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Ibovespa inicia novo mês em alta de 0,57%

A incerteza sobre bancos regionais americanos acabou resultando em enfraquecimento global do dólar e demanda por Treasuries – aqui, a moeda à vista cedeu 0,44%, a R$ 4,9156, nesta quinta-feira.

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02 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Ibovespa inicia novo mês em alta de 0,57%
Conhecidas as decisões e orientações mais aguardadas desta virada para fevereiro, o Ibovespa contou com o bom apoio de Petrobras (ON +1,90%, PN +2,77%)

O Ibovespa iniciou fevereiro em alta de 0,57%, aos 128.481,02 pontos, em máxima do dia que coincidiu com o fechamento da sessão. Ainda assim, acompanhou nesta quinta-feira à alguma distância o avanço de Nova York que, após certa volatilidade no começo da tarde ante a retomada de dúvidas sobre bancos regionais nos EUA, firmou-se no positivo, mostrando ganhos que chegaram a 1,25% (S&P 500) e 1,30% (Nasdaq) no encerramento.

A incerteza sobre bancos regionais americanos acabou resultando em enfraquecimento global do dólar e demanda por Treasuries – aqui, a moeda à vista cedeu 0,44%, a R$ 4,9156, nesta quinta-feira.

Notadamente no começo da tarde – quando o Ibovespa renovou mínima da sessão a 127.283,98 pontos, acompanhando então a piora de sentimento em NY, com os índices de ações por lá também nos respectivos pisos do dia -, o movimento no câmbio respondeu ao enfraquecimento dos rendimentos dos Treasuries: o qual, por sua vez, refletiu as preocupações sobre os bancos regionais americanos, na esteira de balanço do New York Community Bancorp que resultou em busca por proteção nos títulos americanos – ativos, por excelência, considerados livres de risco.

A agência de classificação de risco de crédito Moody’s colocou o rating do New York Community Bancorp em revisão para possível rebaixamento, após o banco divulgar balanço – com queda significativa na capitalização, perdas “inesperadas” com escritórios e imóveis multifamiliares, e elevada bem como crescente dependência de financiamento, explicou a Moody’s em comunicado.

No quadro mais amplo, passada a manutenção da taxa de juros de referência dos EUA na faixa de 5,25% a 5,50% e também o corte da Selic, de 11,75% para 11,25% ao ano, ambos conforme esperado, os investidores ponderam a direção da política monetária e o diferencial de juros. A expectativa é de que o Copom siga reduzindo a taxa brasileira em meio ponto porcentual nas “próximas reuniões” e que o Fed deverá segurar a taxa americana onde está ao menos até maio – encerrando, ao menos no momento, a discussão de mercado sobre eventual antecipação para março.

No comunicado do Copom na noite de quarta-feira, “não houve sinalização de flexibilização do forward guidance referência para o que será feito à frente. Em reunião fechada com o mercado, o Galípolo Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC tinha falado que haveria um custo de saída do forward guidance e que deveria ser sinalizado com antecedência. A ausência de tal sinalização no comunicado tende a indicar manutenção do plural também no próximo Copom, em março”, aponta Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos.

“Há sincronia entre o Copom e os comitês monetários do Fed e de outros BCs de países desenvolvidos, este é um ponto de destaque. Prevalece ainda a cautela apesar de bons indicadores na economia e de uma queda até surpreendente no ritmo da inflação. E o Fed sinalizou claramente isso ontem, até frustrando os mercados quando Jerome Powell presidente do BC americano afirmou ser improvável corte de juros na próxima reunião, em março”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

“Pelo menos para as próximas duas reuniões na prática, ao que se refere o Copom na menção à manutenção de ritmo nas “próximas reuniões” estão contratadas mais duas reduções da Selic em meio ponto porcentual, o que colocaria a Selic a 10,25% ao ano. Daí para frente será importante esperar e ver o que o Fed fará, fator essencial para saber se haverá manutenção de ritmo ou aceleração no Brasil”, diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.

Conhecidas as decisões e orientações mais aguardadas desta virada para fevereiro, o Ibovespa contou hoje com o bom apoio de Petrobras (ON +1,90%, PN +2,77%) – mesmo com o sinal negativo do petróleo na sessão, em queda superior a 2% – e de parte dos grandes bancos (BB ON +2,29%, Santander Unit +1,68%) para avançar na abertura do novo mês, vindo de perda de 4,79% em janeiro – a pior abertura de ano desde 2016, e também a maior perda mensal para o índice da B3 desde agosto passado.

