Economia
Juros altos

Galípolo diz que Brasil é grande candidato na disputa pelos investimentos globais

O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, observou que o banco observa o que está acontecendo em economias emergentes.

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17 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo diz que Brasil é grande candidato na disputa pelos investimentos globais

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta sexta-feira que o Brasil é grande candidato na disputa pelos investimentos globais, levando em conta o cenário que se avizinha, de corte de juros tanto nos Estados Unidos quanto em economias emergentes, somado à diminuição da exposição à China nos portfólios de investidores e ativos mais caros na Índia.

“Se tivermos sorte e apresentarmos bom comportamento da política econômica, o Brasil pode se apresentar como caso de eleição para atração de investimentos”, comentou o diretor do BC, durante participação em live da Bradesco Asset.

Galípolo observou que, ainda que as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sejam o principal “farol do mundo” na precificação de ativos financeiros globais, o BC também observa o que está acontecendo em economias emergentes. Nesse ponto, ele destacou que os cortes de juros em países que disputam investimentos com o Brasil favorecem a atratividade dos títulos de renda fixa brasileiros.

Após atrair investimentos nos últimos anos, em especial “real money” pela reorganização das cadeias de produção, a Índia, pontuou Galípolo, ficou bastante cara, ao passo que, na China, investidores vêm diminuindo as alocações de capital.

Ao destacar ainda o bom comportamento do real, mesmo diante da volatilidade forte dos Treasuries no segundo semestre do ano passado, Galípolo afirmou durante a live que a volatilidade cambial diminuiu.
Assim, emendou, pela primeira vez em 25 anos e mesmo com o fechamento no diferencial de juros, não foi necessária uma intervenção adicional do BC no câmbio em 2023.

A transição ecológica tem ganhado relevância no Brasil e no mundo, na visão do diretor de Política Monetária do Banco Central. Na live realizada pela Bradesco Asset, ele disse que este é um tema a se observar agora junto com outros igualmente importantes para a tomada de decisão sobre juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Entre os itens citados pelo economista estão a política monetária dos Estados Unidos, o comportamento de outros países emergentes, o resultado da balança comercial doméstica e tensões geopolíticas.

“É preciso ver como a gente vai se apresentar como um polo de atração de investimentos num mundo em que a transição ecológica parece ter relevância cada vez maior para as sociedades – o que vejo como um ponto benéfico, positivo”, comentou Galípolo.

A decisão de dar sinalizações sobre o rumo da política monetária é uma atividade de alto risco, pode cobrar um preço num eventual momento de retirada, mas até agora se mostrou acertada.. “Sempre brinco que forward guidance é um esporte de alto risco para autoridades monetárias de economias emergentes, pois tem um custo, é arriscada, mas até agora é possível dizer que ela se pagou”, argumentou.

Na avaliação do diretor, por meio da comunicação do BC e da transparência que acompanha o forward guidance, houve a colaboração para um cenário de menor volatilidade e para uma ancoragem tanto das expectativas da pesquisa Focus quanto na curva de juros do mercado.

“Isso colaborou num período de tanta volatilidade, com questões externas e por outras questões aqui de incerteza”, disse ele, repetindo se tratar de uma estratégia que “valeu a pena”.

Durante live realizada pela Bradesco Asset para debater os rumos da política monetária brasileira, Galípolo ponderou que, no momento que for necessário retirar o uso do instrumento, pode-se pagar um preço.

“Verdade, isso pode acontecer, mas se a gente tiver alguma sorte, pode ter também uma ferramenta adicional do ponto de vista da comunicação da política monetária”, afirmou Galípolo, em conversa conduzida pelo economista-chefe da Bradesco Asset, Marcelo Toledo.

O diretor comentou que o BC se aproveitou do ritmo encontrado (para afrouxamento da política monetária) para ir ajustando a atuação e ganhando tempo para acompanhar os desdobramentos e reações da economia.

Ele citou o mês de março como um ponto relevante sobre as perspectivas para a política monetária norte-americana, a discussão sobre como seria o comportamento fiscal para 2024 e como isso pode afetar as expectativas e a inflação corrente e um Copom subsidiado por três medidas de IPCA.

“Existe um guidance, mas é muito importante a gente lembrar que é preciso se confirmar o cenário, ou seja, acima do guidance, estamos ‘data dependents’. Este é o Norte realmente da política monetária”, afirmou.

O diretor de Política Monetária do Banco Central enfatizou ainda que as revisões de preços e das expectativas têm sido positivas para 2024 e para a taxa terminal de juros. “Isso reforça uma ideia de que a estratégia de comunicação pode estar indo em um bom caminho”, afirmou.

Segundo ele, essa avaliação inibe um pouco a ideia de mudar a forma com que o BC vem apresentando suas análises. “O fato de a discussão no BC não ter se engajado em sinalizar sobre o que era terminal acho que deslocou um pouco o debate, menos sobre o ritmo e mais sobre o que é terminal. Obviamente essa correlação interessa à autoridade monetária”, disse.

Galípolo afirmou ser comum que, nos períodos entre o primeiro trimestre e o meio de cada ano, os modelos sejam revisitados e se apresentem estimativas para horizontes mais longos. Isso ocorre, de acordo com o diretor, como fruto da colheita de dados que estão chegando “um pouco mais quentes”.
“A gente tem analisado como eventualmente dados de inflação corrente podem ensejar alterações nas expectativas de inflação que ainda seguem parcialmente ancoradas”, disse.

A meta de inflação é de 3% e as projeções giram na casa de 3,50% “Há de se observar como isso (as revisões) há de se comportar à luz de todas as outras coisas”, afirmou.