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Guillen admite forte compromisso da política monetária para atingir meta da inflação

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse na quinta-feira, 5, que a visão do Comitê de Política Monetária (Copom) não mudou.

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05 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Guillen admite forte compromisso da política monetária para atingir meta da inflação
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse na quinta-feira, 5, que a visão do Comitê de Política Monetária (Copom) não mudou e que o objetivo é fazer o que for necessário para convergir a inflação à meta da autoridade, de 3% ao ano. “Há forte compromisso da política monetária para atingir a meta da inflação”, disse ele, durante palestra, por videoconferência, no Global Emerging Markets One-on-One Conference, evento organizado pelo UBS/UBS BB, em Nova York.

“Faça o que tiver de ser feito e a credibilidade vem”, acrescentou Guillen, ao ser questionado se as ações do BC no ciclo atual visam a gerar uma maior credibilidade junto ao mercado.

Segundo ele, o BC toma decisões com base nas dinâmicas do cenário e também considerando os movimentos necessários para atingir a meta da inflação. “A nossa visão não mudou. O foco é fazer o que precisar para convergir inflação à meta”, disse.

O diretor do BC destacou ainda que a ancoragem das expectativas permite menores custos para o processo de desinflação.

Ele também voltou a falar sobre uma maior confiança no modelo do Banco Central. “Acho que podemos confiar no modelo. Usar o modelo é o melhor caminho para alcançar a meta da inflação”, concluiu.

Ao ser questionado, na palestra, sobre se os membros do Copom do Banco Central estariam falando demais nos últimos tempos, o diretor de Política Econômica brincou com o economista-chefe da instituição, Alexandre de Ázara, dizendo que poderia encerrar sua participação, se esta fosse a análise geral.

“Se você quiser, eu posso ir. Se eu estou falando muito, eu posso ir. Mas eu não acho que não estamos falando muito. Falar e atualizar o cenário, eu acho que é importante, é parte da transparência que queremos”, argumentou Guillen, acrescentando que esta transparência também é buscada nos textos oficiais de comunicação da instituição e repetindo que também é a baliza ao revelar sobre como os diferentes membros do Copom pensam sob diferentes perspectivas.

O diretor comentou também que essa postura está relacionada à autonomia do Banco Central, cujos diferentes membros contam agora com diferentes mandatos. “Eu acho que é bom ter essa transparência. E é parte de um processo de aprendizagem para ver que alguns têm diferentes perspectivas, alguns concordam. Você começa a aprender sobre o que eles concordam ou não concordam. Eu acho que isso é um bom framework”, defendeu.

Guillen chegou a comentar que concordaria com o anfitrião quando, em algum momento, há muita fala sem sinais. “Mas eu acho que estamos longe disso.”

O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou no mesmo evento que a transparência na comunicação é mais importante do que o Copom querer mostrar uma unidade de seu pensamento. “O que vimos nas últimas duas reuniões, a forma como olhamos o cenário, a forma como colocamos a reação política, sugere uma visão unificada no comitê”, argumentou. “Eu acho que é mais importante mostrarmos que somos transparentes, revelar onde concordamos e onde não concordamos, e oferecer a explicação do porquê concordamos.”

Em relação ao cenário externo, Guillen disse que há ainda muitas incertezas em relação à ação do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) e agora o BC também está incorporado o debate sobre os impactos de suas políticas. “Os recentes movimentos continuam a sugerir que há muita incerteza, mas algumas delas foram resolvidas”, comentou.

Além disso, ele citou a importância de monitorar o ritmo de desaceleração da economia mundial, dando ênfase ao mercado de trabalho.

O diretor comentou ainda o monitoramento em relação à economia da China, que, segundo ele, não sofreu muitas alterações nos últimos meses. “A incerteza tem sido reduzida, mas alguns desafios ainda estão aí, como a questão do fisco nos Estados Unidos, a China, como vai ser a forma dessa desaceleração nos Estados Unidos. E para se adicionar a isso, ainda no cenário externo, acho que a política monetária não é tão correlata como era um ano e meio atrás”, comparou.

Diogo Guillen disse também que as expectativas para a inflação no País não têm se movido muito, mas registrado apenas pequenas mudanças. “É algo que nos mantém desconfortáveis. Vimos algumas pequenas mudanças na Pesquisa Focus”, afirmou, durante a palestra.

A história principal continua a ser a mesma, de acordo com o diretor: dar mais ênfase à condução da política monetária para levar as expectativas de inflação de volta à meta – porque isso reduziria os custos dessa inflação – do que tentar encontrar os motivos que levaram à elevação das expectativas.

Guillen citou parte da comunicação oficial do BC e acrescentou que os porta-vozes da instituição já declararam algumas vezes que estão monitorando alguns movimentos para verificar se eles estão persistentes ou não e, se eles estiverem persistentes, terão impactos inflacionários. “Nós temos tentado ser transparentes”, afirmou. “É importante que todos entendam aonde o Copom está”, acrescentou.

O diretor voltou a dizer que o colegiado tem atuado de forma cuidadosa, vigilante e monitorando todos os pontos. “Eu acho que isso mostra a unidade do Comitê. E mais importante: o comitê não queria dar um guidance e decidiu ser dependente de dados”, argumentou.

Ele continuou lembrando que a cúpula do BC deixou claro que, se precisasse, estava em aberto a possibilidade de subir a Selic. “Eu acho que sem um guidance, a decisão de ser dependente de dados foi uma decisão importante do comitê. Não é uma falta de decisão. Era uma visão do comitê de deixar os dados falarem.”

Ainda sobre o tema, o diretor destacou que o mais importante do que o diagnóstico, ou até da reação política, essa foi a visão de um comitê que busca atingir as metas de inflação. “Tentamos colocar isso pela comunicação”, comentou.

Sobre a coesão entre os integrantes do Copom, ele salientou que diferentes membros têm diferentes ênfases em suas análises. “E isso é bem bom, na verdade, por trazer esses diferentes pontos de vista”, disse, lembrando que as últimas decisões do Copom mostraram uma visão unificada do colegiado.

O diretor de Política Econômica do Banco Central também disse que sua avaliação é a de que o cenário indica que haverá um pouso suave da economia global, com uma desaceleração gradual do crescimento. “Um cenário de soft landing ganhou probabilidade. Então você vê desaceleração, mas uma desaceleração em forma organizada, você vê o mercado de trabalho reduzindo um pouco, mas com o Fed também sugerindo que haverá um ciclo de baixa (dos juros)”, comentou.

Ainda sobre o cenário externo, o diretor enxerga que o quadro internacional está um pouco mais benigno após a reunião do Copom de julho.

Na segunda-feira seguinte ao encontro citado do BC houve uma forte turbulência nos mercados mundiais, chamada de “segunda sangrenta”. “Em algum sentido, eu acho que o cenário externo está um pouco mais benigno com esse pouso suave.”

A política fiscal em muitos países, de acordo com ele, continua a ser uma questão. “Acho que esse é um aspecto que nós estamos enfatizando há algum tempo e é também relacionado a como vão ser as eleições nos EUA”, considerou, acrescentando que estão no radar possibilidades de ainda mais gastos.

Guillen voltou a comentar que a inflação vem se comportando de forma muito heterogênea nos diversos países.

Ainda sobre o Fed, o diretor salientou que se saiu de uma visão de incertezas sobre o ciclo do BC norte-americano para uma de sobre como seriam os efeitos e a extensão desse ciclo.