Economia
A espera do Copom

Dólar tem leve alta e se aproxima de R$ 5,45

Foi o quarto pregão seguido de valorização da moeda americana, que já acumula ganhos de 1,11% na semana e de 3,64% em junho.

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20 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Dólar tem leve alta e se aproxima de R$ 5,45
A formação da taxa de câmbio esteve atrelada a um realinhamento global de preços de ativos deflagrado pelo aumento da possibilidade de recessão nos EUA

Após tocar o nível de R$ 5,48 no início da tarde, o dólar à vista desacelerou bastante o ritmo de alta na última hora de negociação e encerrou a sessão de quarta-feira, 19, cotado a R$ 5,4418, avanço de 0,14%. Foi o quarto pregão seguido de valorização da moeda americana, que já acumula ganhos de 1,11% na semana e de 3,64% em junho. Sem a referência do mercado de Treasuries, fechados em razão de feriado nos EUA, os negócios no mercado de câmbio local foram guiados pelas expectativas em torno da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira à noite.

Os momentos de maior estresse, quando o dólar registrou máxima a R$ 5,4827, foram atribuídos ao receio de dissenso no comitê, com possibilidade de os diretores indicados pelo presidente Lula optarem por nova queda da taxa básica. Em maio, os diretores antigos, que formam um grupo apelidado de “G5”, foram vitoriosos ao votar por redução de 0,25 ponto, enquanto a ala mais nova, que assumiu no atual governo, preferiu corte de 0,50 ponto.

Analistas argumentam que, à luz das declarações de Lula de que o próximo presidente do BC não vai se submeter ao mercado e buscar também o crescimento econômico, uma divisão será vista como mais um sinal de uma política monetária mais frouxa a partir de 2025. Além da substituição do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, no ano que vem a maioria da diretoria será composta por nomes apontados por Lula.

A fala do presidente também esquentou a temporada de especulações sobre quem será o escolhido para ocupar o BC e trouxe à baila nomes mais historicamente ligados ao PT, o que aumentou a tensão no mercado cambial. A liquidez reduzida, em razão de feriado nos EUA, contribuiu para exacerbar a volatilidade.

“O real já sofre nos últimos meses com a perda de credibilidade da política fiscal, que eleva o nosso risco em relação a outros emergentes. Isso piorou com o presidente dando sinais de que quer interferir na tomada de decisão do Banco Central”, afirmou o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “Os problemas internos influenciam mais o câmbio do que a economia americana, que deus bons sinais nas últimas semanas e abriu a chance de corte de juros pelo Federal Reserve nos próximos meses”.

O real tropeça em junho apesar dos números positivos do fluxo cambial no mês, como informado à tarde. Em junho (até o dia 14), o fluxo total é positivo em US$ 6,337 bilhões, resultado de entradas líquidas de US$ 2,104 bilhões pelo canal financeiro e de US$ 4,233 bilhões no comércio exterior. No ano, até o último dia 14, o fluxo total é positivo em US$ 12,172 bilhões, graças à entrada de US$ 37,956 bilhões via comércio exterior, uma vez que houve saídas líquidas de US$ 37,956 bilhões pela conta financeira.

A alta do dólar no mês pode ser atribuída a um movimento comprador expressivo no segmento de derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps), em meio a apostas especulativas contra o real e busca por proteção (hedge) Os investidores estrangeiros carregam posição comprada em dólar ao redor de US$ 78 bilhões, perto do pico histórico.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que, apesar do momento bom da economia, com crescimento e inflação corrente comportada, o Brasil vive uma crise de confiança, com dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal e da condução da política monetária.

“Hoje uma parte significativa da incerteza está ligada a quem será o próximo presidente do Banco Central e quais serão suas políticas. Por isso, a decisão do Copom é tão importante, pois simboliza o que poderá acontecer no futuro”, afirma Gala, em relatório. “O nível atual da Selic é excessivo, mas a forma de proceder no corte de juros e no controle da inflação é crucial. Cortar agora, com um voto dividido ou unânime, pode ter um efeito reverso, elevando mais os juros longos e desvalorizando o real”.

