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Galípolo admite que quadro fiscal segue sendo um desafio no Brasil

Durante participação em evento na capital paulista da Câmara Espanhola de Comércio no Brasil, Galípolo pontuou que a arrecadação tem surpreendido positivamente

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22 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo admite que quadro fiscal segue sendo um desafio no Brasil
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na quinta-feira, 22, que o quadro fiscal segue sendo um desafio no Brasil, mas o mercado pode reagir positivamente se a meta de zerar o déficit nas contas primárias não mudar ou mudar menos do que se espera. Da mesma forma, emendou, investidores tendem a reagir positivamente se o déficit primário for inferior ao previsto atualmente pelo mercado para o ano: 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Durante participação em evento na capital paulista da Câmara Espanhola de Comércio no Brasil, Galípolo pontuou que a arrecadação tem surpreendido positivamente, e manifestou confiança na revisão de gastos – o chamado “spending reviews” – trabalhada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. “Isso pode trazer surpresas positivas.”

O diretor do BC reafirmou que a perspectiva de o governo não cumprir a meta ao resultado primário já está relativamente precificada nos ativos financeiros.

Ele também disse mais uma vez que, em relação à política monetária, as discussões de mercado estão mais voltadas agora a qual será a taxa da Selic no fim do ciclo de flexibilização monetária. As indicações do BC de cortes de 0,5 ponto porcentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) esvaziaram, na avaliação de Galípolo, as discussões sobre o ritmo de redução dos juros.

A coerência entre as decisões do Copom e as sinalizações (guidances) dadas na comunicação contribuiu, conforme avaliou Galípolo, para ancorar expectativas e, assim, reduzir a volatilidade no mercado. “Sabemos o risco do guidance, mas por enquanto ele se pagou.”

Segundo o diretor de Política Monetária, a adoção de expressões como “parcimônia” na comunicação é uma forma de avisar que o BC não é movido por volatilidade. Ele assinalou ainda que não cabe ao BC discutir as justificativas apontadas pelo mercado à desancoragem das expectativas, mas sim buscar o cumprimento da meta de inflação.

O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou ainda que os impulsos fiscais que ajudaram no desempenho econômico acima das expectativas no ano passado não devem se repetir na mesma intensidade em 2024. Ainda assim, ele acredita que os estímulos do governo continuarão dando sustentação à atividade.

“Do ponto de vista do estímulo que o governo forneceu à economia em 2023, espera-se que seja um estímulo menor neste ano. Mas também permanece numa zona de sustentação da economia”, comentou Galípolo.

Ele citou o reforço do Bolsa Família e a nova política de reajustes do salário mínimo entre as iniciativas que, do ponto de vista estrutural, seguirão favorecendo a demanda.

Para Galípolo, a preocupação maior está em como dinamizar investimentos privados, retraídos por conta de incertezas internacionais e juros altos, visando ganhos de produtividade para o País ter um crescimento que se sustente ao longo do tempo.

Ele lembrou que a taxa da formação bruta de capital fixo mantém-se em nível relativamente baixo há um tempo “considerável”. “Esse é um ponto de preocupação e atenção”, frisou o diretor do BC.

Considerou, por outro lado, que o Brasil está em posição privilegiada para capturar oportunidades abertas pela reorganização das cadeias de produção, em razão, principalmente, das vantagens competitivas do País na transição energética.

O diretor avaliou que efeitos defasados dos juros, junto com a redução da safra agrícola, apontam para uma desaceleração da atividade econômica neste ano. Porém, ele considera que a perda de tração econômica representa uma situação mais conjuntural, já que forças estruturais seguem sustentando a demanda.

Entre as forças que geram resiliência do consumo, Galípolo citou a nova política de reajustes do salário mínimo e o reforço do Bolsa Família, além da contribuição positiva à renda vinda da queda da inflação e dos juros.

“Pode ter redução de crescimento conjuntural, mas com forças que apresentam resiliência do ponto de vista estrutural”, declarou.

Na avaliação de Galípolo, o setor externo pode contribuir menos ao crescimento, porém o saldo comercial, em especial a posição do Brasil de exportador líquido de petróleo, segue favorecendo uma situação privilegiada das contas externas no enfrentamento de choques internacionais, se comparada ao quadro de três ou quatro décadas atrás.

O ponto de maior atenção, pontuou o diretor do BC, está no baixo nível, já há anos, dos investimentos, que refletem as incertezas do cenário internacional e também os efeitos do ciclo anterior de aperto monetário.

Apesar disso, Galípolo considerou que, em meio à reorganização das cadeias de produção, o Brasil, por suas vantagens comparativas na transição energética, está em situação privilegiada para atrair investimento, aumentar seu estoque de capital fixo e ganhar produtividade.

Em paralelo, Galípolo voltou a dizer que o diferencial da Selic frente aos juros dos Estados Unidos, ainda que em patamar historicamente baixo, segue atrativo na comparação com outras alternativas de investimento em mercados emergentes, permitindo uma menor volatilidade do câmbio.

O diretor do BC observou que US$ 6 trilhões tendem a sair dos Estados Unidos quando o país começar a cortar seus juros. “Cabe ao Brasil se apresentar como uma oportunidade atrativa”, salientou Galípolo. “Mesmo se o cenário internacional ficar mais adverso, o Brasil fica mais interessante frente a seus pares. Se não temos muita coragem de dizer que o pior já passou, estamos mais confiantes em dizer que estamos em situação melhor do que estávamos e se imaginava no passado”, concluiu.