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Fed diz que política monetária colocará pressão na inflação nos Estados Unidos

O presidente do Fed de St Louis destacou o fato de que indicadores dos EUA têm se mostrado em geral mais fortes que o esperado.

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07 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Fed diz que política monetária colocará pressão na inflação nos Estados Unidos
O presidente do FED de St Louis James Bullard. Crédito: Lucas Jackson / Reuters.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de St. Louis, James Bullard, afirmou na quinta-feira, 6, que uma política monetária “apropriada” pode “continuar a colocar pressão de baixa na inflação”. Em evento da Arkansas Bankers Association, ele destacou o fato de que indicadores dos EUA têm se mostrado em geral mais fortes que o esperado, enquanto a inflação “segue muito elevada”.

Na avaliação de Bullard, o desempenho do mercado de trabalho “segue forte”. O crescimento econômico do país melhorou no segundo semestre de 2022, e atualmente os gastos reais com consumo também se mostram mais fortes do que o esperado, apontou o dirigente, sem direito a voto nas decisões de política monetária neste ano. A inflação “continua muito elevada, mas tem recuado recentemente”, afirmou Bullard.

Ele apontou que houve queda recente tanto no índice cheio quanto no núcleo dos preços, mas no caso do núcleo o recuo até agora é menor, advertiu. Bullard ainda destacou o fato de que as expectativas de inflação medidas por sinais do mercado “estão agora relativamente baixas”.

Ele lembrou que essas expectativas são um fator crucial para se determinar a inflação real e apontou que esse é um sinal positivo para o processo de perda de fôlego da inflação em 2023.

O presidente do Federal Reserve de St. Louis afirmou ainda que houve um aumento no estresse financeiro nos Estados Unidos nas últimas semanas, mas considerou que ocorreu uma resposta macroprudencial “rápida e apropriada” das autoridades para conter o quadro. No evento desta quinta, ele garantiu que os reguladores estão “prontos para adotar outros passos, se necessário”.

Sem direito a voto nas decisões de política monetária neste ano, Bullard destacou em sua fala que as leituras sobre o estresse financeiro no quadro atual “estão relativamente baixas”, caso se observe seu histórico.

Bullard comentou que o estresse financeiro “pode ser angustiante, mas também tende a reduzir o nível das taxas de juros”. Os juros mais baixos, por sua vez, são fator positivo para o quadro macroeconômico, recordou. O recuo nos juros “pode ajudar a mitigar” parte do peso negativo na macroeconomia que caso contrário ocorreria após um período de estresse financeiro, considerou.

Ainda para o dirigente, o Fed havia dado “diretriz considerável” sobre o fato de que começaria a elevar os juros, o que ocorre ao longo do último ano, diante da inflação elevada. Mesmo assim, Bullard disse que é “relativamente comum que nem todas as entidades financeiras ajustem seus negócios de modo apropriado para um ambiente em mutação”.

Ele mencionou episódios anteriores, mas afirmou que apesar da atenção considerável na época eles não foram no fim das contas cruciais para motivar um desempenho macroeconômico fraco dos EUA.

Bullard considerou que a inflação demorará a perder fôlego nos Estados Unidos, qualificando-a como “pegajosa”. Nesse quadro, ele reafirmou sua postura recente sobre a necessidade de mais aperto monetário para conter a inflação.

Bullard também comentou, durante sessão de perguntas e respostas, que este é um bom momento para revisar a política de seguro para depósitos nos EUA.

Ele falou sobre quebra recente do Silicon Valley Bank (SVB) e recordou que havia muitos depósitos nesse banco sem direito ao seguro. Legalmente, depósitos até US$ 250 mil por correntista em cada banco são segurados no país. No caso do SVB, esse quadro com muitos correntistas não segurados dava muita margem a corridas bancárias como a que ocorreu, apontou.

O dirigente ainda advertiu contra o risco de que a inflação “se torne arraigada” no país, prolongando o trabalho do Fed para contê-la.

A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de março, de aumentar taxas de juros em 25 pontos base, foi tomada em cima da hora: dois dias antes do encontro. A preparação para a reunião de 21 e 22 de março foi dominada por preocupações sobre a turbulência do sistema bancário que eclodiu duas semanas antes. As autoridades do Fed avaliaram duas opções de política monetária antes da reunião: elevar as taxas em 25 pontos base e sinalizar incerteza sobre quanto mais aumentá-las, ou manter as taxas estáveis e aumentá-las na próxima reunião.

Bullard disse que as reuniões do Fed tendem a ser mais problemáticas quando acontecem turbulências logo na janela de 10 dias antes do encontro. “É difícil, digamos, para o comitê processar novas informações na hora e tentar tomar uma boa decisão na reunião”, falou.

Powell teria dito a colegas dias antes da reunião que esperava prosseguir com um aumento de 25 pontos base nas taxas, mas eles precisavam ver o estresse do setor bancário diminuir antes que pudessem considerar essa opção. “Uma crise financeira não é para brincadeiras, e você realmente não sabe o que vai acontecer a seguir em uma situação como a que enfrentamos naquela reunião”, contou Bullard.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, passou os dias anteriores à reunião questionando banqueiros e proprietários de pequenas empresas sobre condições de crédito, fluxos de depósitos e demanda por empréstimos. “Se fosse o caso de a nossa ação política exacerbar as coisas, então eu realmente teria que pensar muito sobre se precisávamos fazer uma pausa”, ponderou ele. “Foi uma época turbulenta.”

Eles tomaram sua decisão na segunda-feira, 20 de março, somente depois que parecia que as autoridades suíças haviam contido um perigoso declínio na confiança no sistema bancário global com a aquisição forçada do Credit Suisse pelo rival de longa data UBS na noite anterior.

“Se eu tivesse acordado na manhã de terça ou de quarta e sentisse que havia um desafio global de Instituições Financeira Sistemicamente Importantes, eu claramente teria visto um motivo para pausar” os aumentos das taxas, afirmou o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, referindo-se aos dias de reunião do Fed. Em vez disso, disse ele, a turbulência financeira parecia ter se acalmado.

“Eu me convenci de que você tinha um setor bancário resiliente e uma inflação muito alta. Então por que você não continuaria lutando contra a inflação?”