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Alckmin diz que integração não se faz apenas com grandes gestos

O trecho do discurso pode ser associado às dificuldades em avançar com o acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia, que ficaram mais patentes esta semana.

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06 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Alckmin diz que integração não se faz apenas com grandes gestos
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, endossou na quarta-feira, 6, o papel de integração do Mercosul em discurso a representantes dos Países do bloco e disse que “integração não se faz apenas com grandes gestos e grandes acordos”. Ele é o representante do governo brasileiro no encontro que ocorre até quinta-feira, 7, no Rio de Janeiro.

O trecho do discurso pode ser associado às dificuldades em avançar com o acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia, que ficaram mais patentes esta semana.

Antes, havia uma expectativa do governo brasileiro de assinar o acordo ao fim da Cúpula, o que não vai acontecer.

“Em um momento de aparente fragmentação das relações internacionais, o caminho da integração continua a ser relevante O caminho da integração pode dar resultados concretos”, disse o vice-presidente.

Segundo Alckmin, a reunião dos países do bloco por si só indica a crença de que é possível aprofundar sua integração. “Podemos trabalhar para expandir o comércio e investimentos”, continuou.
Ele disse que a integração se faz, também, “no dia a dia, com avanços pontuais, que destravam barreiras e criam oportunidades”.

O vice-presidente reiterou a importância do bloco para o Brasil, ao dizer que seus países, juntos, representam o quarto parceiro comercial do País.

“Nossos parceiros no bloco são essenciais no projeto de neoindustrialização”, afirmou. Mas ponderou que o comércio intrabloco do Mercosul representa apenas 10% do seu comércio total, porcentual bem inferior ao de outros blocos como União Europeia (60%) e Asean (25%).

Em tom de recado aos pares da cúpula, Alckmin disse que, tão importante quanto “baixar tarifas e harmonizar padrões e sistemas” é “prover meios físicos para trocas comerciais”. Sobre isso, afirmou que é preciso avançar em infraestruturas como rodovias, hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos, além de intercâmbio energético e escoamento das produções.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, espera a assinatura do acordo do Mercosul com a União Europeia “muito em breve”. “Nossa expectativa é de poder assinar o Acordo de Associação muito em breve”, declarou Vieira em discurso durante Reunião do Conselho do Mercado Comum, no Rio de Janeiro
Vieira defendeu que o Acordo de Associação com a União Europeia “possui uma dimensão estratégica inequívoca” para o Mercosul, reforçando a identidade do bloco sul-americano “como um ator econômico global”.

“O Acordo será um ponto de inflexão não apenas na relação birregional como também na dinâmica econômica das duas regiões. Estamos lançando as bases de uma integração de cadeias produtivas nos dois lados, e nos dois sentidos. Há ganhos a serem obtidos pelas economias do Mercosul no mercado europeu, tanto para ampliar as exportações, como também para aquisição de tecnologias que deverão aprimorar a nossa competitividade”, argumentou Vieira.

Segundo ele, os negociadores atentaram para a necessidade de adaptar as economias do Mercosul ao novo contexto introduzido pelo acordo com o bloco europeu.

“A abertura comercial promovida pelo Acordo Mercosul-União Europeia foi concebida e negociada para dar a nossos atores econômicos o tempo necessário para preparar-se. Especialmente na etapa negociadora mais recente, tivemos o cuidado de ampliar as salvaguardas para a implementação dos compromissos assumidos no Acordo”, discursou o ministro brasileiro.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, era esperado no Rio de Janeiro na quarta-feira. Mas, de acordo com nota do ministério, ficou em Brasília, onde “se dedicará aos temas da agenda econômica ainda pendentes no Congresso Nacional”. Haddad retornou ao Brasil nesta madrugada, após viagens por países do Oriente Médio e Alemanha.

Além do tema UE, outra expectativa que cerca a reunião é a postura da Argentina em relação ao Mercosul. Esta é a última reunião do bloco antes da posse do presidente eleito Javier Milei, marcada para o domingo (10). Milei defendeu a saída da Argentina do bloco durante a campanha, mas recuou da ideia e passou a defender apenas mudanças. 

Chamou a atenção o fato de a Argentina não ter enviado ministros ao Rio de Janeiro. Está presente no encontro apenas a secretária de Relações Econômicas Internacionais do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Cecília Todesca Bocco.

Durante a reunião de cúpula, será assinado um acordo entre o Mercosul e Singapura. Será o primeiro tratado de livre comércio do Mercosul em mais de dez anos. “Porta de entrada para a Ásia. Essa integração fortalece os laços econômicos entre o Brasil, o Mercosul e a região asiática, criando oportunidades para maior diversificação das exportações e investimentos”, avaliou Geraldo Alckmin.

A programação do encontro entre as altas autoridades prevê ainda a assinatura de memorandos de entendimento com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e com a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).

Apesar de não constar na programação oficial, há uma expectativa de que líderes dos países do bloco se manifestem sobre a situação entre a Venezuela e Guiana, que disputam um território de fronteira. Na terça-feira (5), o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, determinou a criação de um estado na região disputada. 

Na agenda dos presidentes dos países-membros e associados do Mercosul consta o recebimento da carta final da Cúpula Social. O evento foi realizado no início desta semana com a participação de representantes da sociedade civil organizada. Havia sete anos que o encontro não era realizado de forma presencial. Na carta, movimentos sociais fazem uma série de recomendações aos líderes, como defesa do ambiente, combate à fome, dignidade para trabalhadores e políticas de direitos humanos.