A principal ação do Ibovespa, Vale ON, mantém ainda o sinal que prevaleceu em janeiro, quando acumulou perda de 12,23% – hoje, caiu 0,46%, em recuo semelhante ao do contrato de minério de ferro mais negociado em Dalian (China), que cedeu 0,36%, a US$ 135,04 por tonelada, no vencimento para maio de 2024.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta abertura de fevereiro, destaque para Pão de Açúcar (+6,91%), CVC (+5,15%) e Carrefour Brasil (+3,36%), logo à frente de Petrobras PN. No lado oposto, Casas Bahia (-2,92%), 3R Petroleum (-2,45%) e Marfrig (-2,23%). Na sessão de hoje, o Ibovespa saiu de abertura a 127.752,28 pontos e, após ter subido ontem para a faixa de R$ 27 bilhões, o giro financeiro caiu um pouco nesta quinta-feira, a R$ 23,8 bilhões.

Dólar

Após abrir os negócios em alta e correr até R$ 4,96, o dólar à vista começou a perder força no fim da manhã e se firmou em baixa no início da tarde, em meio ao enfraquecimento da moeda americana no exterior e o recuo das taxas dos Treasuries. Com mínima a R$ 4,9126, a moeda encerrou o dia em queda de 0,44%, cotada a R$ 4,9156. O real apresentou o melhor desempenho entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, seguido de perto por seu principal par, o peso mexicano.

Sem surpresas no comunicado de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) – que cortou a Selic em 0,50 ponto, para 11,25%, e manteve a perspectiva de novas reduções de igual magnitude em suas próximas reuniões -, os negócios no mercado de câmbio doméstico foram mais uma vez guiados pelo comportamento dos ativos no exterior.

O Fed anunciou manutenção da taxa de juros na faixa entre 5,25% e 5,50%. Embora reconheça progressos no combate à inflação, o BC americano pontuou que a economia dos EUA cresce em ritmo sólido e que ainda precisa ter mais confiança no processo de desinflação para começar a reduzir os juros.

Por aqui, o Banco Central informou, à tarde, que o fluxo cambial foi positivo em US$ 1,509 bilhão na semana passada (entre 22 a 26 de janeiro), em razão, sobretudo, da entrada líquida de US$ 1,364 bilhão pelo canal financeiro. Em janeiro, até o dia 26, o saldo foi positivo em US$ 6,355 bilhões, com aportes líquidos de US$ 3,766 bilhões via canal financeiro e de US$ 2,589 bilhões pelo comércio exterior. Em dezembro, houve saída líquida total de US$ 12,997 bilhões.

Juros

Os juros futuros fecharam esta primeira sessão de fevereiro com viés de queda. Embora o comunicado do Copom não tenha trazido novidades em relação ao anterior, de dezembro, o texto reforçou a confiança do mercado no processo de distensão monetária.

O sinal de baixa dos rendimentos dos Treasuries e do dólar serviu de referência para a curva local, reforçadas as perspectivas de cortes nos juros também no exterior, ainda que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tenha ontem minimizado a chance de uma redução em março.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 9,930%, de 9,953% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 9,63% para 9,61%. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 9,75% (9,78% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 caiu de 10,22% para 10,19%.
A agenda e o noticiário esvaziados no Brasil e o Copom dentro do esperado deixaram o mercado doméstico hoje mais refém do exterior.

Nos Treasuries, a trajetória baixista foi definida ainda pela manhã, após alta inesperada dos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, nesta véspera de divulgação do payroll de janeiro.

No começo da tarde, os rendimentos aceleraram o recuo e tocaram mínimas, refletindo a possibilidade de uma crise dos bancos regionais nos Estados Unidos expostos ao setor imobiliário, decorrente do aperto monetário do Fed, após o New York Community Bancorp (NYCB) registrar inesperado prejuízo no quarto trimestre.

As taxas aqui acompanharam e também tocaram as mínimas do dia. O yield da T-Note de dez anos desceu até os 3,82%, mas no fim da tarde estacou em 3,85% (3,95% ontem.