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S&P rebaixa nota da França e questiona capacidade de cumprir meta fiscal

Classificação da dívida soberana da França, de “AA” para “AA-“, indica o “deterioramento da situação orçamentária” da segunda maior economia europeia.

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01 de junho de 2024
Vinicius Palermo
S&P rebaixa nota da França e questiona capacidade de cumprir meta fiscal
A S&P rebaixou a nota da França

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings rebaixou nesta sexta-feira (31), pela primeira vez desde 2013, a classificação da dívida soberana da França, de “AA” para “AA-“, indicando o “deterioramento da situação orçamentária” da segunda maior economia europeia.

“O rebaixamento reflete nossa projeção de que, contrariamente às nossas expectativas anteriores, a dívida pública francesa em relação ao PIB aumentará devido a déficits maiores que o esperado em 2023-2027”, indicou a empresa americana em uma análise de sua decisão final.

A França anunciou em março um déficit público em 2023 de 5,5% do PIB, em vez dos 4,9% esperados.
Essa situação leva a agência de classificação de risco a questionar a capacidade do governo de reduzir o déficit em 2027 para menos de 3% do PIB, o limite imposto pela Comissão Europeia.

A S&P prevê inclusive que o déficit chegue a 3,5% em 2027 e indica que, “sem medidas adicionais” para reduzi-lo, “as reformas não serão suficientes para permitir ao país alcançar seus objetivos fiscais”.

O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, reiterou, no entanto, que a meta será alcançada e explicou, em uma entrevista ao jornal Le Parisien, que o rebaixamento na classificação de risco se deveu aos esforços do governo que permitiram “salvar a economia francesa”.

“Nossa estratégia continua sendo a mesma: reindustrializar, alcançar o pleno emprego e manter nossa trajetória para ter um déficit inferior a 3% em 2027”, declarou o ministro.

Até agora, a França tinha uma classificação na S&P semelhante à de Bélgica e Reino Unido, embora sua dívida e seu déficit no ano passado fossem superiores aos desses dois países.

Um rebaixamento na classificação de risco pode provocar um movimento de desconfiança nos investidores, com o consequente aumento do serviço da dívida (as quantias desembolsadas para pagar os juros).

Nas condições atuais, o governo do presidente Emmanuel Macron prevê que as quantias destinadas a pagar esses juros aumentem em 2027 para 72,3 bilhões de euros (R$ 411 bilhões) – em comparação com 36,3 bilhões (R$ 206,3 bilhões) em 2022 – devido principalmente ao aumento das taxas de referência do Banco Central Europeu (BCE).

A S&P retirou da França em 2012 sua classificação máxima, “AAA”, da qual atualmente se beneficiam poucos países, incluindo Alemanha e Austrália.

As outras duas grandes agências internacionais, Moody’s e Fitch, mantiveram em abril a classificação da França, em “Aa2” no caso da primeira, um nível semelhante ao “AA” da S&P, e “AA-” na segunda, o equivalente a um degrau abaixo.

Grécia

A Fitch Ratings reafirmou a nota em moeda estrangeira de longo prazo da Grécia em BBB-, com perspectiva estável. O país, assim, mantém o grau de investimento, uma década após protagonizar a crise da dívida da zona do euro.

Segundo a agência, a avaliação reflete níveis de renda per capita e indicadores de governança elevados na comparação com pares. Mas a nação europeia ainda enfrenta endividamento elevado, vulnerabilidade no setor bancário e desemprego alto, diz a instituição.

A Fitch prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) grego crescerá 2,3% em 2024 e 2,4% em 2025, bem acima da média da zona do euro (1,1%). Ao mesmo tempo, o déficit fiscal cairá para 0,8% do PIB no ano que vem, de acordo com a análise.

“A Fitch vê um forte compromisso com a prudência fiscal, com os planos fiscais de médio prazo do governo ancorados em premissas conservadoras de receitas, num momento em que as autoridades estão avançando com reformas ambiciosas de aumento de receitas”, diz.