Economia
Queda dos juros

Campos Neto diz que Brasil começa a ver um pouso suave

Segundo Campos Neto, o último ciclo de aperto monetário, que começa a ser afrouxado agora, foi menos restritivo do que os anteriores.

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22 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que Brasil começa a ver um pouso suave
Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na terça-feira, 22, que o Brasil começa a ver um pouso suave da atividade e das expectativas de inflação e de juros. Ainda de acordo com ele, o último ciclo de aperto monetário, que começa a ser afrouxado agora, foi menos restritivo do que os anteriores.

“Nós começamos a ver um pouso suave”, disse ele durante participação em evento do Santander, realizado em São Paulo. “Quando a gente olha a diferença entre taxa de juros nominal agora e a média entre 2011 e 2019, e vemos que outros países subiram muito mais os juros.”

Campos Neto reconheceu que os juros no País são altos, mas reforçou que os juros reais subiram menos do que em outros países que também apertaram a política monetária após a pandemia da covid-19. Neste cenário, a restrição de crédito no Brasil também foi menor que em outras economias.

O presidente do BC disse que a batalha contra a inflação não está ganha, e que os juros precisam ser restritivos. Entretanto, ele vê uma sincronia de cenários mundo afora. “Podemos estar perto de uma desaceleração de juros global, porque o ciclo de aperto está sincronizado.”

Campos Neto afirmou ainda que a inflação global começa a cair, mas que em vários países, os núcleos dos índices de preços continuam pressionados. De acordo com ele, o cenário na América Latina é diferente, com uma queda rápida da inflação, assim como no Leste Europeu.

“A gente vê a inflação global começando a cair, a parte de energia voltou bastante principalmente na Europa, mas quando a gente olha os núcleos de inflação em geral, os núcleos estão bastante persistentes”, disse.

Segundo o presidente do BC, em países de economia avançada, a inflação é causada por núcleos que não desaceleraram, enquanto na América Latina e no Leste Europeu, os núcleos tiveram uma queda mais rápida. “A inflação cheia começou a cair mais recentemente no mundo avançado”, afirmou.

Campos Neto disse que os números de países emergentes, exceto a Colômbia, mostram que nos países da América Latina, a composição da inflação é diversa daquela vista nos países desenvolvidos, com os núcleos em queda consistente.

O presidente do Banco Central afirmou que os países que fizeram uma elevação mais forte dos juros começam a ter espaço para reduzi-los. De acordo com ele, isso se traduz em uma redução dos juros futuros. “Em países que elevaram os juros mais forte, a curva de juros já precifica uma queda”, disse.

Campos Neto destacou ainda que o grande tema econômico global no momento é a atividade na China, segundo ele puxada para baixo pelo desaquecimento do setor imobiliário. Ainda de acordo com ele, nos países desenvolvidos, o crédito tem desacelerado. “Vemos a China entrando na área negativa da atividade”, disse ele. “Havia recuperado um pouco na margem, mas os números de China eu acho que têm causado preocupação.”

O presidente do BC mencionou que projeções recentes para o PIB chinês indicaram um crescimento próximo a 4%, índice considerado baixo para a segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, disse, o desemprego do país asiático subiu rapidamente.

Campos Neto afirmou que a desaceleração tem sido puxada pelo setor imobiliário, que, lembrou ele, tem um peso muito maior na economia chinesa que na brasileira. “O envelhecimento da população é um problema grande na China, e que pela primeira vez eu vejo preocupações”, disse.

Ele afirmou também que no mundo desenvolvido, no geral, há um freio importante na concessão de crédito, diante da desaceleração da economia e das restrições monetárias. Por outro lado, Campos Neto afirmou que em países como os Estados Unidos há um descasamento entre as políticas fiscal expansionista e a monetária contracionista. “Tem muito de componente de demanda e excesso de poupança na inflação dos Estados Unidos”, disse.

O presidente do Banco Central afirmou ainda que a solução para os problemas do crédito rotativo precisa considerar uma série de pontos para não gerar uma ruptura no mercado de crédito. De acordo com ele, a participação do cartão de crédito no consumo brasileiro é alta na comparação com outros países.

“A gente precisa achar uma solução que entenda que o parcelado sem juros é importante para o consumo brasileiro, não pode ter nenhuma ruptura”, disse ele durante participação em evento do Santander, realizado em São Paulo nesta terça-feira. “Não tenho como dizer qual vai ser a solução, mas acho que a solução vai passar por esses pontos. Não fazer nada pode ser pior.”

Campos Neto afirmou, por outro lado, que a inadimplência acima de 50% no rotativo mostra que “há algo de errado” com essa linha de crédito. Ele ainda disse que é preciso considerar que a inadimplência vista no cartão de crédito nos últimos meses também é fruto da rápida expansão da oferta, puxada majoritariamente por novos players de mercado.

“O negócio de crédito é um negócio de assimetria de informação. Isso fez com que alguns desses entrantes novos da operação de cartões tivessem inadimplência alta com juros altos”, afirmou o presidente do BC.

Campos Neto disse que uma solução desorganizada pode gerar problemas para o consumo no País. Ele citou dados que mostram que os cartões de crédito representam 40% do consumo no Brasil. “Você pode concluir ou pelo menos especular que o cartão de crédito faz uma função além do que deveria”, afirmou ele.

Ainda de acordo com o presidente do BC, o cartão de crédito é 20% do crédito no País, e nesse produto, só um terço das operações têm cobrança de juros, seja no rotativo, seja no parcelado. Com isso, cerca de 15% do crédito no País não tem a incidência de juros, comentou.