Economia
Recuperação judicial

Americanas teve prejuízo de R$ 1,621 bilhões no 3º trimestre

Nos nove primeiros meses de 2023, a Americanas acumulou prejuízo de R$ 4,611 bilhões, queda de 23,5%.

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26 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Americanas teve prejuízo de R$ 1,621 bilhões no 3º trimestre
Nos nove primeiros meses de 2023, a Americanas acumulou prejuízo de R$ 4,611 bilhões, queda de 23,5%.

A Americanas anunciou na segunda-feira, 26, os esperados números de 2023 da rede de varejo, após dois adiamentos. A empresa anunciou prejuízo de R$ 1,621 bilhão no terceiro trimestre, 17,8% menor do que a perda de R$ 1,972 bilhão um ano antes, número já corrigido em relação aos R$ 212 milhões de prejuízo que originalmente a empresa tinha anunciado.

Nos nove primeiros meses de 2023, a Americanas acumulou prejuízo de R$ 4,611 bilhões, queda de 23,5%. “O ano de 2023 foi, sem dúvida, o mais desafiador da história da Americanas, não só pela magnitude da fraude revelada, mas pela necessidade de reconstrução que se apresentou”, comenta a administração da rede de varejo no balanço.

O Ebitda (lucro antes dos impostos, juros e amortizações) ficou negativo em R$ 1,558 bilhão nos nove primeiros meses de 2023, perda 21,3% maior em um ano.

Com a descoberta do rombo, e a desconfiança em relação ao futuro da rede de varejo, as vendas da empresa, uma das maiores do Brasil, caíram. A venda bruta (GMV) foi de R$ 16,059 bilhões nos nove meses de 2023, queda de 51,1% em um ano.

No terceiro trimestre, a receita líquida somou R$ 3,261 bilhões, baixa de 39,2% ante igual período de 2022. No acumulado de nove meses, a receita ficou em R$ 10,293 bilhões, queda de 45%.

Um dos números mais esperados pelos analistas é o do endividamento da rede de varejo. No encerramento do terceiro trimestre de 2023, as dívidas líquidas somaram R$ 33,443 bilhões, um aumento de 10,6% na comparação com setembro de 2022. A dívida bruta somou R$ 38 bilhões. O endividamento, ainda em patamares altos, tem tendência de “relevante redução” com a execução do Plano de Recuperação Judicial, afirma a Americanas.

O caixa da empresa, que chegou quase a zerar logo depois da descoberta do rombo, encerrou setembro em R$ 4,929 bilhões, baixa de 49,5% em 12 meses. “Hoje já podemos dizer que superamos a fase mais crítica pela qual a Americanas passou”, afirma o comando da Americanas no balanço.

Nos nove primeiros meses de 2023, as receitas da Americanas caíram 45,1% em relação ao mesmo intervalo de 2022, para R$ 10,293 bilhões. Essa queda foi puxada pelos canais online da companhia, que viram a receita encolher 79,2% no mesmo período, para R$ 1,898 bilhão.

O segmento foi o mais abalado pela revelação das fraudes contábeis que levaram a companhia à recuperação judicial, em janeiro do ano passado. Como o valor médio dos produtos vendidos era mais alto, houve um choque de confiança: os consumidores passaram a temer que os produtos não fossem entregues, e os vendedores, que não fossem receber os repasses pelas vendas que fizeram.

No balanço divulgado na segunda-feira, 26, após alguns adiamentos, a Americanas afirma que criou um plano de comunicação para mostrar que a operação continuava normalmente, o que envolveu uma redução do prazo de repasse para os vendedores. No caso dos clientes, a empresa fez um esforço para manter estoques e o prazo das entregas.

A rede também mudou a estratégia do digital, passando do estoque próprio (o chamado 1P) para os dos parceiros do marketplace (o chamado 3P) algumas categorias de produto, em busca de rentabilidade. Com isso, as vendas com estoques de terceiros subiram de 51% do total do e-commerce nos nove primeiros meses de 2022 para 65% do total no mesmo intervalo do ano passado.

