Economia
Corte lento

Campos Neto diz que processo de desinflação está em curso

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou na quarta-feira, 27, que o processo de desinflação em curso no Brasil ainda requer uma política monetária contracionista.

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27 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que processo de desinflação está em curso
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou na quarta-feira, 27, que o processo de desinflação em curso no Brasil ainda requer uma política monetária contracionista. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano. O colegiado voltou a sinalizar cortes de mesma magnitude na Selic nas próximas reuniões.

Durante introdução sobre o regime de metas no Brasil, Campos Neto explicou que o BC olha a inflação corrente, as expectativas de inflação e o hiato do produto para tomar suas decisões sobre a taxa de juros.
Em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, ele mais uma vez destacou as vantagens da autonomia operacional da instituição. “Lembrando que quem determina a meta de inflação é o governo, o que o BC faz é operacionalizar essa meta”, completou.

O presidente do Banco Central repetiu que a inflação está melhorando em grande parte do mundo, e alertou que a inflação de energia começa a subir novamente. “O Brasil tem uma desinflação acentuada, caindo forte em alimentos e bebidas. O IPCA-15 dessa semana foi quase todo preço da gasolina, com a reoneração dos combustíveis”, destacou.

Ao citar a Inglaterra e outros europeus, Campos Neto apontou que diversos países têm encontrado uma dificuldade muito grande em debelar a inflação.

Já na América Latina, comparou, países como o Brasil, que começaram a subir os juros mais cedo, têm tido maior sucesso no combate à alta de preços. “Apesar de não estarmos no centro da meta ainda, temos uma inflação parcialmente ancorada para 2024 e 2025. Comparado com outros países, estamos melhores”, acrescentou.

O presidente do Banco Central disse ainda que o mercado tem errado muito as previsões para o crescimento da economia brasileira. “Os economistas têm sido mais pessimistas em relação ao crescimento, o que nos faz pensar que há algo estrutural no crescimento potencial, que são as reformas feitas nos últimos anos”, afirmou.

Campos Neto destacou que o desemprego está quase voltando ao piso histórico, enquanto a renda real começou a subir lentamente. “Parte da melhoria de produtividade vem do agro, mas estamos vendo uma melhora”, completou.

Mais uma vez, o presidente do BC argumentou que a instituição conseguiu fazer um “pouso suave”, ou seja, trazer a inflação para baixo com um custo de crescimento menor na comparação com outros países.

O presidente do Banco Central explicou que os alertas da instituição sobre o aumento do crédito direcionado e seus efeitos sobre a potência da política monetária não dizem respeito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“Quando falamos de crédito direcionado não estamos falando de BNDES, ele não é tão relevante”, afirmou.

Na ata da última reunião do Copom, divulgada na terça-feira, o BC reforçou que o esmorecimento do esforço de reformas estruturais, o aumento do crédito direcionado e incerteza sobre a estabilização da dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra. Em junho, o BC informou que a estimativa havia subido de 4,0% para 4,5%.

Questionado pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) sobre a quantidade de reuniões com bancos e agentes financeiros, o presidente do Banco Central, disse que a instituição ampliou os encontros com o setor produtivo e está repensando sua agenda de reuniões com o setor financeiro.

“De fato tem bancos centrais que fazem mais reuniões com instituições financeiras e outros que fazem menos. Discutimos isso na última reunião do Copom, sobre qual quantidade seria ideal ou traria mais ganhos. Nós também temos esse questionamento, se simplesmente não deveríamos fazer mais. Tentamos fazer o máximo de reuniões possíveis abertas, com transmissão, para que todos tenham acesso às informações ao mesmo tempo”, respondeu. “Democratizamos muito os contatos do Banco Central”, completou.

Ele enfatizou que sempre respeitou o período de silêncio pré e pós as reuniões do Copom. “Nunca houve vazamentos (dos debates do Copom) nos meus 5 anos de BC”, acrescentou.
Confrontado por Lindbergh sobre notícias de que ele havia se convertido em uma espécie de “conselheiro do Centrão”, Campos Neto respondeu que sempre recebe todos os parlamentares que solicitam agendas com ele.

O presidente do BC também negou ter realizado qualquer consultoria à campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro à reeleição. “Eu nem sei quem era o marqueteiro de Bolsonaro”, acrescentou.
Ele ainda negou que o Copom tenha alterado sua comunicação após a troca de governo e alegou que também era criticado pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, quando fazia alertas sobre a trajetória fiscal do País.

Perguntado pelo parlamentar petista sobre suas participações em offshores e fundos fechados, Campos Neto enfatizou ser a favor da taxação de “super ricos”, em referência aos projetos do governo para tributação desses dois instrumentos de investimentos. “Tenho offshores há 15 ou 20 anos, tem irmãos que moram nos Estados Unidos e não sabia se iria morar lá ou não. Minha participação em offshores já foi explicada inclusive ao Supremo Tribunal Federal (STF). Fui a favor de taxar mais os fundos exclusivos do que a alíquota votada pelos parlamentares”, respondeu.

Por fim, o presidente do BC alegou estar trabalhando para ajudar o atual governo, e citou a melhora das avaliações do Brasil pelas agências internacionais de avaliação de risco. “Todas elas citam o trabalho do BC. Não trabalhamos sozinhos, mas trabalhamos para melhorar a situação do País. O BC é parceiro (do governo). O BC não é oposição, não é partido, é um órgão técnico”, completou. “Temos que sair da briga de polarização e fazer o que realmente importa”, concluiu.

O presidente do Banco Central disse ainda que, apesar de entender a dificuldade de se atingir a meta de resultado fiscal zero em 2024, é preciso continuar perseguindo essa meta. “É importante persistir na meta, caminho é esse, e é isso que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad tem pontuado. Mesmo que a meta não seja cumprida 100%, os agentes percebem esforço nessa direção”, afirmou.

A nova regra fiscal admite um intervalo de tolerância de 0,25% do PIB, para cima ou para baixo.
Campos Neto avaliou que a aprovação do novo arcabouço fiscal foi positiva, com impacto nas taxas de juros de longo prazo, mas lembrou que o Brasil continuará tendo um crescimento real do gasto acima do verificado em outros países emergentes. “A despesa no Brasil vai ser mais alta em 2023 e 2024”, completou.