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Galípolo diz que reuniões do Copom não seguem modelos

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo destacou que o consumo tradicional de dados pelos Bancos Centrais costuma ser mais conservador

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08 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo diz que reuniões do Copom não seguem modelos
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na sexta-feira, 7, que as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC não seguem apenas modelos e que há sempre julgamentos para tomar decisões. Participante de seminário do programa de pós-graduação em Economia da Universidade de Brasília (UnB) na sexta-feira, ele foi questionado sobre a observação de modelos tradicionais da literatura econômica para a tomada de decisões da política monetária.

Galípolo destacou que o consumo tradicional de dados pelos Bancos Centrais costuma ser mais conservador e que quando os BCs mencionam que a curva de Phillips, por exemplo, está mais flat é uma forma elegante de dizer que perdeu potência, até pelas correlações inusitadas que são observadas.

“No Copom, o modelo não vai lá e cospe um resultado. Tem nove pessoas, existe um julgamento, uma decisão que está juntando esses dados, esses modelos”, observou o diretor do BC.

Galípolo afirmou ainda que o mundo passou por processo de desinflação relevante em 2023, mas de forma inusitada. “A gente assistiu a um processo desinflacionário ao redor do globo com nível de atividade ainda bastante resiliente”, disse o diretor.

Ele comentou sobre o cenário dos Estados Unidos e disse que desde 2023 havia oscilação nas expectativas. Por isso, ele destacou que o processo norte-americano de desinflação mais lento, mas com menor probabilidade de recessão. “(O Fed) tem mais êxito de fazer isso sem tanto custo para a sociedade”, afirmou, citando o Federal Reserve, o banco central norte-americano.

O diretor do BC ainda comentou que a desinflação mais resiliente nos Estados Unidos está associada a serviços e mercado de trabalho. “Será possível ver desinflação sem aumento do desemprego nos Estados Unidos simplesmente por normalização de cadeias?”, observou.

Ele destacou o esforço empreendido pelos Bancos Centrais no período de 2008 até agora, com ênfase no período da pandemia. Ele também comentou os efeitos de apostas para as tendências inflacionárias. “Historicamente, preços de serviços rodam numa inflação superior ao preço de bens”, observou.

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que a posição do Brasil em relação ao processo de desinflação – com dados benignos, mas expectativas desancoradas – coloca o País em posição mais delicada e incomoda a ele e a outros diretores da autoridade monetária.

Galípolo comentou que a postergação da expectativa de corte de juro nos Estados Unidos refletiu em elevação de juro terminal em emergentes. “O que coloca o Brasil em situação mais delicada é que ocorreu alteração na taxa de juros terminal, mas continuamos observando o processo de desancoragem das expectativas, em processos meio dissonantes”, observou.

Ele destacou que os últimos dados de inflação foram benignos, mas a desancoragem das expectativas persiste – e é isso que causa a preocupação no BC.

O diretor ainda citou o consumo resiliente das famílias e aumento da balança comercial como pontos que continuam surpreendendo a economia brasileira, apesar de os juros permanecerem em patamar restritivo.

Galípolo ainda chamou atenção para a taxa de investimento, avaliando que é preciso elevar o seu atual patamar.

O diretor do Banco Central afirmou também que a economia brasileira está em posição privilegiada em relação aos desafios que estão sendo impostos pelo mundo. Ele comentou sobre as vantagens competitivas do País, como a matriz energética limpa.

Aos alunos da UnB, Galípolo procurou passar um tom otimista sobre a condução da política monetária e da economia brasileira

O diretor afirmou que o momento é desafiador para que gere a política monetária. “Estamos em quadra histórica com bastante desafio para quem faz gestão de política monetária dada a dificuldade de encontrar as correlações esperadas que costumamos aprender nos livros de economia”, afirmou.

Ele buscou destacar as mudanças nas avaliações de parâmetros, como o mercado de trabalho. O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que as questões ambientais devem ser cada vez mais incorporadas às discussões dessas instituições. “O que preocupa é se os eventos serão mais recorrentes”, comentou.

De acordo com ele, há uma discussão no mundo sobre se o tema deve ser incorporado aos mandatos do BC. “O BC do Brasil vem incorporando essas análises de políticas públicas e leva em consideração a questão da sustentabilidade, mas o debate sobre a questão ambiental vai crescer”, previu.