Economia
Reserva de valor

Criptomoedas se estabilizaram e stablecoin continua a crescer

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, traçou caminhos diferentes percorridos pelas criptomoedas e stablecoins durante evento

Compartilhe:
05 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Criptomoedas se estabilizaram e stablecoin continua a crescer
O presidente substituto do COAF, Rafael Ximenes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente do Gafi (Grupo de Ação Financeira) Raja Kumar, participam do seminário sobre os 25 anos da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613, de 1998). Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, traçou caminhos diferentes percorridos pelas criptomoedas e stablecoins durante evento “Digitalização da Economia: agenda de inovação do Banco Central do Brasil”, organizado pela Casa Jota. De acordo com ele, as criptomoedas haviam se expandido muito e, com mais ênfase no último ano, em termos de emissão, se estabilizaram, com um crescimento bem mais lento.

“No stablecoin, não. Você vê um crescimento muito grande, muito acelerado. Em grande parte do mundo emergente está crescendo muito”, salientou o presidente do BC.

Campos Neto lembrou que stablecoins são uma espécie de criptomoedas que, em tese, têm lastro em alguma moeda, mas que 99% delas estão ligadas ao dólar. “São uma forma de ter um dólar eletrônico, vamos dizer assim.” As stablecoins, continuou, estão substituindo, ou ao menos facilitando, o acesso das pessoas a terem contas em dólar. Têm funcionado, conforme o presidente do BC, como uma reserva de valor.

Ele salientou, porém, que é preciso verificar se determinadas stablecoins são realmente estáveis. Por isso, defendeu a existência de uma regulação “mais incisiva” no segmento. “Entendemos que é preciso ter segregação de contas e segregação de lastro”, afirmou.

O presidente do Banco Central disse ainda que o Pix, sistema de pagamentos instantâneos, proporcionou economia ao governo na cobrança de impostos. “O governo pagava uma fortuna para cobrar imposto pelas plataformas bancárias. Hoje, pode cobrar de graça pelo Pix”, declarou.

Ele destacou que o Pix tornou-se uma variável macroeconômica importante, ao gerar, além de economia ao setor público, a formalização de empregos e bancarização.

Ao lembrar da criação da plataforma, o presidente do BC voltou a dizer que existia uma avaliação no setor financeiro de que o Pix apenas substituiria os pagamentos por TED e DOC, quando a expectativa no BC era de uma “revolução”. Desde o seu lançamento, o sistema, disse, gerou 9 milhões de novas contas bancárias. “Tem gente que só abriu conta por causa do Pix.”

Conforme Campos Neto, após chegar a bater 175 milhões de negociações num único dia, o Pix caminha para atingir o fluxo de um negócio diário por pessoa bancarizada. “É muito mais que a Índia. Nenhum país do planeta teve a adesão que teve o Pix”, assinalou.

Ao citar as várias consequências do Pix para a democratização bancária e impactos sobre a economia, o presidente do Banco Central salientou que se tratou de uma ferramenta “relativamente barata”. De acordo com ele, para a implantação, o Pix custou menos de R$ 10 milhões.

A manutenção desse instrumento, conforme o presidente do BC, gira em torno de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões por ano. “Obviamente que, quando o volume cresce, a manutenção aumenta”, disse, lembrando que, no Pix, são realizadas cerca de 175 milhões de operações por dia. “A gente precisa se concentrar nas coisas boas. E as coisas boas estão acontecendo”, disse, citando que dentro do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), conhecido por ser o banco central dos bancos centrais, o modelo do Pix brasileiro é que tem sido usado como estudo de caso.

O presidente do Banco Central voltou a dizer que a política fiscal não tem relação mecânica – ou seja, relação direta – com as decisões de juros da autoridade monetária. Ele ponderou que a história e as evidências apontam correlação entre riscos fiscais e as expectativas de inflação, uma das variáveis observadas pelo BC.

Campos Neto reiterou que não há necessariamente impacto mecânico sobre o trabalho do BC se a meta fiscal for “A, B ou C”. Contudo, acrescentou, as evidências ensinam que as expectativas de inflação sobem quando o prêmio de risco aumenta pela menor visibilidade sobre a trajetória fiscal.

Após pontuar que o BC toma decisões baseadas em inflação corrente, hiato do produto e expectativas de inflação, Campos Neto observou que a desancoragem das expectativas atrapalha o processo de convergência de juros.

“Não é uma coisa mecânica, mas olhando para a história do Brasil e a evidência empírica, existe correlação grande, que não é mecânica, entre uma coisa e outra”, declarou Campos Neto.

Assim, enfatizou, a visibilidade da trajetória de inflação está associada à visibilidade da trajetória fiscal.
O presidente do Banco Central disse ainda que 2024 deverá ser um ano no qual os desafios serão “mais globais”. Ele traçou um cenário de desaceleração da economia global, em decorrência dos juros mais altos em grande parte dos países, ao mesmo tempo em que as economias desenvolvidas estão muito endividadas.

Esse endividamento, frisou o presidente do BC, demandará mais capital, o que deve colocar a liquidez no foco em 2024.

Ele observou que, em um ano, os gastos mensais dos Estados Unidos com pagamento de juros saltaram de US$ 22 bilhões para US$ 77 bilhões, devendo avançar para mais de US$ 120 bilhões no ano que vem.

“Tem um desafio fiscal global, não só do Brasil, e isso vai fazer com que 2024 tenha um foco muito importante no tema da liquidez”, disse Campos Neto ao reforçar que, com dividas mais altas, os países vão consumir mais recursos.