Economia
Sinalização

Bradesco diz estar em compasso de espera sobre recuperação judicial da Americanas

Enquanto está em compasso de espera, o banco preferiu provisionar 100% do crédito que tem direito a receber da varejista.

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10 de fevereiro de 2023
Vinicius Palermo
Bradesco diz estar em compasso de espera sobre recuperação judicial da Americanas
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior falou sobre a situação de "compasso de espera".

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse na sexta-feira, 10, que o banco está em “compasso de espera” nas negociações relacionadas à recuperação judicial da Americanas. Enquanto isso, preferiu provisionar 100% do crédito que tem direito a receber da varejista, em uma sinalização de que, neste momento, espera não ser pago. O Itaú fez movimento semelhante.

“Estamos em compasso de espera, para ouvir se há um fato novo”, disse ele em coletiva de imprensa. Lazari não citou a Americanas nominalmente. “Por enquanto, não há sinalização de como vai ser resolvido”, emendou.

As negociações entre a Americanas e os bancos credores estão travadas, e a companhia deve recorrer a um empréstimo-ponte, com metade ou mesmo todo o montante concedido pelos três acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Além do compasso de espera

Lazari disse ainda que o banco estimou o guidance para provisões contra a inadimplência neste ano considerando tanto os calotes de empréstimos antigos quanto o crescimento da carteira ao longo de 2023. Este ano deve ser, porém, de menor apetite de risco.

A Americanas começou a notificar os shoppings onde tem lojas físicas que os aluguéis devidos até a data do deferimento do pedido de recuperação judicial, em 19 de janeiro, não serão pagos, por conta do efeito de suspensão de cobranças conferido pela recuperação judicial.

Segundo as cifras que constam na lista de credores do processo de recuperação da varejista, entregue à Justiça do Rio de Janeiro, a companhia deve R$ 11,6 milhões aos shoppings espalhados por diversas regiões do País.

São cerca de 90 credores de shopping centers. Os valores da lista não estão discriminados pelo tipo de despesas, mas, provavelmente, se referem a aluguéis e condomínios.

O comunicado desta semana sobre o não pagamento dos valores em aberto é assinado pelo coordenador jurídico da Americanas, Bernardo Mesquita Costa. O informe destaca que o eventual pagamento do aluguel até o dia 19 de janeiro “implicaria em prática de favorecimento de credor”.

O comunicado ressalta ainda que os créditos anteriores ao pedido de recuperação estão com sua exigibilidade suspensa. Já os pagamentos cuja competência compreende o período de 20 a 31 de janeiro de 2023 serão realizados ao longo deste mês.

Na lista de credores entregue à Justiça, os dez maiores shoppings credores concentram quase 80% das pendências da Americanas com o setor. A maior dívida da varejista, de R$ 2,6 milhões, é com o Shopping Pantanal, de Cuiabá (MT), do grupo Ancar.

Na sequência vem o shopping Esplanada de Sorocaba (SP), da Iguatemi, cuja pendência da Americanas é de R$ 1,6 milhão. Se for somada a essa cifra, a pendência de R$ 741 mil com o Shopping Iguatemi de São Paulo, a dívida da Americanas com o grupo soma R$ 2,364 milhões.

Em terceiro lugar no ranking de credores dos shopping está o Grupo AD, com R$ 2,103 milhões a haver, referente aos shoppings Penha (R$ 1,170 milhão), ABC (R$ 660 mil) e Praça da Moça em Diadema, São Paulo (R$ 273 mil).

Nesta semana, o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Glauco Humai, afirmou que o rombo da Americanas serve de alerta para que a indústria de shoppings busque constantemente diversificar o mix de lojistas para diluir os riscos. “O caso serve de alerta. O setor não pode ficar refém de uma pequena base de varejistas”, disse, durante entrevista coletiva.

O presidente da Abrasce acrescentou que está monitorando o caso da Americanas e o impacto potencial sobre o setor. Segundo ele, a varejista ocupa um espaço importante nos shoppings. No entanto, não se trata de uma situação generalizada de calote. Ao todo, o Brasil tem 628 shoppings.