Economia
Impacto na inflação

Campos Neto diz que preços das commodities seguem em alta

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os preços das commodities seguem em alta e que a autoridade monetária monitora o efeito do conflito entre Israel e o grupo Hamas na inflação.

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09 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que preços das commodities seguem em alta
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os preços das commodities seguem em alta e que a autoridade monetária monitora o efeito do conflito entre Israel e o grupo Hamas na inflação. “Temos a situação na Ucrânia, de Israel, e como os preços serão impactados?”, questionou ele durante o evento Reuters Next, realizado em Nova York.

Conforme Campos Neto, o BC monitora como as commodities estão sendo afetadas e como isso pode se refletir na sua visão.  Ele afirmou ainda que os preços dos alimentos estão se reduzindo no Brasil, que é um grande produtor agrícola.

Na sua visão, é difícil traçar um paralelo entre as crises atuais, mencionando os conflitos existentes, e a da covid-19. “Por ser uma potência agrícola, o Brasil é uma história de segurança”, acrescentou Campos Neto.

O presidente do Banco Central afirmou ainda que o Brasil será um dos maiores vendedores no mercado de carbono, enquanto outros países serão compradores. Segundo ele, o País tem se debruçado neste segmento, com a criação de uma taxonomia, ou seja, um padrão ecológico para os ativos, e ainda em instrumentos para que os recursos possam ser melhor alocados.

“O que temos de fazer é ter uma taxonomia, porque é muito difícil você ter um mercado de carbono se você não tem um conjunto de regras”, avaliou Campos Neto.

Ele disse que é necessário estimular as empresas a encontrar caminhos para construir o mercado de carbono no País. “No fim do dia, o Brasil será um grande vendedor do mercado de carbono e muitos outros países serão compradores”, projetou o banqueiro central.

Para Campos Neto, também é necessário estar aberto a monetizar florestas nativas, considerando os vários métodos existentes atualmente. “Se conseguirmos preservar e monetizar, teremos um ótimo futuro em termos de mercado de carbono no Brasil”.

O presidente do Banco Central afirmou que há preocupação sobre a dificuldade de as pessoas quantificarem os resultados fiscais do Brasil em caso de mudança da meta já estabelecida. Segundo ele, o País teve avanços nesta direção com a aprovação do arcabouço fiscal, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem trabalhado muito na condução do fiscal.

“Foi feito um trabalho muito importante, de estabelecer um novo arcabouço fiscal no primeiro ano”, disse Campos Neto. “Sobre a mudança da meta fiscal, para nós a preocupação é que as pessoas tenham mais dificuldades de prever os resultados fiscais”, acrescentou.

De acordo com o presidente do BC, a razão que preocupa a autoridade é o impacto da situação fiscal do País na política monetária. “As variáveis são importantes para a nossa tomada de decisão. A forma como o fiscal impacta é importante para nós, para a economia”, reforçou Campos Neto.

Ele disse que o cenário global e externo é marcado por incertezas e repetiu que é difícil saber de onde virá a desinflação.

Conforme Campos Neto, o Brasil teve visão diferente durante a pandemia uma vez que já enfrentava desafios. Desde então, tem aprovado várias reformas. Ele citou a tributária, aprovada na quarta-feira no Senado. “O Brasil foi o único país que aprovou reformas durante a covid-19 e continua”, disse.

O presidente do Banco Central relatou em evento em Nova York os progressos da instituição na área digital, falando sobre o Pix, o Open Finance e o Drex – a moeda digital da autoridade monetária – e como esses instrumentos auxiliam na inclusão financeira. “Essas coisas não são separadas, fazem parte de um plano. E o plano tem três blocos”, disse.

Ele voltou a falar que BC brasileiro construiu um “trilho” acessível a todos os agentes para aprimorar a digitalização da intermediação financeira, mas que foi preciso tornar esse setor competitivo e tornar a moeda local mais internacional. “Queríamos tornar a moeda mais tokenizada”, explicou.

Por isso, de acordo com Campos Neto, foi criado o Pix, que é o “trilho” e que recentemente registrou a marca diária de 175 milhões de transações. “Então, com o Pix, colocamos o Open Finance em cima, o que significa que as pessoas têm como fazer comparações imediatamente sobre a portabilidade de produtos financeiros. E é nisso que estamos trabalhando”, ilustrou.

O avanço obtido até agora, segundo Campos Neto, ainda seria insuficiente para o objetivo do Banco Central, que tinha a intenção de tornar o real mais internacional. Para isso, salientou, seria preciso conectar o sistema local com outros países. “Foi por isso que alteramos toda a regulação de câmbio”, disse.

O último bloco, segundo Campos Neto, é o Drex, o novo nome do real digital. O que a CBDC (sigla em inglês para Moeda Digital do Banco Central) faz e que o Pix não consegue alcançar, continuou, é digitalizar pagamentos.

“A nossa moeda digital é muito diferente do que o que estamos vendo em outros lugares. O que estamos fazendo é tokenizar os depósitos. Então, o banco bloqueia o recurso e isso é outro grau de eficiência”, argumentou, dizendo, que dessa forma, as instituições financeiras poderão securitizar ativos de uma forma melhor de controlar riscos. O banqueiro central voltou a dizer que esse procedimento também é melhor nos casos de registros de contratos.

O presidente do BC também foi questionado sobre o uso de inteligência artificial. De acordo com ele, é um instrumento para melhorar dados e poderes de computadores. A autoridade monetária já usa o learning machine em várias áreas, segundo Campos Neto, para adicionar funcionalidades a vários processos.

“Usamos na análise de dados, que também envolve funções de política monetária, mas achamos que a IA será ainda mais útil quando colocarmos todos os blocos juntos (Pix, Open Finance e Drex), melhorando a vida das pessoas, pois muitas no Brasil não têm educação financeira”, defendeu Campos Neto.