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Galípolo diz que não há intenção do BC de mudar a política cambial

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, observou que não seria adequado fazer simultaneamente agora uma movimentação em duas variáveis.

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26 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Galípolo diz que não há intenção do BC de mudar a política cambial
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse na terça-feira, 26, que não há intenção da autarquia de mudar a política cambial em meio ao início do ciclo de corte de juros. Ao abordar, em conferência do J. Safra, o debate sobre aumento ou manutenção das reservas internacionais, Galípolo observou que não seria adequado fazer simultaneamente agora uma movimentação em duas variáveis – ou seja, juros e câmbio.

Ele citou como exemplo a política de rolagem de swaps cambiais, cuja interferência, por ora, poderia poluir a observação do comportamento de variáveis macroeconômicas em decorrência do ciclo de corte da Selic.

“Vamos observar como as coisas se comportam a partir desse ciclo de flexibilização monetária e vamos manter a política cambial que está sendo feita”, declarou o diretor do BC.

Questionado sobre o motivo de o real não mostrar apreciação apesar das reservas internacionais robustas e recordes dos superávits comerciais, Galípolo pontuou que parte da explicação vem da pressão sobre moedas emergentes vinda do patamar elevado dos juros nos Estados Unidos.

O diretor disse ainda que a desconfiança do mercado sobre a execução do arcabouço fiscal está impedindo que as expectativas de inflação convirjam para a meta de 3% dos próximos anos.

Durante participação na conferência do J. Safra, Galípolo pontuou que, na comparação com o início do ano, surpresas positivas relacionadas à condução da política fiscal melhoraram as perspectivas e derrubaram para 0,8% as expectativas dos economistas ao déficit primário do ano que vem como proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).

Ele considerou, porém, que a desancoragem parcial das expectativas de inflação está mais relacionada com o funcionamento do arcabouço do que propriamente com o cumprimento de suas metas.

O diretor contou já ter ouvido no mercado investidores que preferem um cenário de déficit maior, porém com menos impulso fiscal.

“Existe ainda uma desconfiança sobre a execução do arcabouço, isto está presente”, declarou o diretor do BC, que enfatizou no evento que as expectativas são essenciais na condução da política monetária.

O diretor disse também que, apesar do cenário internacional mais desafiador, o Brasil reúne vantagens comparativas que o colocam em posição favorável para atrair investimentos e ocupar posição de protagonista “na nova era da economia global”. “Reunimos uma série de características que trazem otimismo em relação à posição que o Brasil pode ter e desempenhar na economia”, declarou o diretor do BC durante participação em conferência do J. Safra.

No evento, Galípolo citou a matriz energética limpa, que representa um menor custo de transição à economia de baixo carbono, ao falar do cenário promissor para o Brasil.

Ao iniciar a sua fala, disse ter aprendido que as declarações de diretores do BC devem ser, assim como a água, insípidas, inodoras e incolores para não gerarem distúrbios no mercado. “A função do diretor do BC é quase sempre fazer uma fala protocolar”, avisou.

A partir daí, Galípolo procurou seguir o roteiro da ata, divulgada na terça, da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Sobre o cenário internacional, que, avaliou, tem maior peso no comportamento das variáveis econômicas, ele discorreu sobre a desaceleração chinesa, associando a perda de tração a mudanças conjunturais, em especial no mercado imobiliário, e estruturais, dada a inflexão do eixo de crescimento da economia do setor imobiliário e infraestrutura para o consumo das famílias e investimentos em tecnologia.

Já em relação à elevação das taxas de juros dos títulos mais longos nos Estados Unidos, Galípolo listou entre as possíveis explicações a reversão do afrouxamento quantitativo – ou seja, o enxugamento da liquidez na economia – e as vendas de reservas em dólares por países. “Não temos uma explicação definitiva sobre esse movimento”, disse.

Os efeitos sobre os juros da economia global, no entanto, parecem estar, conforme o diretor, mais ligados à maior necessidade de financiamento dos Estados Unidos por questões fiscais e pelos juros mais altos. Isso leva a uma abertura das taxas, já que exige maior colocação de títulos no mercado.

Ao falar sobre o impacto desse cenário nos preços, Galípolo comentou que o Banco Central vê sinais mistos nas commodities, com o petróleo em alta em função da redução de oferta, e os preços de alimentos comportando-se bem.