023”, diz.

No quadro macro, mais à frente, há alguns fatores que podem resultar em volatilidade na B3, uma vez encerrado o recesso do Congresso, no começo de agosto. “Os principais pontos de debate e incerteza no mercado, por aqui, devem vir com a segunda parte da reforma tributária, que deve tratar de tributação sobre dividendos, mudanças no IRPJ, além de novas revisões da tabela de IRPF e outros temas relacionados à tributação de renda”, observa Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos.

Dólar

O dólar à vista recuou 0,48% em relação ao real nesta quarta-feira, 19, a R$ 4,7857, contrariando a valorização global da divisa americana. Operadores atribuem o movimento a um fluxo positivo, em meio ao fortalecimento de commodities agrícolas. Como resultado do movimento, a moeda americana zerou os ganhos em relação à brasileira na semana e no mês, e passa a cair 0,19% e 0,08%, respectivamente.

Em meio à baixa liquidez da sessão, a moeda americana oscilou pouco mais de quatro centavos entre a mínima, de R$ 4,7822 (-0,55%), e a máxima, de R$ 4,8224 (+0,28%). Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto movimentou pouco mais de US$ 9 bilhões – 25% a menos do que a média das últimas trinta quartas-feiras -, e, às 17h20, cedia 0,62%, a R$ 4,7950.

Profissionais do mercado atribuem parte da valorização do real na sessão ao desempenho das commodities agrícolas, que avançaram em bloco após o fim do acordo do Mar Negro, que permitia exportações da Ucrânia durante a guerra, e ataques russos a portos no país. Assim, apesar de quedas moderadas do petróleo Brent (-0,21%) e WTI (-0,49%), soja (+0,97%), milho (+3,46%) e óleo (+2,78%) avançaram na Bolsa de Chicago.

“O que está beneficiando a nossa moeda é a questão das commodities, que dispararam depois do ataque da Rússia aos portos da Ucrânia. O dólar subiu lá fora e tentou subir aqui, mas acabou se segurando nesse nível, abaixo de R$ 4,80”, afirma o operador de câmbio da Fair Corretora Hideaki Iha.

No exterior, o índice DXY retomou o nível dos 100 pontos, em alta de 0,33%, a 100,268, após dados de inflação da zona do euro e no Reino Unido pressionarem as moedas locais. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do Reino Unido desacelerou de 8,7% em maio para 7,9% em junho, abaixo do consenso do mercado (8,1%), e o CPI da zona do euro passou de 6,1% para 5,5% no período, em linha com as expectativas.

O fluxo cambial para o Brasil foi positivo em US$ 3,876 bilhões em julho, até o dia 14, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central. O canal financeiro teve entrada líquida de US$ 1,253 bilhão e o comércio exterior teve fluxo positivo de US$ 2,623 bilhões. No ano, o fluxo cambial é positivo em US$ 18,892 bilhões, com saída de US$ 12,777 bilhões pelo canal financeiro e entrada de US$ 31,669 bilhões pelo canal comercial.

Juros

Na contramão da queda do dólar e das curvas de juros globais, as taxas futuras subiram na B3, em movimento limitado a ajustes técnicos de posições após as duas últimas sessões em baixa. Com o noticiário e a agenda domésticas novamente esvaziados nesta quarta-feira, o mercado de juros local teve poucas referências para operar, enquanto no exterior sinais mais firmes de desinflação na Europa trouxeram alívio à perspectiva sobre o aperto monetário dos bancos centrais.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,770%, de 12,753% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,80%, de 10,72%. O DI para janeiro de 2027 terminou o dia com taxa de 10,22%, de 10,14%. A taxa do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,49% para 10,58%.

As taxas tiveram avanço moderado, recompondo parte dos prêmios devolvidos ontem e anteontem, mas ainda insuficiente para recolocá-las nos níveis do fechamento na sexta-feira. A dinâmica, portanto, não teve respaldo em fundamentos, que seguem indicando queda da Selic a partir de agosto. “Hoje não teve notícia, nem nada de diferente que justificasse essa abertura da curva. O corte de pelo menos 0,25 ponto da Selic em agosto está dado”, afirma a economista-chefe do TC, Marianna Costa.

O mercado está posicionado para uma dose mínima de redução da taxa básica no próximo Copom, considerando os núcleos de inflação ainda desconfortáveis e a comunicação recente do Banco Central, que fala em “parcimônia” ao tratar da conjuntura atual. Por outro lado, o mercado considera nada desprezível a possibilidade de um afrouxamento de 0,5 ponto, dados os sinais também de desaceleração da atividade, como os emitidos pela queda de 2% do IBC-Br de maio.

“Avaliamos que seria prudente o Bacen iniciar o corte da taxa básica em 0,25 ponto para 13,5% em agosto, para a aceleração em 0,50 ponto na decisão de setembro. Os núcleos e a inflação de serviços ainda não corroboram convergência à trajetória de metas até 2024”, comenta Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust. O único indicador da agenda local hoje, sem influência sobre os negócios, foi a segunda prévia do IGP-M de julho, que registrou deflação de 0,72%, ante -1,78% na mesma prévia de junho.

No exterior, a queda da inflação na zona o euro, de 6,1% em maio para 5,5% em junho em base anualizada, e no Reino Unido, no mesmo período, de 8,7% para 7,9% – e abaixo das estimativas de 8,1% -, trouxe alívio para os bônus europeus, em especial os Gilts britânicos. A curva americana acompanhou e também cedia nos prazos longos, enquanto a taxa da T-Note de 2 anos tinha alta moderada. Os índices de preço reforçaram a percepção de uma desaceleração conjunta do ritmo de ajuste monetário dos bancos centrais.