Economia
Preços agropecuários

Governo eleva para 4,66% a projeção da inflação este ano

Já para 2024, a estimativa de IPCA foi de 3,40% para 3,55%. O último boletim macrofiscal da SPE havia sido divulgado em setembro.

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21 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Governo eleva para 4,66% a projeção da inflação este ano
Guilherme Mello, Secretário de Política Econômica do SPE. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O Ministério da Fazenda revisou para baixo a projeção para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 – enquanto que, para 2024, a expectativa para o índice subiu. De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da Secretaria de Políticas Econômicos (SPE), divulgada nesta terça-feira, 21, a estimativa neste ano passou de 4,85% para 4,66%, abaixo do teto da meta estipulado para 2023, que é de 4,75%. Já para 2024, a estimativa de IPCA foi de 3,40% para 3,55%. O último boletim macrofiscal da SPE havia sido divulgado em setembro.

No documento, a SPE argumenta que, em relação a este ano, o processo de desinflação ocorreu mais rápido do que o inicialmente projetado, principalmente para os componentes subjacentes, levando a inflação para dentro do intervalo proposto pelo regime de metas já em 2023.

Mas, para o próximo ano, a estimativa para inflação medida pelo IPCA avançou em 0,15 ponto porcentual (pp), motivada pelo reajuste de ICMS anunciado pelos Estados, além de mudanças pontuais no cenário projetado para o câmbio e para os preços de commodities. A SPE destacou que, nessa previsão, já estão compatibilizados os efeitos do El Niño nos preços de alimentação, energia e etanol.

Após três meses de aceleração e um alívio no IPCA de outubro, a expectativa inflacionária para 2023 passou para 4,55% no Boletim Focus divulgado na segunda. Para 2024, foco da política monetária, a projeção foi para 3,91%. A meta de inflação para 2023 é de 3,25%, com teto de 4,75%. No caso de 2024, a meta é de 3,00%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

O Ministério da Fazenda revisou também a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – utilizado para a correção do salário mínimo. De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da pasta, a expectativa para o indicador neste ano passou de 4,36% para 4,04%. Para 2024, a projeção foi revisada de 3,21% para 3,25%.

A revisão em -0,32 ponto porcentual para o INPC deste ano reflete a incorporação de valores já divulgados para o Índice em setembro e outubro, apontou a SPE. No ano, a inflação para consumidores com renda mensal de até cinco salários mínimos deverá ser inferior àquela medida pelo IPCA em mais de 0,60 ponto, “evidenciando que o processo desinflacionário vem ocorrendo de maneira mais pronunciada para as menores classes de renda”.

Já a estimativa da Fazenda para a alta do IGP-DI em 2023 foi novamente revisada para recuo, de -3,00% para -3,30%. “Desde o último Boletim, os preços agropecuários do IPA-DI surpreenderam para baixo, voltando a apresentar deflação acentuada em setembro como reflexo da forte queda nos preços de bovinos, leite e ovos. Em outubro, a alta do IPA também foi abaixo da esperada já que a queda nos preços da soja e do leite compensou parcialmente a alta sazonal da batata e a elevação da inflação de bovinos”, apontou. Para o próximo ano, o nível estimado permaneceu em 4%.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse na terça-feira, 21, que a conjuntura internacional “segue complexa”, com incertezas se avolumando, em razão da continuidade de conflitos geopolíticos e das dúvidas acerca da trajetória de crescimento e de inflação das economias centrais. Apontou também que, embora o preço do petróleo tenha caído um pouco nas últimas semanas, os valores ainda estão sujeitos a incertezas.

Em coletiva sobre o novo boletim macrofiscal da SPE, Mello também destacou os efeitos dos Treasuries, que tiveram forte alta recentemente, mas que já começaram a cair nos últimos dias em razão dos dados de inflação dos Estados Unidos.

O cenário, na visão do secretário, aponta que há um aumento na probabilidade de os Estados Unidos conseguirem estabelecer um “pouso suave” na economia.

“Graças a dados de atividade que têm se mostrado resilientes, expectativas de crescimento para 2023 já superam 2% nos EUA. E tem o dado sobre excesso de poupança, que indicava inicialmente esgotamento de poupança, mas teve revisão recente mostrando que ainda há volume razoável, o que poderia justificar queda da atividade mais lenta e suave”, explicou Mello, ressaltando também as chances de o país americano terminar o ano de 2024 com uma inflação mais próxima da meta.

Sobre a China, o secretário pontuou que as perspectivas de crescimento para 2023 melhoraram, ressaltando, contudo, que há riscos ligados a crise imobiliária registrada no gigante asiático. “Para 2023, perspectivas de crescimento melhoraram, provavelmente crescimento um pouco superior a 5% na China, com pequena desaceleração nesse ano e no próximo, mas são taxas robustas, próximas a 4,5%”, disse.
Mello também indicou que, na zona do euro, a atividade segue bastante fraca, além de destacar que a América Latina tem sofrido o impacto desse ambiente externo mais adverso.

O secretário afirmou que o Brasil figura como um dos países mais “resilientes” ao cenário de turbulência na economia global, o que ele classificou como uma novidade, ressaltando a “resiliência” e “estabilidade” do País nesse contexto. Para o secretário, isso reflete uma confiança no Brasil e certa “estabilização” do ambiente macroeconômico.

“A economia brasileira foi menos afetada pelas incertezas no ambiente internacional que vários de seus pares. Aqui é novidade Brasil costumeiramente é muito influenciado pelos ciclos de liquidez internacional, e possui algumas métricas como taxa de câmbio, curva de juros, muito elástica ao ciclo internacional. Não foi o feito desta feita, porque o País figura como um dos países mais resilientes a essas turbulências”, disse em coletiva sobre o novo Boletim Macrofiscal da SPE.

Mello destacou que o Brasil tem conseguido sustentar um ritmo de crescimento “bastante razoável”, ao mesmo tempo em que observa uma queda na inflação, que se aproxima mais da meta. “Isso muito antes de seus pares e de países desenvolvidos. Tanto que nossa política monetária já está em processo de flexibilização, e apresentamos ganhos na bolsa, queda da curva de juros, nos prêmios de risco, com volatilidade cambial bastante modesta”, disse.

O secretário ainda comentou que, embora existam riscos de novos choques internacionais, ligados, por exemplo, ao preço das commodities e do petróleo, ou às mudanças climáticas, existe uma tendência de desaceleração da atividade na maior parte do mundo, o que contribui para um índice de preços mais moderado. “Então é muito provável ver no ano que vem taxas nos países mais próximas de suas metas”, concluiu.