Economia
Quadros técnicos

Campos Neto diz que não tem participado das discussões sobre escolha de nomes para BC

O presidente do Banco Central, Campos Neto, repetiu que a escolha de diretores para o BC sempre foi uma prerrogativa do governo.

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31 de março de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que não tem participado das discussões sobre escolha de nomes para BC
Campos Neto: "Não estamos participando do processo e não tenho como comentar sobre os nomes que têm sido especulados"

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na quinta-feira, 30, que não tem participado das discussões com o governo para a escolha dos nomes de dois novos diretores da autoridade monetária. “Não estamos participando do processo e não tenho como comentar sobre os nomes que têm sido especulados”, limitou-se a responder.

O governo deve indicar ao Senado nos próximos dias os nomes dos dois novos diretores de Política Monetária e de Fiscalização do BC.

O presidente do Banco Central repetiu que a escolha de diretores para o BC sempre foi uma prerrogativa do governo, mas disse que estava disposto a ajudar, inclusive oferecendo quadros técnicos da própria instituição.

“Alguns cargos demandam conjuntos de habilidades específicos da área. Na diretoria monetária, é importante que pessoa conheça como funcionam mercados. Gostaria que as pessoas que fossem indicadas tivessem o conhecimento necessário para que a gente continue a fazer nosso trabalho da forma mais técnica possível”, completou Campos Neto.

Após a forte retração do crédito no começo de 2023, o presidente do Banco Central reforçou que a instituição tem instrumentos para atuar e avaliou que há “gordura para queimar”. “Não temos problema de capitalização e liquidez no Brasil, mas o BC está pronto a atuar se for o caso”, respondeu.

O presidente do BC avaliou que os impactos dos problemas financeiros das Lojas Americanas em algumas modalidades de crédito têm se estabilizado.

Segundo ele, desaceleração da atividade segue como esperado. “Há um processo de desaceleração de crédito como esperávamos, mas é bom ficar vigilante, estamos olhando dados diariamente na ponta”, completou.

As concessões dos bancos no crédito livre caíram 9,6% em fevereiro ante janeiro, para R$ 383,7 bilhões, informou o Banco Central. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, porém, o aumento ainda é de 16,8%. Estes dados não levam em conta ajustes sazonais.

No crédito para pessoas físicas, as concessões despencaram 10,3% em fevereiro, para R$ 217,6 bilhões. Em 12 meses até fevereiro, ainda há alta de 20,0%. Já no caso de pessoas jurídicas, as concessões recuaram 8,6% em fevereiro ante janeiro, para R$ 166,0 bilhões. Em 12 meses, o avanço é de 13,5%.

Após membros da equipe econômica afirmarem que o Comitê de Política Monetária (Copom) foi político em sua última comunicação da decisão que manteve a Selic em 13,75% ao ano, o presidente do Banco Central, reiterou que o comunicado do colegiado é técnico.

“Temos visto politização de uma linguagem muito técnica do Copom. Cada vez que mudamos palavra e frase, há um significado”, afirmou o presidente do BC, no mesmo dia no qual a autoridade divulgou seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Segundo Campos Neto, a mensagem de que o Copom “não hesitará” em retomar até mesmo a alta de juros se a desinflação não ocorrer como esperado tem sido repetida em todas as reuniões desde que os juros estacionaram em 13,75%. “Não fazia sentido tirar esse parágrafo com a piora de projeções”, justificou.

O presidente do Banco Central disse que a ata do Copom tenta explicar o que foi feito tecnicamente pelo colegiado. “A ata consegue incorporar alguma explicação sobre incertezas que podem ter sido criados pelo comunicado. Entendemos que precisávamos explicar que nosso processo não tem nenhuma dimensão política, é completamente técnica”, respondeu.

Questionado sobre como o BC poderia explicar o alto nível dos juros aos brasileiros, Campos Neto afirmou que é melhor ter um custo alto no curto prazo do que correr o risco de um custo muito maior no longo prazo para controlar a inflação. “O custo de não combater a inflação é mais alto, de longo prazo e mais severo”, enfatizou.

Questionado novamente sobre as críticas do governo à atuação da autoridade monetária, o presidente do Banco Central reforçou que a instituição é um órgão técnico que não deve e envolver em temas políticos. Ele repetiu que tem uma boa relação com o Ministério da Fazenda.

“O ministro Fernando Haddad é muito bem intencionado e tem uma luta dura pela frente. Do nosso lado, fazemos um trabalho técnico e precisamos explicar para a sociedade que esse trabalho tem um custo no curto prazo que é menor que o custo no longo prazo de não se combater a inflação”, respondeu Campos Neto. “Precisamos mostrar as vantagens sobre ter a inflação sobre controle”, completou.