Economia
Trajetória explosiva

Campos Neto reconhece esforço de Haddad e diz que arcabouço elimina risco sobre dívida

O presidente do BC, Campos Neto, voltou a ponderar, porém, que não existe relação mecânica entre fiscal e taxa de juros.

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05 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto reconhece esforço de Haddad e diz que arcabouço elimina risco sobre dívida
Em aceno de paz ao governo, Campos Neto disse reconhecer os esforços de ajuste das contas públicas

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira, 5, que a apresentação do novo arcabouço fiscal elimina o risco de trajetória explosiva da dívida pública. Em fórum do Bradesco BBI, Campos Neto disse reconhecer o “grande esforço” feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pelo governo.

“Reconhecemos o esforço. Vamos observar como será o processo de aprovação no Congresso. Mas para quem tinha esse risco de cauda precificado, de trajetória de dívida descoordenada, isso foi eliminado”, comentou o presidente do BC.

Ele voltou a ponderar, porém, que não existe relação mecânica entre fiscal e taxa de juros, ainda que exista atenção do BC sobre como as medidas anunciadas afetam as expectativas de inflação.

Em aceno de paz ao governo, o presidente do Banco Central disse reconhecer os esforços de ajuste das contas públicas e pediu parcimônia do mercado na cobrança por redução de despesas.

Durante o fórum do Bradesco BBI, Campos Neto lembrou do histórico de retrocessos nos ajustes fiscais tentados no País e observou que a redução das despesas obrigatórias só vem com reformas. Considerou, assim, injusta a cobrança de mais cortes de gastos.

“O ajuste das despesas obrigatórias vem com reformas, a mais longo prazo. Temos que dar mais credibilidade para o que o governo tem feito nesse sentido”, declarou Campos Neto.

Ele admitiu, por outro lado, que a mudança de governo pode ter estimulado um aumento de prêmio nos juros e apontou os efeitos do que chamou de “ruídos” no canal de expectativas, o que dificulta o trabalho do BC em conduzir a inflação para a meta.

“O canal de expectativas é importante e qualquer ruído faz o canal ficar entupido. Se o canal de expectativas entope, não se consegue trazer o longo prazo a valor presente”, assinalou Campos Neto.

Esses ruídos, continuou, também prejudicam o sistema de crédito, que no Brasil é 42% direcionado – ou seja, definido por bancos públicos. “O Brasil tem espaço de crédito livre inferior aos demais países”, comentou o presidente do BC.

O presidente do Banco Centralreconheceu os efeitos do aperto monetário sobre a atividade econômica, mas reiterou que a autoridade monetária vai perseguir as metas de inflação. Campos Neto afirmou que o BC tem procurado um equilíbrio entre os custos do combate à inflação e os de não combatê-la. Nesse sentido, disse que perseguir a meta já em 2023 nunca foi o objetivo, uma vez que demandaria juros muito altos.

Mesmo assim, observou mais de uma vez durante o evento que o preço de enfrentar a inflação é, no longo prazo, menor do que o de deixar os preços subirem descontroladamente para poupar a atividade econômica no curto prazo.

Campos Neto disse não ser verdade que a inflação seja só de oferta, sem relação com pressões vindas da demanda. Assim, deixou mais uma vez claro que a função do BC é combater efeitos secundários da inflação, citando a alta de preços dos serviços e dos núcleos ainda altos.

Em relação a usar como referência o núcleo, ao invés do IPCA cheio, nas decisões de política monetária, o presidente do BC avaliou que este é um debate técnico. Observou, no entanto, que, em países emergentes, o mais comum é dar maior peso à inflação cheia, mesmo quando os núcleos sejam observados.

Campos Neto minimizou também os estouros de meta da inflação nos últimos anos. “Países com inflação mais baixa furam metas tanto ou mais que o Brasil”, comparou o presidente do BC, acrescentando que não vê problemas com o sistema de metas de inflação no Brasil.

O presidente do Banco Central disse ainda que as crises bancárias têm origens diferentes nos Estados Unidos e Europa, porém convergem a um cenário de desaceleração de crédito em ambas as economias. “Implicação disso é que o crédito vai desacelerar. A gente imagina uma desaceleração de crédito grande na Europa e nos EUA”, declarou.

Nos EUA, observou o presidente do BC, o problema é de bancos regionais, cuja regulamentação é diferente e, citando o SVB como exemplo, a base de depositantes é concentrada e limitada, o que leva a uma fragilidade dessas instituições.

Já na Europa, continuou Campos Neto, o problema é diferente, relacionado à baixa rentabilidade dos bancos, com questionamento do mercado ao modelo de negócio. Apesar disso, Campos Neto considerou relativamente rápida a solução dada pela Suíça ao Credit Suisse.

Em relação às condições de crédito no Brasil, Campos Neto julgou que os bancos apontam desaceleração de crédito, porém sem enxergar uma crise. Os bancos, acrescentou, dizem que o problema no crédito é de oportunidades, sendo que o crescimento de 7,5% do crédito previsto no Brasil é compatível com resto do mundo.