À espera do Copom à noite, e com liquidez muito reduzida pelo feriado em Nova York, o Ibovespa se mantinha em margem acomodada até o meio da tarde, mas ganhou ímpeto que o reconduziu aos 120 mil pontos, na máxima do dia como também no fechamento – movimento duplo que o índice havia ensaiado, sem efetivá-lo no encerramento, em três das quatro sessões anteriores.

O índice da B3 subiu 0,53%, aos 120.261,34 pontos, entre 118.960,37 (-0,56%) e 120.383,33 (+0,63%) na sessão, em que saiu de abertura aos 119.630,44 pontos. Na semana, o Ibovespa passa ao positivo (+0,50%), ainda cedendo 1,50% no mês e 10,38% no ano. O giro desta quarta-feira ficou em apenas R$ 14,2 bilhões.

De certa forma, o Ibovespa suavizou o padrão lateralizado que vinha prevalecendo após a queda de 1,4% da quarta-feira passada, não conseguindo deixar, até o fechamento de quarta, a linha de 119 mil pontos a que havia sido lançado então, entre perdas e ganhos moderados a cada sessão. Pesquisa pré-Copom realizada pela corretora BGC Liquidez, com 50 participantes do mercado financeiro, mostra unanimidade em torno da expectativa de manutenção da Selic em 10,50% na reunião de quarta-feira.

Do meio para o fim da tarde, o Ibovespa passou a renovar máximas da sessão, firmando-se aos 120 mil pontos em direção ao fechamento, contando com o apoio de nomes do setor metálico, como Vale (ON +0,31%) e Gerdau (PN +1,47%), assim como do setor financeiro, como Itaú (PN +0,78%) e Banco do Brasil (ON +0,73%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Yduqs (+4,33%), BRF (também +4,33%), Marfrig (+3,03%), São Martinho (+2,92%) e Minerva (+2,86%). No lado oposto, Azul (-4,62%)CSN (-1,85%), Assaí (-1,07%) e CVC (-1,05%).

“Tanto BRF quanto Marfrig refletiram, em suas altas, o otimismo do mercado com a exportação de proteína brasileira para a China, bem como pela recente alta do dólar e pelo imbróglio chinês com a União Europeia no setor – o que pode beneficiar o Brasil. Pelos mesmos motivos, Minerva e JBS (+1,76%) também subiram”, diz Felipe de Castro, sócio da Matriz Capital.

Em dia levemente negativo para o petróleo, e de posse de Magda Chambriard no comando da Petrobras em cerimônia com a presença do presidente Lula – a primeira vez em 12 anos que um presidente da República foi à posse de dirigente da estatal, as ações da empresa fecharam sem sinal único (ON -0,63%, PN +0,08%).

Os juros futuros passaram o dia sob pressão de alta, mas receberam alívio no fim da tarde. As taxas até o trecho intermediário fecharam estáveis e as longas caíram. A ausência dos mercados em Wall Street e de indicadores relevantes na agenda manteve a fala crítica do presidente Lula ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como referência central para o mercado, abalando a expectativa de um placar unânime, mas esta possibilidade voltou a ganhar força na reta final.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 em 10,670%, a mesma de ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 estava em 11,29%, de 11,28%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,57%, de 11,63%, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,93%, de 12,00% na terça.

Os ajustes de posição antes do Copom deu o tom aos negócios ao longo da quarta-feira. “Não tanto pela decisão em si, mesmo que haja corte, mas sim pelo placar. O mercado ficou dividido depois da fala de Lula”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. O DI para janeiro de 2025, o mais negociado, girava em torno de 1,5 milhão de contratos no horário acima, contra 1,025 milhão na média diária dos últimos 30 dias.