Economia
Agenda social

Campos Neto diz que não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, voltou a dizer que não é produtivo personificar o trabalho do BC em sua figura.

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27 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada
Campos Neto repetiu que a redução da taxa Selic não necessariamente resulta em mais crédito na economia ou juros longos mais baixos.

Em meio às críticas do governo sobre o nível alto dos juros básicos do Brasil e seu efeito sobre a atividade econômica, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou na quinta-feira, 27, que a principal contribuição da autoridade monetária é cumprir sua missão de controlar a inflação.

“O BC tem preocupação enorme com agenda social. Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada”, disse, em debate sobre juros organizado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Também participam o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

Alvo de críticas diretas de representantes do governo, Campos Neto voltou a dizer que não é produtivo personificar o trabalho do BC em sua figura. “Não é a pessoa Roberto Campos Neto, é o Banco Central.”

O presidente do BC voltou a dizer que o juro real brasileiro é alto, mas que a diferença para os demais países está menor do que no passado recente após mudanças estruturais no Brasil.

“O diferencial do juro real com outros emergentes está abaixo da média histórica. Não estou defendendo juro real alto, mas é uma ferramenta que existe. Fizemos trabalho institucional nos últimos tempos que permitiu um juro real mais baixo”, disse Campos Neto.

Em meio à ofensiva do governo contra o nível atual dos juros básicos, o presidente do BC também repetiu que a redução da taxa Selic não necessariamente resulta em mais crédito na economia ou juros longos mais baixos. “Se baixar o juro sem credibilidade, o crédito cai. Temos spreads mais baixos hoje em todas as categorias de crédito.”

Segundo Campos Neto, o que importa não é a Selic, mas as condições financeiras da economia. “Para gerar liquidez, Selic precisa ser conduzida com credibilidade”, reforçou. O presidente do BC também citou que o mercado de capitais vem ocupando espaço do crédito direcionado.

Campos Neto voltou a defender que há inflação de demanda no Brasil, ao contrário do que criticam alas do governo federal. “Portanto, precisa do trabalho que está sendo feito”, disse, defendendo a estratégia atual do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve, em março, a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

No debate, Campos Neto repetiu que a inflação é um imposto perverso e que prejudica mais as classes mais baixas. “Empresas e pessoas com mais recursos conseguem se proteger da inflação. Aumento da inflação reduz o prazo médio do crédito e atrapalha investimento.”

Diante das críticas sobre o prejuízo à atividade econômica, o presidente do BC também voltou a dizer que o BC sempre atua na Selic de forma a “suavizar ao máximo o ciclo”. Nesse contexto, citou que o desemprego melhorou recentemente, embora ainda alto, e que o crédito desacelera de forma organizada.

Campos Neto também voltou a dizer que o alto nível de crédito direcionado no País reduz a potência de política monetária, levando a uma necessidade de um juro básico mais alto para controlar a inflação. “Juros são altos por recuperação de crédito baixa, endividamento alto e baixa poupança. Volume de crédito direcionado é alto, é como uma tubulação entupida.”

O presidente do Banco Central ainda rebateu novamente que o Brasil tenha descumprido a meta de inflação mais do que pares internacionais e disse que o descolamento de metas ocorreu quando se aceitou mais inflação em troca de crescimento.

Ele citou os exemplos recentes de Argentina e Turquia. “Argentina e Turquia trocaram inflação por crescimento e tiveram mais inflação e menos crescimento no fim das contas.”

Campos Neto repetiu que o Brasil teve sete estouros de metas em 24 anos, um número similar a pares, como o Chile e o Peru. “Temos sistema de metas de inflação que funciona muito bem em todos os países. Passamos a maior parte do tempo dentro da banda do regime de metas.”

Sobre o atual nível de metas, o presidente do BC citou que países desenvolvidos têm meta de 2% e, em muitos pares emergentes, o nível é igual ao do Brasil, de 3%. “Entre os países relevantes, apenas África do Sul e Índia têm metas acima de 3,00%.” Campos Neto ainda repetiu que é consenso que a autonomia de bancos centrais provoca menor inflação e volatilidade.