Economia
Especulação

Lula admite preocupação com a subida do dólar

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atribuir a alta do dólar a uma “especulação contra o real”

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03 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Lula admite preocupação com a subida do dólar
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Caminhada do Dois de Julho, no Largo da Soledade. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atribuir a alta do dólar a uma “especulação contra o real”, após a moeda americana fechar na segunda-feira, dia 1º, a R$ 5,65, maior cotação desde 10 de janeiro de 2022. As declarações ocorreram em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA), na terça-feira, 2.
“É um absurdo. Veja, obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real neste País”, declarou.

Na sequência, Lula afirmou que volta a Brasília para uma reunião na quarta-feira, 3, “porque não é normal o que está acontecendo”. Segundo ele, o governo tem que agir em relação à situação sobre a suposta especulação contra o real.

“Nós temos que fazer alguma coisa. Eu não posso falar aqui o que é possível fazer, porque, se não, eu estaria alertando os meus adversários”, declarou Lula.

O real apresenta o pior desempenho entre seus pares latino-americanos. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou crer que o patamar de câmbio vá se acomodar e que a situação do dólar se reverta, à medida que os processos de decisão sobre gastos do governo forem concluídos.

O presidente criticou novamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na terça-feira, 2, ao comentar a alta do dólar. Lula afirmou que Campos Neto tem viés político e que esse perfil não deveria dirigir a instituição.

Na ocasião, Lula afirmou ainda que, quando o Banco Central estava sob o seu “domínio”, nos anos 2000, havia “autonomia”. “Eu acho que a minha visão sobre o Banco Central não é uma visão teórica, é uma visão de um presidente que teve um Banco Central sob o meu domínio durante oito anos e com total autonomia”, disse.

Lula voltou a defender a prerrogativa do presidente da República de indicar o dirigente do Banco Central. “A gente não indica essa pessoa para fazer o que a gente quer não, porque as empresas têm diretoria, as empresas têm conselho, e o Banco Central tem uma função”, disse.

Lula acrescentou: “agora, o que não dá é você ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político. Definitivamente, eu acho que ele tem viés político. Agora, veja, eu não posso fazer nada, porque ele é o presidente do Banco Central, ele tem um mandato, ele foi eleito pelo Senado, eu tenho que esperar ele terminar o mandato e indicar alguém”.

Lula voltou a dizer que acredita no Banco Central “funcionando de forma correta e com autonomia” e com um presidente que não esteja vulnerável a pressões políticas, mas salientou que a instituição “não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado”.

Lula também voltou a criticar a manutenção da taxa de juros a 10,50%, conforme decisão de 19 de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Me preocupo com a taxa de juros”, afirmou o presidente.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou na terça-feira, 2, que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, desencadeou um suposto ataque especulativo ao real e disse que a autoridade monetária “segue de braços cruzados”, sem fazer operações no mercado de câmbio para conter a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.

“Mais um dia de ataque especulativo ao Real e o BC segue de braços cruzados, sem fazer as operações de compra e swap necessárias nesse momento. Irresponsáveis! Aliás, o bolsonarista Campos Neto deve estar é aplaudindo o ataque que ele mesmo desencadeou, falando o que não podia sobre questões fiscais”, escreveu a dirigente partidária, em seu perfil no X (antigo Twitter).

Gleisi criticou a imprensa por atribuir a alta do dólar a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, garantiu que não há nada que o governo planeje fazer para conter a alta do dólar a não ser “acertar a comunicação” sobre a autonomia do BC e a “rigidez” do arcabouço fiscal.

Na manhã desta terça-feira, o dólar à vista se aproximou de R$ 5,70, após as falas de Lula, que também voltou a criticar Campos Neto e o nível da Selic, a taxa básica de juros da economia, em 10,5% ao ano. Já o presidente do BC disse que a interrupção do ciclo de corte nos juros ocorreu por causa de “ruídos” que aumentam as expectativas de inflação. Ele citou as incertezas relacionadas à sucessão no BC e também o risco fiscal no País.

Nesta segunda-feira, 1º, o dólar à vista fechou cotado a R$ 5,65, maior valor desde 10 de janeiro de 2022. A desvalorização do real ocorre em um ambiente externo desfavorável, com expectativa de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e incertezas sobre a corrida eleitoral americana.

Além disso, analistas do mercado financeiro apontam uma crise de confiança no governo Lula. Há ceticismo sobre o cumprimento do novo arcabouço fiscal, com a resistência do presidente em cortar gastos e o esgotamento das medidas de aumento de arrecadação.