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Privatização

BC sonda impacto de antecipação de recursos da Eletrobras no IPCA

O Banco Central divulgou na manhã de quinta-feira o Questionário Pré-Copom (QPC) enviado a analistas de mercado antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)

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26 de abril de 2024
Vinicius Palermo
BC sonda impacto de antecipação de recursos da Eletrobras no IPCA
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto

O Banco Central divulgou na manhã de quinta-feira o Questionário Pré-Copom (QPC) enviado a analistas de mercado antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 7 e 8 de maio.

Na lista de perguntas, o órgão quer saber dos analistas “qual será o impacto potencial no IPCA acumulado em 2024/2025 da antecipação dos recursos da privatização da Eletrobras, prevista na Medida Provisória 1.212/2024”, e quanto o entrevistado incorpora desse valor atualmente na sua projeção em cada ano, com impacto potencial em 2024/2025, impacto incorporado na projeção atual de 2024 e impacto incorporado na projeção atual de 2025.

No último dia 9 de abril, o presidente Lula editou medida provisória com iniciativas focadas no setor elétrico, a MP 1 212/2024, que, segundo o governo, tem potencial para baratear a conta de luz entre 3,5% e 5%. Dentre as ações, o texto permite a antecipação de recursos da Eletrobras.

Pela MP, o governo pretende antecipar dois tipos de recursos previstos na lei de privatização da Eletrobras. O primeiro é referente a repasses à CDE: R$ 32 bilhões que serão destinados à conta de subsídios, ao longo de 25 anos, para atenuar reajustes tarifários. Desse total, R$ 5 bilhões foram pagos em 2022 e outros R$ 620 milhões foram repassados em 2023. Agora, o governo quer antecipar o saldo restante o máximo possível, para contribuir na redução das tarifas de energia, por meio da liquidação da ‘Conta Covid’ e da ‘Conta Escassez Hídrica’.

A quitação antecipada desses empréstimos reduziria os reajustes tarifários deste ano, que devem ficar, em média, em 4,67%, segundo estimativa da TR Soluções, empresa de tecnologia especializada em tarifas de energia. O valor a ser antecipado ainda não está claro e não consta da MP, mas na quarta-feira o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse a jornalistas que “a ideia é usar todo o recurso que conseguirmos securitizar”.

Especialistas do setor elétrico alertam que esta é uma operação financeira, e não se sabe ao certo quanto os bancos estarão dispostos a cobrar por esta antecipação de recebíveis. Assim, ainda que se consiga securitizar os cerca de R$ 26 bilhões devidos, o valor a ser obtido pelo governo será inferior a esse montante. Adicionalmente, há preocupação de que essa operação acarreta passivos para os próximos anos.

Além da Eletrobras, o Questionário pré-Copom do BC ainda quer saber dos analistas as projeções para uma série de variáveis fiscais, como resultado primário do governo central, PIB nominal e resultado primário dos governos regionais. Além disso, pergunta a eles: “Das medidas econômicas apresentadas ou em discussão para recomposição de receitas, qual o valor incorporado na sua projeção de receita líquida do Governo Central? Isso para 2024 e para 2025.

Nesse mesmo bloco sobre o quadro fiscal, o BC ainda pede a avaliação dos entrevistados sobre “a evolução da situação fiscal desde o último Copom, considerando tanto seu cenário central quanto os riscos envolvidos”.

O questionário tem sete perguntas centrais, com desdobramentos detalhados cada uma. As duas recorrentes sobre “o que o Copom fará nas próximas reuniões” e sobre a comunicação do colegiado estão mantidas, assim como questões sobre o cenário externo envolvendo Estados Unidos, China, Área do Euro e economias emergentes.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou na quinta-feira o compromisso da autarquia com a agenda de sustentabilidade e disse que ela irá transformar a realidade positivamente. O banqueiro central participou da cerimônia de lançamento do G20 Techsprint 2024.

“Em um ambiente de desafios sociais, o papel das finanças sustentáveis é essencial para mobilizar fundos para uma economia mais sustentável”, disse Campos Neto. “No caso dos bancos centrais, a agenda é importante porque assuntos relacionados à sustentabilidade afetam suas duas missões: a política monetária e a estabilidade financeira.”

Campos Neto defendeu que o TechSprint deve explorar o potencial de tecnologias inovadoras, a fim de criar soluções para melhorar a negociação de ativos verdes e melhorar o de investimentos.

“É uma oportunidade única para os setores público e privado, os reguladores inovadores, a academia, a sociedade civil, o governo e o mercado”, disse. “Estou confiante que vão prover soluções transformadoras e inovadoras que vão andar junto com o sistema financeiro, o tornando mais inclusivo e sustentável.”
O G20 Techsprint 2024 é promovido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) e pelo Banco Central brasileiro.