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Ibovespa inicia semana em baixa de 0,81%, aos 126,6 mil pontos

Na B3, o giro desta segunda-feira se limitou a R$ 18,6 bilhões, em sessão na qual o Ibovespa oscilou dos 125.875,65 aos 127.842,59 pontos

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23 de janeiro de 2024
Vinicius Palermo
Ibovespa inicia semana em baixa de 0,81%, aos 126,6 mil pontos
A perda do Ibovespa na sessão não foi maior porque Petrobras conseguiu avançar 0,23% (ON) e 0,45% (PN),

Ainda descolado do sinal positivo em Nova York, e hoje conectado à retomada de incertezas sobre a trajetória fiscal doméstica – com o lançamento de “nova política industrial” do governo baseada no BNDES, o que reaviva lembrança de iniciativas do passado recente -, o Ibovespa começou a semana de ré, em queda de 0,81%, aos 126.601,55 pontos, ainda no menor nível de encerramento desde 12 de dezembro. Em NY, onde os três principais índices vêm de ganhos na semana passada, a alta ficou entre 0,22% (S&P 500) e 0,36% (Dow Jones) nesta segunda-feira.

Na B3, o giro desta segunda-feira se limitou a R$ 18,6 bilhões, em sessão na qual o Ibovespa oscilou dos 125.875,65 aos 127.842,59 pontos, saindo de abertura aos 127.636,32 – com o pêndulo tendo variado mais para baixo do que para cima ao longo do dia, estendendo a correção do ano. Nas últimas cinco sessões, o Ibovespa caiu em quatro e subiu apenas na da sexta-feira, 19. Assim, em janeiro, cede agora 5,65%.

A perda do Ibovespa na sessão não foi maior porque Petrobras conseguiu avançar 0,23% (ON) e 0,45% (PN), acompanhando ao longe o ganho em torno de 2% para o petróleo na sessão, que recolocou o Brent a US$ 80 por barril.

Vale ON caiu 0,44% e a queda entre os grandes bancos chegou a 1,64% (Itaú PN) no fechamento – exceção para Santander (Unit +0,13%) no fim do dia. Na ponta ganhadora, destaque para BRF (+4,92%), Cielo (+3,12%) e Embraer (+1,97%). No lado oposto, Hapvida (-5,72%), Lojas Renner (-5,44%, refletindo rebaixamento da recomendação do Citi, de ‘compra’ para ‘neutra’) e Assaí (-4,83%).

Além de Renner e Assaí, outras ações do setor de varejo e consumo fecharam o dia em baixa, em reação a ajuste na curva de juros futuros derivado da retomada de temores sobre a situação fiscal: o índice de consumo, exposto ao ciclo doméstico, cedeu 1,60%, em variação bem superior à registrada no de materiais básicos (-0,84%), que reúne as ações de commodities, correlacionadas à demanda e preços externos.

A piora na percepção fiscal também resultou em uma “acelerada” na curva de juros doméstica nesta segunda-feira. “A questão fiscal afeta no curto prazo, mas a dinâmica das commodities tende a exercer papel maior na precificação do Ibovespa – seja no sentido de recuperação ou de correção adicional do índice, por realinhamento de preços das matérias-primas”, diz o operador da Manchester.

No front fiscal, pela manhã, o governo anunciou que o BNDES vai mobilizar cerca de R$ 250 bilhões para projetos de “neoindustrialização” até 2026. Esses recursos integram o total de R$ 300 bilhões previsto para o plano Mais Produção, gerido pelo BNDES, pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Juros

Os juros futuros fecharam o dia em alta, com exceção das taxas curtas que terminaram com viés de baixa. A piora na percepção sobre o cenário fiscal, que se instalou ainda pela manhã, conduziu as taxas de médio e longo prazos até o fechamento da sessão, fazendo com que a curva local se descolasse do ambiente de otimismo moderado no exterior. Repercutiram negativamente as notícias sobre a falta de acordo entre a equipe econômica e o Legislativo na questão da reoneração da folha de pagamentos e o anúncio da nova política industrial do governo, que prevê R$ 300 bilhões até 2026 para estimular o setor.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,070%, de 10,114% no ajuste da sexta-feira, e a do DI para janeiro 2026, em 9,78%, de 9,76% na sexta-feira. O DI para janeiro de 2027 terminou ou com taxa de 9,96% (9,89% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,32% para 10,39%.

