Economia
Meta fiscal

BC admite que cenário atual é desafiador, com risco de alta da inflação

Para o colegiado do Banco Central (BC), o desenrolar deste cenário será importante para definir os próximos passos da política monetária.

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06 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
BC admite que cenário atual é desafiador, com risco de alta da inflação
O presidente do BC, Roberto Campos Neto

A ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na terça-feira, 6, destaca que o cenário atual é desafiador, marcado por projeções elevadas e com mais riscos para a alta da inflação. Para o colegiado, o desenrolar deste cenário será importante para definir os próximos passos da política monetária.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras”, diz a ata.

Por causa desse entendimento, o Comitê entende que a melhor estratégia abarca a manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo, para levar a inflação à meta no horizonte relevante.

Ainda assim, o colegiado, também por unanimidade, “reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

A ata ainda reitera que, como é usual, as estratégias adotadas vão refletir o compromisso com o cumprimento da meta de inflação e a reancoragem das expectativas, para minimizar o custo da desinflação.

“O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, reforça o documento.

A ata destacou também que há surpresas com os dados de mercado de trabalho e atividade econômica, sobretudo o consumo das famílias, que estão divergindo do cenário de desaceleração previsto.

“Além disso, houve nova elevação das projeções de inflação para o horizonte relevante de política monetária, não obstante nova elevação na trajetória da taxa Selic extraída da pesquisa Focus. De forma análoga, as expectativas de inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião anterior”, pondera a ata.

O documento pontua que o cenário externo se mantém adverso, citando a incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização monetária nos Estados Unidos.

“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”, diz a ata.

A ata ressalta que o colegiado monitora com atenção a política fiscal. O documento destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas.

“Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

O colegiado reitera que políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas “contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

A ata também reforça a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia. Esse movimento provoca “impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.

A ata reitera que os dados de mercado de trabalho e de atividade econômica seguem com mais dinamismo do que era esperado. “Esse movimento ocorre em contexto de hiato do produto próximo à neutralidade, tornando mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta. O dinamismo de indicadores de mais alta frequência, como de comércio e serviços, reforça o diagnóstico de resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo Comitê”, diz o documento.

Sobre o mercado de trabalho, o colegiado destacou que o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda estão “sistematicamente surpreendendo”.

A avaliação é de que essas surpresas recorrentes apontam para elevado dinamismo do mercado de trabalho, que se mostra apertado. Na última semana, o Copom decidiu manter a Selic em 10,50% ao ano, por unanimidade.