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Fazenda eleva projeção para o IPCA para 4,25% este ano

A desaceleração nos preços era esperada a partir de agosto, porém a mudança para bandeira vermelha 1 nas tarifas de energia em setembro  modificou a trajetória prevista até o final do ano.

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13 de setembro de 2024
Fazenda eleva projeção para o IPCA para 4,25% este ano
Foto: José Cruz - Agência Brasil

O Ministério da Fazenda revisou a projeção para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 e em 2025. De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da Secretaria de Políticas Econômicos (SPE), divulgada na sexta-feira, 13, a estimativa neste ano passou de 3,90% para 4,25% – acima da previsão anterior, mas ainda dentro do intervalo de tolerância da meta estipulada para 2024, que é de 3,00%, com variação de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

Já para 2025, a projeção de IPCA passou de 3,30% para 3,40%. O último boletim macrofiscal da SPE havia sido divulgado em julho de 2024. No documento, a SPE argumenta que, até o final do ano, deverá haver recuo na inflação de monitorados, contrabalanceado parcialmente pelo avanço na inflação de livres.

A nova estimativa para o IPCA de 2024 já leva em consideração os impactos do câmbio mais depreciado nos preços; o cenário de bandeira amarela para as tarifas de energia elétrica no final do ano; e o reajuste no piso mínimo para os preços do cigarro.

Para a média das cinco principais métricas de núcleo, a previsão foi revisada de 3,70% para 4%. A expectativa da Fazenda é de que a inflação volte a cair no acumulado em doze meses após outubro. A desaceleração nos preços era esperada a partir de agosto, porém a mudança para bandeira vermelha 1 nas tarifas de energia em setembro, em função do alto porcentual de acionamento do parque elétrico nacional, modificou a trajetória prevista para a inflação até o final do ano, escreveu a SPE.

O cenário para inflação contempla retorno para bandeira amarela apenas em dezembro. Também já está ajustado para os efeitos de zeragem das contas “covid” e “escassez múltipla” em razão da antecipação dos recursos da Eletrobras para a CDE.

No caso de 2025, a previsão de inflação medida pelo IPCA foi revisada para incorporar maiores efeitos inerciais, contrabalanceados por mudanças no cenário esperado para tarifas de energia elétrica e pelo patamar mais contracionista esperado para a política monetária em 2024 e 2025.

Para os anos seguintes, a expectativa é de convergência da inflação para a meta de 3,00%, destacou a Fazenda. “Projeções até o horizonte relevante da política monetária mostram convergência da inflação para patamar próximo a 3,00%. A redução de incertezas relacionadas à condução da política monetária somada à melhora nas projeções de mercado para o quadro fiscal em 2024 e 2025 devem contribuir para a ancoragem das expectativas nos próximos meses, auxiliando o retorno da inflação ao centro da meta”, disse a SPE.

O Ministério da Fazenda também revisou a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – utilizado para a correção do salário mínimo. De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da pasta, a estimativa para o indicador neste ano passou de 3,65% para 4,10%. Para 2025, a projeção passou de 3,15% para 3,20%.

Já a estimativa da Fazenda para o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) em 2024 foi revisada de 3,60% para 3,80% e ajustada de 4% para 3,80% em 2025. Para a projeção deste ano, a SPE observou que, de junho a agosto, a variação acumulada em doze meses do índice avançou de 2,88% para 4,23% repercutindo com maior intensidade a aceleração nos preços do atacado, de 2,51% para 4,11%.

Essa alta está relacionada principalmente ao avanço da inflação na indústria de transformação, escreveu a SPE, com destaque para derivados de petróleo e produtos químicos, além de refletir a saída de deflações observadas no ano anterior da base de cálculo “Até o final do ano, a expectativa é que a inflação medida pelo IGP-DI volte a desacelerar refletindo menores variações projetadas para os preços no atacado de setembro em diante. A recente queda na cotação do petróleo deverá auxiliar nesse sentido”, disse.

No último relatório Focus, os analistas de mercado consultados pelo Banco Central projetaram IPCA de 4,30% em 2024 e de 3,92% no ano que vem. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que o balanço de riscos do cenário externo se tornou menos adverso do que antes, devido principalmente à redução das incertezas em torno da redução dos juros americanos e de outras economias avançadas.

“Ao mesmo tempo que essa certeza cresceu, também ganharam importância algumas dúvidas quanto ao nível de atividade, tanto nos Estados Unidos, mas em particular na China”, ele disse, durante uma entrevista coletiva para comentar o Boletim Macrofiscal divulgado na sexta pela pasta.

Apesar dessas incertezas, o secretário afirmou haver sinais de desaceleração da demanda chinesa, mas que a expectativa ainda é de que a economia do país asiático cresça perto da meta, de 5%. Hoje, a expectativa oficial é de um crescimento de 4,8%, mas Mello afirmou que é necessário aguardar para ver o impacto das medidas adotadas pelo governo da China para garantir uma expansão maior.

Sobre os Estados Unidos, ele destacou que o mercado de trabalho tem desacelerado, confirmando um cenário de resfriamento da economia americana. Ao mesmo tempo, a inflação ao consumidor está em queda, com deflação “razoavelmente recorrente” nos preços de bens e menor inflação de alimentos.

O secretário disse, ainda, que conflitos geopolíticos e eventos climáticos extremos podem ter impactos na inflação global e, consequentemente, na do Brasil. Esses conflitos têm afetado o custo de fretes e podem ter impacto nos preços de energia, especialmente via petróleo, ele explicou.