O recuo nos yields dos Treasuries e a bem-sucedida captação externa do Tesouro – no valor de US$ 4,5 bilhões – em tese dariam espaço para um fechamento das taxas, mas o mercado se voltou para o noticiário fiscal negativo nesta segunda-feira. Após oscilarem perto da estabilidade em boa parte da manhã, os juros passaram a subir ao final do período após o governo anunciar os R$ 300 bilhões para a reindustrialização do País. A maior parte dos recursos, R$ 250 bilhões, virá do BNDES.

O presidente do banco, Aloizio Mercadante, argumentou que não há como “reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre o Estado e o mercado” e que a transição para economia verde depende da participação do Estado.

O gerente de renda fixa e distribuição de fundos da Nova Futura Investimentos, André Alírio, explicou que, teoricamente, o BNDES tem várias opções de instrumentos para viabilizar a política industrial sem necessariamente sobrecarregar o Tesouro, “mas num ambiente pesado como o de hoje este tipo de notícia ajuda a pressionar a formação de preços”.

A intervenção estatal na economia para alavancar o crescimento sempre foi malvista pelo mercado, dado que historicamente afeta a dívida pública, o que, por sua vez, acaba resultando em juros mais altos. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, escreveu na rede social X (antigo Twitter) que o problema do custo do crédito para a indústria é o mesmo para todos os setores. “Não há subsídio que resolva, o governo precisa focar em reduzir o custo da dívida pública, que é a referência para o crédito, principalmente de longo prazo. Dar mais subsídios de crédito para um setor significa juros mais altos para os demais”, disse.

Dólar

O risco fiscal voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico neste início de semana e levou o dólar a se aproximar novamente do nível de R$ 5,00. Plano do governo Lula de incentivo à indústria da ordem de R$ 300 bilhões, dos quais R$ 250 bilhões via BNDES, avivou temores da volta dos chamados incentivos parafiscais e de piora das contas públicas.

Analistas ouvidos pelo Broadcast chamam a atenção para o fato de o lançamento da nova política industrial ocorrer justamente no momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, encontra obstáculos na agenda de recomposição de receitas – o que faz o cumprimento da meta fiscal de déficit primário zero neste ano parecer cada vez menos factível.

O desconforto com o quadro doméstico era patente já pela manhã. O dólar abriu em alta e superou o nível de R$ 4,95 ainda na primeira etapa de negócios, mesmo com sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Ao longo da tarde, quando o dólar passou a subir na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, a divisa renovou sucessivas máximas, alcançando no pico R$ 4,9925.

No fim do dia, o dólar à vista subia 1,23%, cotado a R$ 4,9873 – maior valor de fechamento desde o dia 31 de outubro de 2023 (R$ 5,0414). Com a arrancada, a moeda passa a acumular valorização de 2,76% em janeiro. A liquidez foi forte para uma segunda-feira, com o contrato de dólar futuro para fevereiro – principal termômetro do apetite por negócios – movimentando mais de US$ 13 bilhões.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o real perdeu bem mais que moedas pares e de exportadores de commodities, como peso mexicano e os dólares australiano e canadense. “Esse pacote de incentivos à indústria da ordem de R$ 300 bi com uso do BNDES traz preocupação com o parafiscal”, afirma Weigt, ressaltando que a notícia pegou o mercado em uma posição técnica mais frágil, com muitos fundos locais vendidos em dólar, o que deve ter provocado uma onda de ordens para zeragem de posições e limitação de perdas (stop loss).