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Credibilidade

Copom acena com possibilidade de queda dos juros a partir de agosto

A avaliação do BC ocorre após certa frustração do governo e de parte do mercado com o comunicado da decisão do Copom na quarta-feira passada.

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27 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Copom acena com possibilidade de queda dos juros a partir de agosto
De acordo com o Copom situação de juros no país pode mudar.

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira (27) pelo Banco Central, informa que a “avaliação predominante” manifestada durante a última reunião foi de uma expectativa de maior confiança para uma queda da taxa de juros a partir de agosto. A reunião do Copom ocorreu nos dias 20 e 21.

O Copom manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, sob a justificativa de que “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

O Banco Central alertou que o afrouxamento do grau de aperto monetário exige “confiança na trajetória do processo de desinflação”, a custo de, se feito de forma prematura, provocar retomada da aceleração inflacionária e reversão do próprio processo de relaxamento monetário. Essa avaliação foi unânime dentro do comitê.

A avaliação do BC ocorre após certa frustração do governo e de parte do mercado com o comunicado da decisão do Copom na quarta-feira passada, que não trouxe nenhuma indicação explícita sobre o início dos cortes de juros à frente. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva.

“O Comitê unanimemente avalia que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário.”

Segundo o comitê, a materialização do tipo de cenário descrito acima pode prejudicar “não apenas a credibilidade da política monetária, mas também as condições financeiras”.

Nesse sentido, o comitê repetiu a avaliação do comunicado de que a conjuntura é marcada por expectativas desancoradas para prazos mais longos e por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, o que requer “parcimônia e cautela” na condução da política monetária.

A ata do último encontro do Copom indicou que a projeção para o IPCA de 2024, ano em que o BC trabalha para alcançar a convergência da inflação para a meta, está em 3,4% no cenário de referência. Para 2023, a projeção para o IPCA está em 5,0%.

Todas as estimativas já constavam no comunicado da semana passada, quando o Copom manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida. Na reunião anterior, em maio, as estimativas oficiais eram de 5,8% e 3,6% para 2023 e 2024, nessa ordem.

Apesar da queda forte, a projeção do BC para o IPCA de 2023 ainda está acima do limite de tolerância da meta, de 4,75%, indicando três anos consecutivos de descumprimento do BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a projeção do BC se aproximou do centro da meta, de 3,0%.

O cenário de referência pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 4,85 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, a premissa é de que o barril de petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e sobe a 2% ao ano na sequência. O BC ainda considera a hipótese de bandeira tarifária “verde” na conta de luz para o fim de 2023 e 2024.

No comunicado e na ata, o Copom afirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas. “A estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação.”

O comitê ainda indicou que os passos futuros da política monetária dependerão de cinco fatores. São eles a “evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Em relação aos preços administrados, a ata repetiu as projeções já informadas no comunicado de 9,0% para 2023 e 4,6% para 2024, ambas mais baixas que as estimativas informadas em maio, de 10,8% e 5,2%, respectivamente.

Na ata, o Banco Central listou as mudanças que ocorreram nos fatores determinantes da política monetária.

Em relação às suas projeções para a inflação, que saíram de 5,8% para 5,0% em 2023 e de 3,6% para 3,4% para 2024, foco da política monetária, o comitê avaliou que refletiram em boa medida a redução das expectativas inflacionárias, “especialmente, no horizonte relevante”.

Com relação à inflação de serviços e aos núcleos de inflação, o BC afirmou que houve movimento lento de desaceleração, em linha com o processo não linear projetado pelo comitê.

Outra mudança, no balanço de riscos, foi a consideração de que a incerteza sobre o desenho final do arcabouço fiscal é “residual”, enquanto que o risco para baixo advindo de uma queda maior dos preços de commodities “já tem se materializado no período recente”.

Em relação ao hiato do produto, o BC afirmou que não houve grande alteração no cenário prospectivo do hiato do produto, em que se projeta lenta abertura do hiato. Já sobre a atividade, o colegiado disse que houve um debate sobre a resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre.

Mas ponderou que a visão do Comitê segue a de que o crescimento foi puxado pelo setor agropecuário e que os demais setores devem apresentar crescimento modesto ao longo do ano. O Banco Central elevou sua estimativa de taxa de juros real neutra de 4,0% ao ano para 4,5%, conforme divulgou na ata do Copom.

Em tese, um aumento do juro neutro implica uma necessidade de um aperto monetário maior para controlar a inflação. No documento, o BC destaca que a mudança ocorreu em seguimento ao amplo debate e acúmulo de evidência ao longo das últimas reuniões.

“Os membros avaliaram os diferentes fatores que justificam uma elevação e convergiram na conclusão de que houve uma elevação da taxa neutra”, disse o BC na ata divulgada na terça.

Dentre os fatores citados que apoiam a elevação da taxa neutra, o Copom citou uma possível elevação das taxas de juros neutras nas principais economias, a resiliência na atividade brasileira concomitante a um processo desinflacionário lento, assim como a análise de modelos auxiliares que
Também na ata, o Banco Central avaliou que o cenário de concessão de crédito doméstico mostra-se compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

O colegiado antecipa que deve haver uma moderação na concessão do crédito ao longo dos próximos meses, mas similar ao que ocorreu em ciclos anteriores de alta de juros.

“O Comitê reforça que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para tratar de fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram”, destacou o BC na ata.