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Galípolo reforça a possibilidade de alta dos juros

Galípolo voltou a dizer que o grupo passa por um cenário nos últimos 120 dias de mudança de um ciclo de corte para outras alternativas

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19 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo reforça a possibilidade de alta dos juros
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou na segunda-feira, 19, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deixou claro que a cúpula da instituição está dependente de novas informações econômica para tomar sua decisão sobre o rumo da Selic. O próximo encontro é em setembro.

“A ata do Copom deixa bem claro que nós estamos dependentes de dados. Existe um rol de dados que vão ser publicados daqui até lá. E nós estamos indo para a próxima reunião com as alternativas abertas”, afirmou o diretor, em participação em evento em Belo Horizonte.

Galípolo voltou a dizer que o grupo passa por um cenário nos últimos 120 dias de mudança de um ciclo de corte para outras alternativas, sobre as quais comentou anteriormente e que inclui até mesmo a possibilidade de alta dos juros.

“Eu acho que hoje está colocada a possibilidade, mas eu acho que é bastante importante a gente reafirmar: Nós estamos com quatro semanas para a próxima reunião do Copom. Existem uma série de variáveis para serem feitas, para serem observadas. E eu não quero passar ideia aqui que, de alguma maneira, a minha comunicação destoa do que foi escrito na ata do Copom”, enfatizou o diretor do BC.

Ele disse que seria um equívoco tentar antecipar o que Copom vai fazer a partir de uma variável. E que o BC sempre está em posição de não tomar risco, de não ser pego de surpresa. “Tivemos mudanças de cenário muito abruptas. O cenário está aberto para a próxima reunião. Vamos observar IPCA, IPCA-15, Caged, Pnad, PIB, lá fora, a própria fala do presidente do Federal Reserve.”

Ainda, ele comentou que alterações recentes nos cenários econômicos global e nacional levaram a uma mudança de perspectiva para a taxa de juros nos próximos meses. Citou a postergação do início do ciclo de baixa dos juros nos Estados Unidos, a perspectiva de piora para a inflação no Brasil e a melhora dos indicadores de crescimento do PIB. “Essa piora por si só já gera um incômodo bastante significativo para o Banco Central”, disse.

Mencionou também a “redução marginal” nas projeções do mercado para o IPCA 2025, na segunda-feira na pesquisa Focus do Banco Central.

O diretor de Política Monetária do Banco Central enfatizou ainda que jamais sofreu pressão do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para tomar uma atitude em determinada direção. O chefe do Executivo é um dos mais contumazes críticos dos juros altos e Galípolo, o mais citado nas bolsas de apostas como sucessor de Roberto Campos Neto no comando da instituição em 2025.

A partir do ano que vem, o colegiado será composto majoritariamente, pela primeira vez neste mandato, de integrantes indicados por Lula.

Galípolo falou sobre o tema durante evento em Belo Horizonte quando foi questionado por um participante sobre a possibilidade de interferência política sobre o comitê, alegando estar preocupado com o “voluntarismo do presidente”. “Não, o que eu posso fazer é dar um testemunho no sentido contrário. Eu jamais me senti pressionado a fazer qualquer tipo de atitude, a partir da minha indicação no Banco Central”, garantiu.

Para Galípolo, o presidente da República tem tido uma atitude “absolutamente republicana”, argumentando que tem ido a público fazer um debate sobre os juros.

“O presidente fala o que ele pensa publicamente. Acho que isso tem sido claro nas últimas entrevistas dele. Eu jamais me senti pressionado pelo presidente a fazer qualquer tipo de atitude”, afirmou o diretor do BC.

Ele avaliou ainda que todas as vezes em que são renovadas a liberdade e a autonomia do Banco Central, é permitido que elas ajam com mais atuação técnica.

O BC recebeu autonomia operacional há dois anos e, neste momento, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para conceder autonomia operacional e financeira à instituição. Toda a diretoria do BC já se declarou favorável à PEC 65, mas o governo não tem pressa na sua votação.

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que a entrevista do presidente, com a indicação de que os diretores do BC vão trabalhar na normalidade “foi importante”. À Rádio Gaúcha, na última sexta-feira, 16, Lula disse que a pessoa que vai indicar como novo presidente do Banco Central vai precisar ter “compromisso com o povo brasileiro” e “coragem” para alterar a Selic sempre que for necessário.”Na hora que precisar reduzir a taxa de juros, ele vai ter de ter coragem de dizer que vai reduzir. Na hora que vai aumentar, ele vai ter de ter a mesma coragem de dizer que vai aumentar”, afirmou o presidente na ocasião.

O BC tem as ferramentas necessárias para perseguir a meta de inflação, destacou o diretor, acrescentando que cabe à autoridade monetária colocar os juros em nível restritivo o suficiente para atingir o alvo, de 3%.

Segundo ele, tem sido bastante interessante a experiência com um BC independente. “A discussão sobre autonomia do BC vem de posições antagônicas. Há ideia de que autonomia do BC significa se contrapor ao poder democraticamente eleito. Há outra posição de que, com autonomia, BC não precisa prestar contas à sociedade.”