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Campos Neto: governo enxergou o quão técnico é o trabalho do BC

Campos Neto disse que as estimativas de inflação para 2024 ficaram praticamente paradas desde a última reunião do Copom.

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21 de dezembro de 2023
Campos Neto: governo enxergou o quão técnico é o trabalho do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na quinta-feira, 21, que ao longo do ano o governo entendeu quão técnico é o trabalho da autoridade monetária, o que melhorou o relacionamento entre as partes após um início de ano com muitas críticas à condução da política monetária pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Esse foi o primeiro teste da autonomia, um teste em que a gente aprendeu muito, de todos os lados, o BC convivendo com o governo novo”, disse Campos Neto em dia de divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Ele destacou que com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a interação foi crescente ao longo de 2023. “Temos boa relação com o governo e esperamos que o relacionamento melhore”, disse. O presidente do Banco Central reiterou que a autoridade monetária considera o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual na Selic adequado e que “próximas reuniões” significam duas reuniões, portanto, com sinalização até março.

De acordo com Campos Neto, as estimativas de inflação para 2024 ficaram praticamente paradas desde a última reunião do Comitê de Política Monetária Copom). Ele reforçou que a autoridade monetária olhou de forma especial para a inflação de serviços e viu melhora.

No caso do hiato do produto, que é super importante, ele destacou que houve um ligeiro fechamento, “mas muito marginal, não mudou muita coisa”. O presidente da autoridade monetária também comentou que já conversou com argentinos, defendendo que uma agenda reformista cria tempo para países em dificuldade com o fiscal. Ele aproveitou para frisar que no Brasil também há preocupação do mercado com o fiscal, mas a sinalização de reformas e a perseguição dessas metas também têm efeito relevante.

O presidente da Argentina, Javier Milei, assinou na quarta-feira uma série de decretos que promovem uma desregulamentação da economia, como revogações de leis nos setores imobiliários, de abastecimento e de controle de preços.

O presidente do Banco Central disse ainda, que não é verdade que o juro nominal recuou e o juro real não caiu. “O esforço monetário, ou distância para taxa neutra, é mais importante que juro real”, defendeu.
Ele reiterou que o Brasil fez um esforço monetário maior do que outros países e destacou que a maior parte da surpresa para baixo na inflação em 2023 foi no último trimestre. Por isso, ele defende que o ritmo de queda da Selic é apropriado para convergência saudável da inflação.

Já o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse que a desancoragem das expectativas é fator de preocupação e exige Selic contracionista. O presidente do Banco Central disse que o cálculo de taxa de juros neutra não é um exercício exato e considera que a taxa do BC, de 4,5%, e a do mercado, de 5%, estão próximas.

“Tem várias formas de fazer que não são exatamente iguais. Tem formas de olhar isso de modelos mais estruturais. Considero que taxas estão bastante próximas, 4,5% e 5%”, afirmou Campos Neto.
O presidente do Banco Central disse que há uma preocupação inflacionária se houver um consumo consistentemente subindo e investimentos caindo. “Se tiver consumo consistentemente subindo e investimento consistentemente caindo em algum momento você terá condições piores em termos de análise prospectiva de inflação”, comentou.

Ele pontuou que o consumo é mais afetado pelos juros de curto prazo e investimento, por de longo prazo. Campos Neto disse que, apesar da queda de investimentos, houve elevação em 2021 e 2022, o que não gera tanta preocupação pelo efeito cumulativo.

O presidente do Banco Central reforçou que existe relação entre o cenário fiscal e as expectativas de inflação, mas que nada é mecânico. Segundo ele, essa é uma das principais mensagens a serem fixadas.
Durante entrevista coletiva, o presidente do Banco Central ponderou que se o cenário fiscal for um pouco pior, mas o governo seguir fazendo reformas, o mercado vai entender que há um esforço para o controle da dívida.

Campos Neto ponderou que nos Estados Unidos houve esforço generalizado do Federal Reserve, o banco central do país, em corrigir a interpretação dos investidores sobre o corte de juros, e que a reação do Banco Central à política monetária americana também não é mecânica.

O presidente do Banco Central pontuou que o câmbio não tem tido muita volatilidade e que o real tem se mostrado uma moeda resiliente. “O real tem se mostrado uma moeda bastante resiliente, o fluxo melhorou bastante”, disse. Para ele, o Brasil é forte candidato a fluxos de investimentos mais perenes, e o câmbio tende a se beneficiar.

Ele disse que a parte agrícola e de petróleo também tem ajudado fluxo cambial. “Não fazemos previsões de câmbio, mas de fato tem sido variável melhor”, comentou. O presidente do Banco Central disse que o País teve boas notícias na aprovação de reformas no Congresso nesta semana, com a promulgação da tributária e aprovação da medida provisória que regulamenta a subvenção estadual na base de cálculo de tributos federais.

Ele também destacou o grande esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na relação com o Congresso para a votação de reformas.