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Cautela

Guillen diz que expectativas de inflação continuam estacionadas em 3,5%

Esses dados sobre as estimativas dos agentes financeiros fazem parte do relatório de mercado Focus divulgado semanalmente pela autoridade monetária.

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10 de janeiro de 2024
Vinicius Palermo
Guillen diz que expectativas de inflação continuam estacionadas em 3,5%
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse na quarta-feira, 10, que as expectativas de inflação para 2025, 2026 e 2027 continuam estacionadas em 3,5%, 0,5 ponto porcentual acima do centro da meta, de 3%. Esses dados sobre as estimativas dos agentes financeiros fazem parte do relatório de mercado Focus divulgado semanalmente pela autoridade monetária.

Ainda sobre a inflação doméstica, o diretor disse, em evento virtual promovido pelo JPMorgan, que a inflação doméstica de serviços caiu, mas em ritmo menor que bens industriais.

O diretor afirmou também que o ambiente global continua volátil, mas um pouco menos adverso do que no momento da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) anterior.

Ele citou, por exemplo, que os núcleos de inflação têm caído em diferentes regiões e que será importante acompanhar de perto os próximos índices. “Tem havido avanço na desinflação de núcleos em várias regiões”, disse.

O diretor, o primeiro do BC a se pronunciar publicamente em 2024, pontuou que o ambiente global continua requerendo cautela por parte das economias emergentes, ainda que elas apresentem processo de desinflação mais claro.

De qualquer forma, Guillen comentou que os bancos centrais das principais economias têm ficado atentos e atuantes para trazer os preços para patamares mais baixos.

O diretor disse que o Copom continua a acreditar que não há significativa pressão dos salários, ainda que os dados apresentados sejam diferentes entre si. Enquanto o Caged revela certa manutenção da renda, a Pnad mostrou uma leve elevação.

De forma geral, o diretor disse que o mercado de trabalho no Brasil passa por alguma transformação. Ainda não está claro, segundo ele, se isso é fruto da aprovação da reforma trabalhista “Há dificuldades de dimensionar”, comentou.

Guillen também afirmou que os impactos da política monetária no crédito estão em linha com as expectativas. Em dezembro, o Copom cortou a Selic pela quarta vez consecutiva em 0,50 pp, para 11,75% ao ano.

O colegiado manteve a sinalização de que o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual continua sendo o mais apropriado para as próximas reuniões, no plural.

Na coletiva do último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, enfatizou que essa mensagem vale para dois encontros: de janeiro e março de 2024.

O diretor do BC disse ainda que, como a autoridade monetária não tem uma meta de câmbio, não houve razões para intervenções em 2023. Ele lembrou que o BC não fez nenhuma intervenção no mercado cambial no ano passado e que isso ocorreu pela primeira vez desde 1999, quando o País adotou o sistema de câmbio flutuante dentro do tripé econômico, que leva em conta também metas de inflação e a área fiscal.

“Quando intervimos no mercado? Quando o mercado requer alguma intervenção”, minimizou o diretor.
Ele salientou que alguns países sofreram mais com o câmbio no ano passado, mas que o comportamento no Brasil ocorreu dentro do desejável.

O diretor ponderou ainda que um cenário de volatilidade e incertezas sempre pede cautela por parte da política monetária. Ele disse que a autoridade monetária tem sido muito transparente sobre as discussões em torno do ritmo de queda da taxa básica de juros, a Selic.

Guillen comentou que a sinalização dos próximos passos do colegiado tem sido na direção de duas reuniões à frente, mas evitou dar um horizonte para o patamar esperado para a Selic ao final do ciclo, argumentando que isso seria mais um ruído para o mercado financeiro, e não necessariamente um sinal sobre a atuação do Copom. “A comunicação dos próximos passos do Copom deve pesar entre ruído e sinal”, disse.

Em dezembro, o Copom cortou a Selic pela quarta vez consecutiva em 0,50 pp, para 11,75% ao ano. O colegiado manteve a sinalização de que o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual continua sendo o mais apropriado para as próximas reuniões – no plural.

Campos Neto já havia enfatizado que essa mensagem vale para dois encontros: de janeiro e março de 2024. “Somos confiantes em manter o guidance para duas reuniões à frente”, afirmou.

Guillen voltou a dizer que não há relação mecânica entre as decisões do Copom e o cenário internacional de juros, em especial sobre as decisões do Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano). “Para o Copom, não há relação mecânica com o que o Fed tem feito”, afirmou. Ele salientou que as decisões do colegiado levam em conta o arcabouço fiscal e a meta de inflação, e que assim continuará.

O diretor avaliou que alguns bancos centrais foram mais agressivos ao decidirem cortar os juros, enquanto outros estão mais dependentes dos dados a cada reunião sobre as taxas.

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que a autoridade monetária está mais confiante em seu modelo atualmente do que estava em 2022, passada a pandemia, quando ainda se tratava de um período com muitas dúvidas sobre os reais impactos do surto sobre a economia. “Vejo que o modelo do BC volta a funcionar como deveria, após erros de projeção da pandemia”, afirmou.

O diretor ponderou que ainda há algumas surpresas, como no setor de serviços, por exemplo, mas que elas já não são mais tão grandes.  Ele mencionou também que os preços das commodities caíram mais que o esperado no primeiro estágio de desinflação.

Para tornar o modelo mais próximo da realidade, o diretor explicou que o BC ampliou o impacto do El Niño em seus dados. Questões relacionadas à sustentabilidade e preços têm sido bastante constantes nos discursos recentes de porta-vozes da autoridade monetária.

O presidente da instituição já chegou a dizer que o número de calamidades tem aumentando em um ritmo exponencial e que isso tem e terá relação com o setor financeiro. Portanto, defende ele, é um tema para o qual o BC deve olhar constantemente.

O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou que os países têm lutado contra a inflação e que a maioria está voltando para intervalo das metas em 2024 e 2025. No evento virtual promovido pelo JPMorgan, ele comentou que, nos Estados Unidos, há um movimento de desinflação, mas ainda em níveis que não são compatíveis com a meta.

Guillen citou o cenário do mercado de trabalho no país, salientando que a questão do comportamento dos salários pode ser crucial para a formação de cenários futuros. Ainda sobre a economia americana, o diretor salientou que ainda há incertezas em relação ao ritmo de crescimento do país.

Também comentou sobre a queda dos juros futuros entre as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro e dezembro, citando especificamente as Treasuries com vencimento de 10 anos nos EUA. “Não há relação mecânica entre cenário externo e a política monetária”, disse, mencionando os mecanismos de transmissão para o Brasil e defendendo que o BC tem sido transparente sobre esse tema.

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que o consumo de bens duráveis apresentou uma trajetória recente de queda, mas que outros setores de consumo continuam elevados. Há também, de acordo com ele, um movimento de “alguma acomodação” no segmento de serviços.

No evento virtual promovido pelo JPMorgan, Guillen disse que o BC vê alguma redução nos índices de confiança na margem. Ele comentou também que pode haver pressões inflacionárias por parte dos investimentos, mas apenas em alguns setores e não de forma generalizada.

O diretor voltou a dizer que, em relação ao crescimento no Brasil, o setor agrícola foi responsável pela surpresa positiva do Produto Interno Bruto (PIB).