Estados
Negociação

Americanas teve que pagar à vista compra de 13 milhões de ovos de Páscoa

Diretor da Americanas tinha acordos fechados há cerca de um ano com o fabricante da marca própria de ovos de Páscoa da empresa.

Compartilhe:
13 de fevereiro de 2023
Vinicius Palermo
Americanas teve que pagar à vista compra de 13 milhões de ovos de Páscoa
A Americanas tem dívidas bilionárias com fabricantes de ovos de Páscoa.

As compras de Páscoa das empresas de varejo são negociadas ao longo dos 12 meses que antecedem a data comemorativa, mas os pedidos são fechados no primeiro trimestre do ano. Quando o rombo contábil de R$ 20 bilhões e a consequente recuperação judicial da Americanas vieram a público, o diretor comercial da companhia, Aleksandro Pereira, se viu em uma situação inédita.

Ele tinha acordos fechados há cerca de um ano com o fabricante da marca própria de ovos de Páscoa da empresa, além de volumes e preços acordados com indústrias fornecedoras desde novembro. Mas os pedidos ainda não haviam sido emitidos. “Ficou um ponto de interrogação”, conta. Foram 15 dias de negociação em que a varejista lutou para manter os volumes combinados.

Entre concessões e resistências, a empresa conseguiu, com pagamentos à vista e antecipados, garantir a compra de 13 milhões de ovos de Páscoa (ovos e produtos temáticos de chocolate). Em uma situação normal, os pagamentos seriam feitos com prazos de 15 dias a um mês após o feriado cristão. Com o volume adquirido, a expectativa da empresa é ter alta no faturamento sobre a mesma data de 2022. A companhia não abre, porém, de quanto foi esse faturamento.

“Temos marcas próprias (de ovos), especialmente as licenciadas – voltadas para crianças -, que são desenvolvidas sempre com um ano de antecedência. Nas demais indústrias, viemos conversando ao longo do ano e chegamos a um volume e custo em novembro e dezembro. Já estava tudo fechado, mas não havia começado a emissão e o recebimento de pedidos”, conta Pereira.

Ele diz que o principal entrave era o prazo de pagamento. Grandes fornecedoras estão na lista de credores da recuperação judicial da companhia. São R$ 240 milhões em dívidas com a Nestlé, e R$ 14,8 milhões com a Ferrero Rocher, por exemplo. “Foram duas semanas de conversas intensas. Foi como negociar com alguém que estava chateado”, conta Pereira.

Ele diz que os valores devidos às indústrias são importantes, mas, em relação ao faturamento dessas fabricantes com a Americanas ao longo do ano, são menos expressivos. “São volumes que impactariam um ou dois meses do giro de estoque no fornecedor. Isso deixou os fornecedores chateados, mas não foi impeditivo na negociação”, conta Pereira. A solução foi pagar à vista ou de forma antecipada, mesmo em uma situação de caixa apertada.

A Americanas se comprometeu também a não fazer demissões em massa até a data da apresentação do plano de recuperação, marcada para 20 de março, de acordo com o Sindicato dos Comerciários do Rio. Advogados da varejista, representantes dos trabalhadores e membros do Ministério do Trabalho realizaram uma rodada de negociações, mediada pela Procuradoria Geral do Trabalho.

A Americanas tem cerca de 40 mil empregados e gera perto de 60 mil empregos indiretos. Uma nova reunião ficou agendada para o dia 27 de março, às 14 horas, para a discussão dos impactos do plano de recuperação judicial.

“Os representantes da empresa informaram que não haverá dispensa em massa até a data da apresentação do plano de recuperação, agendado para o dia 20 de março. Apenas as rescisões ordinárias ocorrerão, por exemplo, por caducidade contratual, justa causa, pedidos de demissão e desligamentos pontuais”, afirmou Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio e dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros (CTB).

A Americanas, por sua vez, destacou a reunião realizada na quarta-feira (8), quando o acordo começou a ser costurado, na presença do Ministério Público do Trabalho, a Procuradoria Geral do Trabalho e o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, além de representantes dos trabalhadores e da varejista.

“Mais uma vez a Companhia informou que não iniciou nenhum processo de demissão em massa de funcionários e segue seu curso normal de operações. A Americanas também renovou seu compromisso de manter relacionamento próximo com os sindicatos e um diálogo produtivo e recorrente sobre questões trabalhistas, mesmo em situações não relacionadas ao processo de Recuperação Judicial”, disse a varejista em nota.

Como parte das negociações da varejista com os trabalhadores, todas as dispensas feitas pela empresa serão realizadas mediante homologação nos sindicatos. “As homologações feitas no sindicato, de forma presencial ou telepresencial, garantem aos trabalhadores o cumprimento dos seus direitos por parte da empresa”, afirma o sindicalista.

O sindicato, as centrais e as confederações concordaram também em realizar todas as homologações gratuitamente. E solicitaram ainda que a empresa informe os casos de sindicatos que se recusem a prestar assistência aos trabalhadores nas rescisões ou em que o trabalhador não tenha interesse em realizar o ato homologatório.

“O Sindicato dos Comerciários do Rio está com o departamento jurídico de plantão para orientar e realizar as homologações, sem custo. Também ficou acertado que seremos comunicados previamente sobre o funcionário que não desejar efetuar sua rescisão no sindicato. Neste caso, a empresa ficará liberada para proceder o trâmite no seu próprio âmbito”, disse Ayer.