Economia
Inflação mais baixa

Autonomia do BC diminui a volatilidade na economia

Campos Neto mencionou o exemplo da Argentina, para quem, segundo ele, a autonomia do BC local foi mal formulada.

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22 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Autonomia do BC diminui a volatilidade na economia
Campos Neto afirmou que o bc tomou medidas para aumentar a competição e reduzir o spread bancário

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu que os ganhos da autonomia da autoridade monetária não são vistos “a curto prazo”, mas que a experiência em outros países mostram que ela diminui a volatilidade na economia.

“Na média, os estudos mostram que a autonomia faz com que a inflação seja mais baixa e menos volátil, (…) Os ganhos da autonomia estão aí, se a gente não tivesse autonomia, no período de eleição brasileira, a gente teria tido mais volatilidade nos mercados”, disse, citando como exemplo dos benefícios da autonomia o fato de o Brasil ter tido “a maior alta de juros do mundo” durante o período eleitoral no ano passado.

Campos Neto mencionou o exemplo da Argentina, para quem, segundo ele, a autonomia do Banco Central local foi mal formulada, gerando explosão dos juros. O presidente do BC participou de seminário organizado pelo jornal Folha de S. Paulo, que discutiu no período da manhã de segunda-feira os dois anos de autonomia do banco.

Ele disse ainda que a autoridade monetária realiza “suavização monetária”, mas ponderou que o processo tem “perdas e ganhos”. “A suavização tem ganho de um lado e perda de outro. Tenho ganho de suavizar porque causo dano menor na economia. Por outro lado, se eu suavizo por muito tempo, perco credibilidade e causo dano maior, com efeitos no crescimento econômico”, defendeu.

Campos Neto afirmou que o banco tomou medidas para aumentar a competição e reduzir o spread bancário e que houve, na sua gestão, fomento ao mercado de capitais. “Quando fomento o mercado de capitais, as empresas não vão aos bancos, que passam a alocar mais a pequenos, microempresários e cidadãos. Se diminuo crédito subsidiado e aumento o crédito de mercado, a economia ganha eficiência”, disse, ao pontuar que medidas de crédito do banco mostram resultados e que “crescimento do microcrédito é muito importante”.

O presidente do Banco Central também o movimento de melhora de expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e avaliou que tende a continuar no curto prazo. “Entendemos que movimento para cima deve continuar no curto prazo, se estabilizando em torno de 1,5%”, disse.
Na segunda, no Boletim Focus do BC, a expectativa para 2023 subiu de 1,02% para 1,20%, após surpresas na atividade no primeiro trimestre.

Segundo Campos Neto, no mundo, há uma discussão sobre uma mudança comportamental da população que poderia estar favorecendo serviços. Campos Neto avaliou que isso é mais claro em países que têm microdados, como Estados Unidos e membros da zona do euro, mas que também ocorre no Brasil. “As pessoas podem estar querendo viver mais experiências. Serviços mostram nova dinâmica, no Brasil não é diferente.”

O presidente do BC afirmou que, em termos de atividade, os emergentes estão um pouco acima dos países avançados. “Nos EUA, poupança da pandemia está acabando, e estoque grande está sendo consumido.”

Ele ainda repetiu que as taxas de juros estão altas no mundo inteiro e citou um fenômeno que tem acontecido em algumas regiões, que é a exportação do crédito para fora do sistema bancário. Nos EUA, o porcentual do crédito fora do sistema bancário já é de 47%, afirmou, mas há movimentos fortes também na Ásia e Europa, enquanto no Brasil ainda é incipiente.

No Brasil, Campos Neto voltou a ressaltar a necessidade de reformas diante de um equilíbrio de baixa taxa de crescimento estrutural e juro neutro e dívida mais elevados. “Se dívida está em 80%, crescimento estrutural em 1,6% e taxa neutra em 4%, como equacionar?”, questionou, reforçando a necessidade de reformas. “Temos que ter potencial de crescer mais gerando menos inflação.”