O varejo físico, que em 2022 era o de segunda maior representatividade na receita da Americanas, assumiu a liderança nos nove primeiros meses do ano passado, com receita líquida de R$ 7,251 bilhões, número 18,8% menor em um ano. Segundo a companhia, as vendas nas chamadas mesmas lojas (unidades abertas há mais de 12 meses) caíram 2,9% nos nove primeiros meses do ano passado, mas tiveram alta de 3,6% no terceiro trimestre.

Ao longo do ano, a Americanas fechou 99 lojas físicas no País, encerrando setembro com 1.764 unidades. O grupo afirma que mais de 70% das lojas fechadas estavam em cidades em que havia mais de uma loja. Além disso, a maior parte dos fechamentos se deu no Sudeste.

A receita líquida do Hortifruti Natural da Terra (HNT) caiu 7% entre os nove primeiros meses de 2022 e o mesmo período do ano passado, para R$ 1,359 bilhão. Na Ame, a fintech do grupo, a queda foi de 63,8%, para R$ 198 milhões. Na Uni.co, a baixa foi de 7,6%, para R$ 145 milhões.

A chamada venda bruta (GMV, na sigla em inglês) da Americanas foi de R$ 16,059 bilhões no período, baixa de 51,1% em um ano. No varejo físico, a queda foi de 4,4%, para R$ 9,275 bilhões, enquanto no digital, a redução foi de 77,1%, para R$ 4,801 bilhões.

A BDO, empresa que fez a auditoria dos balanços da Americanas referentes aos nove primeiros meses do ano passado, se absteve de emitir opinião sobre a fidedignidade das informações. Segundo a empresa, a recuperação judicial da rede e as várias incertezas relativas ao processo não permitiram que a auditoria reunisse os elementos necessários para emitir uma opinião.

“Não nos foi possível reunir evidência de auditoria apropriada e suficiente para concluir se a utilização do pressuposto de continuidade operacional é apropriada, nem tampouco quais seriam os efeitos sobre os saldos (individuais e consolidados) dos ativos, passivos e elementos componentes das informações contábeis intermediárias, individuais e consolidadas, do resultado, dos resultados abrangentes, das mutações do patrimônio líquido, dos fluxos de caixa e do valor adicionado (informação suplementar), caso as informações contábeis intermediárias, individuais e consolidadas, não fossem preparadas considerando esse pressuposto”, diz o relatório da BDO, assinado por Robinson Meira.

De acordo com ele, o teste de valor recuperável de ativos preparado pela administração da Americanas não atendeu plenamente ao pronunciamento técnico do CPC relativo a essa regra, o que gera reflexos sobre o balanço, porque não é possível utilizar premissas que não considerem as inconsistências geradas pelo cenário de fraude que levou a rede à recuperação judicial.

Meira também ressalta que a investigação do comitê independente sobre a fraude ainda está em curso, e que a BDO não teve acesso a relatórios e conclusões da investigação. Ele afirma que também há procedimentos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), investigações do Ministério Público Federal e da B3 relativas à fraude, o que inclui acordos de colaboração de ex-executivos.

Como essas investigações são sigilosas, a BDO também não teve acesso às suas conclusões, o que contribuiu para que a auditoria pudesse emitir uma opinião a respeito do balanço.

Outro ponto destacado no relatório é a auditoria da fintech Ame Digital, controlada pela Americanas, que não havia sido concluída até a emissão do documento pela auditoria. Por isso, os eventuais impactos de mudanças nos saldos de investimento da Americanas na Ame não puderam ser auditados.

A BDO também voltou a afirmar que há uma “incerteza relevante” quanto à continuidade das operações da Americanas à frente, diante da recuperação judicial. Essa é uma praxe em empresas que passam pelo processo, de acordo com especialistas.